As dez dúvidas que surgem com frequência sobre sequência de histórias - 05/03/2012
Para Além do Cuidar
Partilho
alguns apontamentos em forma de perguntas com o
objetivo de esclarecer possíveis dúvidas.
Perguntas implícitas nas falas e nos
planos dos professores no trabalho com sequência de leitura
de histórias.
1- Qual a importância
dos clássicos no trabalho com sequência de
histórias?
Dependendo do que o professor quer ensinar para as crianças,
ele precisa decidir
qual sequência irá realizar.
No caso, ele precisa saber se quer que as crianças
conheçam os clássicos por
serem da escrita universal com estilo linguístico
próprio e uma fonte eterna de
imaginação (o professor, nesse caso,
terá de escolher os clássicos) ou se quer
que elas conheçam as versões a partir de uma
história original (para isso, terá
de planejar leituras de diferentes versões) ou, ainda, se
quer que eles
conheçam histórias de um determinado autor, e
assim por diante.
Na educação infantil, o nosso maior objetivo
é que as crianças gostem de
participar da leitura de histórias e se interessem por elas,
aproximando-se da
língua escrita e desenvolvendo comportamentos leitores.
Realizamos sequências de histórias porque
é uma forma de envolver as crianças
em várias aprendizagens e vivências de maneiras
mais significativas.
Nota: Ler os clássicos é importante, pois
aproxima as crianças do legado
cultural da humanidade, dá oportunidade a elas de conhecerem
e participarem da
cultura da qual fazem parte.
Contudo, isso não quer dizer que os contos modernos
não sejam interessantes.
2- Posso realizar uma
sequência de leitura de histórias e a partir dela
realizar atividades?
Sim. Porém, não podemos nos esquecer de que a
leitura, por si só, é um Fim,
mas, também pode ser um meio provocativo para diversas
vivências e aprendizagens.
Devemos tomar o cuidado em atrelar a leitura sempre a uma atividade,
ainda mais
se ela for apenas um mero passatempo, com poucos desafios e
aprendizagens, pois
acaba gerando um comportamento de repulsa e não de prazer e
curiosidade.
Podemos planejar uma sequência só de leitura de
histórias e não realizar
atividades, isso vai depender do objetivo do professor ao propor este
trabalho.
Nota: Atenção especial às atividades
em que atribuímos como sendo voltadas às
experiências artísticas que, na sua maioria,
são apenas reproduções ou com
finalidade decorativa para exposição.
A leitura pode ser um dos caminhos para aprendizagens interessantes
que, por
meio de aproximações sucessivas de contextos
bem-planejados, as crianças vão se
apropriando de novos conhecimentos e ampliando seus saberes.
Um plano bem-elaborado e o professor mediando as
realizações infantis com
desafios possíveis e estimuladores contribuirão
para várias aprendizagens.
3- Quais os cuidados para a
realização de um trabalho com sequência?
• Saber selecionar bons textos.
• Fazer a leitura antecipada das histórias (e ler
com fluência para as
crianças).
• Garantir os 4 eixos da educação
infantil: interações (criança x
criança;
criança x adulto e criança x objeto), materiais,
tempo e espaço.
• Decidir qual será a modalidade organizativa:
sequência didática ou projeto.
• Planejar (antes do fazer-elaborar o plano).
4- O que deve compor um plano?
Sugestão:
Nome da escola:
Professor responsável:
Faixa etária e estágio:
Será uma Sequência didática ou Projeto?
Essa é uma decisão do professor.
Título: (Ex.: Três Porquinhos e suas
versões, histórias de bruxa, histórias
da
Ruth Rocha etc.).
Objetivos:
Etapas: (sequência de atividades).
• Como espaço, tempo,
interações e materiais se apresentam nas
atividades
planejadas?
Como o momento da leitura está organizado?
O que as crianças podem aprender?
Tempo de realização/duração:
Produto compartilhado com as crianças (se for projeto):
Bibliografia:
• Quais títulos serão utilizados. O
critério não é a quantidade, mas a
qualidade do texto.
Quanto à escolha de outros portadores e
gêneros de texto, todos devem
seguir o mesmo critério.
Avaliação: formas de registro do trabalho para
análise.
5- Qual a importância
do registro?
Ele é um instrumento importante para reflexão,
avaliação e redimensionamento
das ações.
É necessário decidir quais observáveis
serão usadas: foto, filmagem, gravação
ou o registro escrito.
O material produzido será de grande
contribuição nos momentos de
formação
(coordenador- pedagógico e professores) para partilhar
saberes, refletir sobre
a prática avançando os conhecimentos
teóricos e metodológicos
(Ação x Reflexão
e Ação).
As atividades/produções infantis
também são importantes como instrumento de
avaliação.
6- Devemos utilizar
histórias com o pretexto de trabalhar conteúdos?
Quando planejamos uma sequência (mesmo que seja ela
só de leitura sem
atividades), vários conteúdos estão
implícitos.
Sejam eles atitudinais (no desenvolvimento do comportamento de leitor e
de
outros valores), conceituais (a ideia sobre algo pode ser ampliada e
até mesmo
registrada pela escrita, contribuindo para a compreensão de
outros conceitos
etc.) ou procedimentais (como ler e contar, manusear um livro ou um
jornal e,
ainda, nas atividades realizadas muitas habilidades são
desenvolvidas).
Na verdade, esses conteúdos estão interligados,
ou seja, acontecem
simultaneamente.
O importante é não reduzirmos nossas escolhas a
finalidades que estimulem
apenas o desenvolvimento de apenas uma linguagem ou tentar ampliar,
perdendo-se
do foco.
Por isso, sempre retomo a questão inicial: Aonde queremos
chegar? Qual é o
nosso objetivo?
Outro cuidado é o de usar a leitura com a finalidade de
catequizar ou doutrinar
as crianças com valores morais que julgamos corretos.
Os livros de fábulas são os mais utilizados para
este fim.
A moral da história está bem-definida nesse texto
e, se resolvermos fazer uma
roda de conversa, é preciso saber como lidar com estas
questões morais para não
impormos e nem bagunçar a cabeça das
crianças, já que estão na
“fase da
heteronomia” e um dos objetivos da
educação é a
constituição do sujeito
autônomo a partir da infância.
Se o professor souber mediar essas questões numa roda de
conversa, aí sim pode
ser um bom momento para as crianças tentarem conversar sobre
as questões
morais, os valores que estão presentes na sociedade e
começarem a aprender a
fazer sua escolha moral.
7- Sempre que leio devo
realizar roda de conversa?
O professor decide em que momento da etapa desse trabalho
fará a leitura
e a roda de conversa, pois posso ler e decidir não fazer
roda de conversa.
As rodas de leitura e manuseio (ling. escrita),
contação e conversa (ling. oral)
presentes na linguagem verbal podem aparecer nesse trabalho dependendo
do
objetivo do professor, porém o trabalho deve priorizar a
leitura.
Exemplos interessantes:
•Organizar cantos somente com os títulos
que estamos lendo.
• Propor a contação da
história (pelo professor e pela criança), e assim
por
diante.
8- Quem decide a
sequência de leitura a ser realizada?
É importante conhecermos as preferências, as
necessidades e os saberes das
crianças, mas é o professor quem decide quais
leituras e a modalidade
organizativa.
É verdade que no projeto a
participação das crianças é
muito maior, já que
a sua duração e dinâmica enriquecem o
desenvolvimento das ações.
9- Quais são as
sequências de leituras que podemos realizar?
Seguem algumas sugestões que devem ser levadas em
consideração a partir das
crianças e do objetivo do professor.
Sequências:
• De diferentes versões (a partir do original
apresentar outras versões).
• Por autor.
• Por temas (bichos, lobos, príncipes, bruxas,
histórias de deserto, amizade,
família, saudade etc.).
• Por coleções (ex.: Quem tem Medo...,
bruxa Onilda..., Menino Maluquinho e
etc.)
• De lugares: regiões, países, tempos...
• Contos, lendas, clássicos...
• Gênero: poesia, cordel, música...
É necessário que o professor
conheça o material e selecione bons textos,
tendo boas ilustrações (caso o texto
ofereça).
Numa sequência de leitura de histórias, em
especial num projeto, existe a
possibilidade maior de o professor oferecer outros portadores de texto,
tais como:
informações da internet, jornal, livro
científico, revistas, catálogos etc.
A utilização de filmes nesse trabalho deve seguir
os mesmos cuidados da seleção
dos textos: bons filmes.
Pode-se fazer a escolha de um trecho do filme caso seja longo, tomando
cuidado
de contextualizar para as crianças e depois estabelecer
relação com as leituras
realizadas.
Os filmes infantis são os mais comuns, porém
outros gêneros (informativo) podem
compor o trabalho, devendo considerar a faixa etária sem
menosprezar a
capacidade de compreensão das crianças.
10- Lembretes diversos:
• Escolha o melhor momento da rotina para leitura.
• Valorize os espaços da unidade educacional para
que a leitura aconteça. O
parque e o pátio são locais interessantes, mas
é preciso tomar cuidado para que
esteja organizado e seja convidativo para o propósito: a
leitura.
• Para as crianças pequenas, é
interessante e importante ler mais de uma vez o
mesmo título.
• Histórias mais longas podem ser lidas por
capítulos. O professor também pode
começar pelos textos mais curtos e depois propor o mais
longo. Cada turma tem a
sua característica, então, isso deve ser
considerado.
• As brincadeiras são bem-vindas numa
sequência de atividades.
• Não é necessária a troca de
palavras do texto com o objetivo de facilitar a
compreensão da criança. Um dos
“objetivos” inerentes à leitura como
atividade
permanente na educação é que as
crianças ampliem seu vocabulário.
• No trabalho com versões, escolha textos com
fluência e bem-escritos. Há
adaptações que parecem resumo de novela. Como
são muito fragmentadas, acabam
não envolvendo o leitor.
• O professor deve demonstrar paixão pela leitura.
Fonte: Para Além do Cuidar - Educação Infantil (http://paraalmdocuidar-educaoinfantil.blogspot.com/2011/03/as-dez-duvidas-que-surgem-com.html)
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