A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Tarefas escolares - 21/08/2007
Editorial

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TAREFA – 1. Qualquer trabalho, manual ou intelectual, que se faz por obrigação ou voluntariamente; 2. Quantidade de trabalho realizado ou a realizar dentro de um prazo determinado; empreitada. (Fonte: Dicionário Houaiss Online)

Ao assistir o filme “Feitiço do Tempo” acompanhamos o personagem vivido por Bill Murray vivendo um autêntico inferno astral. Ele se encontra encarcerado no tempo, a viver repetidas vezes o mesmo dia, justamente aquele que no início da produção é descrito pelo mesmo como um dos piores de sua existência. E o que leva tal protagonista a verdadeiramente detestar um dia de sua vida? A repetição de práticas que ele já executara anteriormente sem que as mesmas apresentassem qualquer traço de renovação, nenhum frescor ou possibilidade de crescimento...

Resgato novamente esse filme para trazer à tona a questão das tarefas escolares, pois é justamente dessa forma que nossos alunos, no Brasil inteiro, em escolas públicas ou privadas, percebem (na esmagadora maioria dos casos) as tarefas escolares.

Repetição, repetição e repetição. Sem fim. Sem qualquer relevância do ponto de vista do estudante já que invariavelmente está distanciada da realidade em que vive e não lhes são explicados os conceitos aprendidos como parte do mundo real, com aplicabilidade no cotidiano.

A reprodução torna-se então uma obrigatoriedade, conforme nos diz a primeira definição de tarefa apresentada no início desse artigo. E como obrigação que passa a ser distancia-se ainda mais de seus objetivos, de suas metas e, principalmente, daquele que deveria se beneficiar dessa prática, o estudante.

Resultado inevitável e imediato? Depois de algum tempo, quando o aluno amadurece e ultrapassa a cândida infância (ou mesmo durante essa etapa, como os professores já podem perceber com constância em suas salas de aula), adentrando a pré-adolescência ou a adolescência em casos mais tardios, surge a revolta, o grito de alerta que poucas vezes é escutado da forma como deveria, ou seja, os estudantes fazem as vezes de operários em greve, ativam a “operação tartaruga” e deixam de fazer os deveres escolares com a regularidade esperada.

Impregnados pelo cotidiano que emburrece e tolhe qualquer ação criativa, os professores nem se dão conta ou, se percebem que essa estratégia mais do que atingi-los pessoalmente, quer a todos fazer entender que as tarefas devem ser repensadas, recriadas e reestruturadas para que renasçam e sejam efetivas. A rebelião dos alunos que não querem fazer tarefas é, afinal, legítima e justa.

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Os pais não devem fazer as tarefas escolares no lugar de seus filhos, no entanto devem acompanhar, orientar, trocar idéias e estar informados sobre os deveres, sua regularidade, estilos (padrões) e se realmente estão sendo interessantes, instigantes e úteis para a aprendizagem de seus filhos.

Por mais que os professores sempre tentem encontrar inúmeras explicações que justifiquem essa contrariedade dos estudantes em relação a exercícios e questionários que os fazem agir apenas como papagaios a reproduzir incessantemente idéias que os próprios educadores muitas vezes também apenas repetem... A falha é estrutural e compete aos especialistas, portanto aos próprios educadores, rever as tarefas escolares. E nessa força-tarefa (sem trocadilhos) não devem estar presentes apenas os professores, mas o corpo diretivo das escolas, as secretarias de educação, o ministério da educação e cultura e as próprias famílias dos estudantes.

O primeiro passo no processo de renovação é literalmente vestir a carapuça e reconhecer que fazer tarefas é uma obrigatoriedade muito chata em virtude dos modelos engessados e reprodutivistas que as inspiram há décadas...

Entender que os alunos têm razão em suas críticas e que as atitudes radicais que tomam são muitas vezes resultado de nossa intensa surdez, mutismo e cegueira em relação aos erros que conduzem os nossos procedimentos em sala de aula é não apenas um fundamento para a transformação, mas também um gesto que demonstra vontade de mudar a educação para melhor e uma prova sincera de humildade.

Afinal de contas pregamos todo o tempo que além de ensinar também aprendemos quando estamos em contato com nossos alunos, não é mesmo? E no que tange as tarefas? Será que aprendemos alguma coisa? Ou ainda, será que estamos dispostos a ouvir os lamentos e reclamações dos estudantes e pensar a respeito dos mesmos em busca de soluções?

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Ter todos os recursos necessários para fazer as tarefas escolares pedidas é um quesito importante para que o trabalho seja bem feito. Além disso, outro dado imprescindível para que os deveres sejam feitos com correção são as instruções e orientações dos professores quanto aos mesmos.

É claro que as tarefas são apenas a ponta de um iceberg de grandes dimensões (se bem que essa metáfora em tempos de aquecimento global não pareça ser das melhores). Sabemos bem que o “buraco é mais embaixo” e que, todo o procedimento educacional precisa ser revisto, sem ilusões quanto à existência de fórmulas ou materiais mágicos que possam reverter tudo da noite para o dia.

Mas como o tema desse editorial são as tarefas, vamos lá para algumas práticas que podem ser valiosas no processo de revalidação das tarefas. Antes de apresentá-las, que fique claro que não pretendemos ou ousamos acreditar que essas orientações sejam definitivas e nem tampouco que consigam solucionar os problemas relativos às tarefas.

Cada educador deve, num primeiro momento, examinar seu contexto, avaliar sua clientela, discutir possibilidades com seus colegas de trabalho, ler os livros de especialistas, buscar mais informações na internet ou em revistas de educação e, com base em toda essa jornada, daí sim ter condições de firmar um compromisso ainda mais sério e de resultados melhores com seus alunos.

Creio, no entanto, que nesse espaço devemos socializar não apenas críticas e considerações mais gerais. Por isso, como disse, apresento a seguir algumas idéias que auxiliaram (e continuam a fazê-lo) minha prática como professor:

1- As tarefas são essenciais, mas não devem ser vistas como obrigação pelos estudantes. Nesse sentido vale sempre criar a partir das aulas um envolvimento bem profundo com os temas trabalhados, estabelecendo elos entre os conceitos e idéias trabalhados com a realidade dos estudantes. Essa aproximação irá fazer com que os alunos sintam-se mais interessados e dispostos a produzir respostas aos questionamentos da aula e também àqueles que porventura sejam mandados para casa.

2- Os próprios alunos sabem que as tarefas ajudam a fixar e concretizar o conhecimento. E por que reagem tão negativamente as propostas que geralmente são feitas pelos professores? Porque querem atividades que os desafiem, que os coloquem em situação de busca e pesquisa de respostas. Transformar os estudantes em jornalistas, detetives ou pesquisadores profissionais em busca de respostas para os trabalhos propostos exige inteligência na composição das tarefas, ou seja, dá trabalho para os professores, é mais difícil do que continuar fazendo o “arroz e feijão” de todos os dias, mas compensa muito!

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Utilizar os recursos das tecnologias de informação e comunicação é válido desde que não se restrinja simplesmente ao tradicional “copiar e colar” executado por alunos de todas as idades. Nesse sentido cabem medidas como orientações dos professores e dos pais quanto a softwares, sites e portais onde a pesquisa possa ser realizada.

3- Associar os conteúdos a cultura em geral sempre dá bons resultados. Trabalhar com música, cinema, artes plásticas, dança, artesanato, literatura, histórias em quadrinhos, teatro ou qualquer outra forma de representação da cultura humana em paralelo aos temas da história, da biologia, do inglês, da matemática, da educação física ou de qualquer disciplina ajuda muito e serve como um grande fator de motivação para os estudantes.

4- Pedir a leitura semanal de jornais e revistas, com a seleção de artigos que possam ser trazidos para as salas de aula e comparados ou equiparados aos temas trabalhados nas disciplinas também é uma ótima forma de dar aos estudantes mais argumento, força e criatividade na composição de respostas aos deveres escolares e até mesmo as atividades de sala de aula.

5- Tarefas em que as disciplinas sejam trabalhadas conjuntamente permitem que os estudantes fujam da compartimentalização dos saberes, tão típica da educação bancária mais tradicional. Compartilhar projetos, trabalhos e tarefas com outras matérias escolares faz muito bem para todos.

6- Projetos e tarefas a serem executadas em casa devem ser sempre bem explicados para que não fiquem dúvidas quanto a sua execução pelos alunos.

7- Trabalhos em pequenos grupos devem ocorrer com certa freqüência, até mesmo para que os alunos aprendam a cooperar uns com os outros, dividir responsabilidades, trocar idéias, debater sempre que necessário e entrar em consenso quando for o caso.

8- Corrigir tarefas em sala de aula não é aconselhável. O melhor a ser feito é recolher as produções e corrigi-las com calma depois dos compromissos na escola.

Acredito que existam muitas outras boas idéias e práticas em uso por educadores de todo o Brasil. Lançamos mão de alguns expedientes com o objetivo de alimentar o debate e de ouvir outras propostas, soluções e idéias quanto ao tema. O principal é tomarmos atitudes responsáveis, sérias que demonstrem não apenas a nossa preocupação com o fato, mas principalmente a nossa grande disposição de mudança...

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11 COMENTÁRIOS

1 emelly - bom sucesso PR
eu odeio matematica nao entendo muito estou na 7 serie como me ajuda ???
08/12/2012 22:47:40


2 Maria de Lourdes Sella - rondonópolismt
Como educadora concordo plenamente com o artigo, as escolas precisam atualizarse, não somente em relação aos contéudos, mas principalmente em relação a metodologia e as ferramentas utilizadas. As novas tecnologias precisam ser utilizadas para o ensino aprendizagem. Não podemos querer que um aluno faça caligrafia como tarefas se ele já sabe usar o teclado e provavelmente não escreverá mais de forma manuscrita, isto é apenas um exemplo. Ainda temos professores que não aceitam atividades de pesquisa digitadas. Ele nem chegou no século XX, é anterior a imprensa. Nossos jovens não toleram mais isto.
05/02/2012 01:22:47


3 cecília de albuquerque - Teresina PI
gostei muito desse tema, gostaria de receber mais dicas sobre o assunto, pois sou iniciante em docencia
21/03/2011 15:13:19


4 jose - p.bueno
sou.legal.e.estudante
01/06/2010 15:06:04


5 daniele - pindmonhangaba
oi eu sou uma catequista me add danibananinha@hotmail.com bjs adorei
29/03/2010 11:03:53


6 iasmim - samambaia
adorei esse artigo eu estou fazendo a & serie e eu estava mechendo aqui e encontrei esse seti que é muito legal e otimo pra quem ja faz essa serie que aprende mai organizar as taarefas escolares... eu adorei esse artigo e muito legal e interessante.pois eu adorei esse artigo que esse artigo possa ter novas coisa diferentes....abraços................!!!!1
11/02/2010 13:37:31


7 naiane mota - iporá
Um professor do estado na realidade de hoje não tem tempo pra fica vistando todas as tarefas em casa, eu gostaria de uma sugestão que solucinasse esse problema, afinal o professor perde muito tempo em sala de aula dando visto nos cadernos.
14/10/2009 22:55:39


8 RUTH CAMPOS SOARES - SALVADORBA
Io. seu artigo foi de fundamental importância, pois estou com um projeto manografico sobre tarefas escolares:De que maneira as tarefas escolares podem formentar dificuldade de aprendizagem?. Sendo assim gostaria de saber se vc pode me ajudar com mais material falando sobre as tarefas escolares.aguardo email Muito obrigada Ruth
09/06/2009 12:22:24


9 Anônimo - Manaus
Realmente, você tem toda a razão! Se as escolas tivessem melhores métodos de ensino... Com certeza os alunos seriam bem mais interessados...
12/04/2009 22:26:28


10 Maria Valkiria Amaral - União dos Palnares Alagoas
Concordo com todos os seus argumentos e experiencias, mas como fazer com que estes alunos façam estas tarefas se os mesmos estudam e moram num bairro hiper pobre na periferia, onde eles não têm acesso a internete, revistas, livros em casa, pois a escola tem e lels nem se interessam. Além disto tudo é um bairro violento onde de tudo tem , drogas, prostituição,etc. Me ajuda!
21/09/2008 11:49:14


11 Claudia - FK -
Oi João! Adorei seu artigo ,pois, hoje minha filha de 13 anos que esta concluindo o esnino fundamental me fez a seguinte pergunta: - Mãe, por que é que eu tenho que aprender conteúdos que "não" servirão para a minha vida no futuro? Qual é o objetivo da minha professora, mãe? - Mãe, não aguento mais fazer tarefas! Nós poderíamos fazer um monte de coisas durante a aula, é muito mais gostoso e aprendemos mais... Infelizmente, a maioria das escolas ainda continuam insistindo numa "política" pedagógica falida. Digo isso, porque acredito que a escola tenha medo de perder seus alunos em função da diminuição das tarefas ou mudanças que possam aparentar "pouca qualidade". A falta de tarefa pode significar para os pais, baixa qualidade ou pouca pressão do professor com relação aos conteúdos. Finalizando, achei muito bacana seu embasamento e suas propostas de mudanças. Abraços...mãe Claudia
21/08/2007 14:07:34


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