Planeta Literatura
Sheila Cristina de Almeida e Silva Machado Graduada em Pedagogia; Especializada em Orientação Educacional; Pós-Graduada em Psicopedagogia; Atua como Orientadora Educacional no Colégio Poliedro de São José dos Campos – SP.

Indisciplina - O contraponto das escolas democráticas - 09/08/2007
Livro

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O professor Júlio Groppa Aquino é, certamente, uma das mais polêmicas e celebradas personagens de vulto do atual cenário acadêmico relacionado ao pensamento pedagógico. Seus textos e artigos provocam e estimulam constantemente o debate acerca de alguns dos mais importantes temas da educação. Não só o professor joga mais “lenha na fogueira”, mas suas idéias ao mesmo tempo em que incitam e alimentam o fogo, reforçam argumentos e clamam por mudanças mais do que prementes.

Por exemplo, através de seu livro “Indisciplina – O contraponto das escolas democráticas”, Groppa traz a tona um dos assuntos que mais preocupa os educadores e a comunidade como um todo, os atos de rebeldia que caracterizam uma mais que onipresente e crescente indisciplina nas escolas brasileiras. E que méritos há nessa obra? Em especial o fato de que Aquino não apenas esmiúça detalhes ou peculiaridades de um problema vivenciado por todos os que trabalham em educação, mas especialmente pelo fato de que há a preocupação de apresentar idéias que ajudem a solucionar essas situações de indisciplina que tanto nos afligem.

O que se estipula desde o princípio é que a indisciplina é uma queixa constante tanto da escola como da família, devido à grande dificuldade de educar na atualidade. Dentro da escola esse fenômeno ultrapassa fronteiras culturais e econômicas e ocorre até mesmo em países que possuem condições infra-estruturais mais satisfatórias, como os Estados Unidos, a França ou a Espanha.

Outra constatação é que, a partir dos anos 1990, a indisciplina tornou-se um obstáculo e um complicador cada vez maior ao exercício do trabalho pedagógico. A maioria dos educadores não sabe ao certo o que fazer quanto ao ato indisciplinado. Dialogar? Punir? Encaminhar? Ignorar? Em grande parte dos casos não se é capaz de compreendê-lo em sua complexidade.


O aumento de casos de indisciplina nas escolas a partir da década de
1990 torna mais premente a discussão e o debate sobre a questão.

A manutenção da disciplina constitui, com efeito, uma preocupação de todas as épocas, como testemunham alguns textos de Platão, como O Protágoras ou As Leis. E se lemos as Confissões, de Santo Agostinho, constatamos como a sua vida de professor era amargurada pela indisciplina dos jovens que perturbavam “a ordem instituída para o seu próprio bem”.

Sabe-se, porém que nos dias atuais é difícil encontrar entre os educadores um consenso tão solidificado (e igualmente questionável) relativamente a esse tema quanto aquele em que se atribui grande parte dos problemas escolares cotidianos ao modo como estão organizadas as famílias de nossos alunos.

Há ainda, de acordo com Aquino, outra hipótese sobre os indisciplinados que se relaciona a própria instituição escolar, ou seja, a de que a própria organização do campo pedagógico é responsável pelos males que ela tenta suprimir. A gênese da indisciplina residiria nos conflitos perpetrados pelas próprias práticas escolares, incapazes de dialogar com os novos perfis discentes – uma escola de massa que, de certa forma, ainda preserva princípios pedagógicos e políticos de uma escola de elite, de outrora.

Democratizar o contexto escolar requer não apenas a oferta maciça de vagas a todos os que estejam em idade escolar, mas também a oferta de condições eficazes e acolhedoras para que eles lá permaneçam pelos anos previstos na Constituição brasileira – e que possam subtrair dessa vivência uma transformação de fato qualitativa em suas vidas.

A indisciplina traduzir-se-ia, segundo Júlio Groppa, numa espécie de inconformidade, por parte do alunado, aos padrões de comportamento nos quais as escolas ainda parecem inspirar-se. François Dubet (1997), destacado sociólogo francês, ressalta que “a disciplina é conquistada todos os dias; é preciso sempre lembrar as regras do jogo, cada vez é preciso reinteressá-los; cada vez é preciso ameaçar; cada vez é preciso recompensar”.


Boas regras de convivência e trabalho entre os estudantes e os
professores devem ser discutidas coletivamente e estipuladas
como um “contrato” pedagógico desde os primeiros dias de aula.

A obra em questão esclarece também que cabe então aos professores estabelecer, desde os contatos iniciais com as turmas sob sua tutela, as regras do jogo. Celebrar um “contrato” pedagógico em comum acordo com os alunos é um dos meios eficazes de manter a necessária e vital harmonia ao desenvolvimento do trabalho escolar, ao processo de ensino-aprendizagem. É fundamental esclarecer o que esperam um do outro, professor e alunos. Estabelecer um plano contratual significa organizar conjuntamente as rotinas de trabalho pedagógico e de convivência escolar. Não se tratam, porém, de regras fixas. Elas devem estar sempre abertas à revisão.

Importante conceito também trabalhado na obra relaciona-se a idéia de educação em valores que é entendida como dimensão propriamente atitudinal imanente ao trabalho educativo, e não apenas percebida como os conteúdos morais a serem veiculados nas disciplinas. A educação em valores não visa transmitir didaticamente juízos morais e/ou civis desejáveis, mas cultivar uma ambiência civil capaz de desencadear a reflexão e a vivência sistemáticas de valores e atitudes caras ao convívio democrático.

Entre os objetivos da educação em valores destacam-se, conforme nos ensina o professor Júlio Groppa Aquino:

• Atribuir igual importância aos âmbitos cognitivos, afetivo e moral no aprendizado escolar.

• Abordar temas curriculares contextualizados segundo os dilemas da cidadania contemporânea, relativos (por exemplo) aos direitos humanos, a questão ambiental, ao pleno exercício dos direitos políticos,...

• Propor sistematicamente a vivência de situações-problema, do ponto de vista democrático, como disparadoras da construção das competências e habilidades, ambas ancoradas em valores desejáveis, tais como eqüidade, solidariedade e justiça.

• Gerenciar os conflitos escolares numa perspectiva dialógica e de respeito mútuo.

• Desenvolver a tomada de consciência e a capacidade autônoma de escolhas.

• Vivenciar o próprio espaço escolar como espaço privilegiado de participação democrática ativa.

Avançando a discussão sobre a educação em valores, destacam-se dois mecanismos procedimentais no que se refere à consecução de seus propósitos: o já referido contrato pedagógico e as assembléias de classe.

O que se constata, ao ler a obra “Indisciplina – O contraponto das escolas democráticas”, de Júlio Groppa Aquino, é que se ampliam as possibilidades de melhor compreensão de tão presente e espinhoso tema e, ao mesmo tempo, se vislumbram no horizonte perspectivas de melhoria e superação dessa tão dificultosa situação vivida nas escolas. E é justamente aí que, tenho certeza, todos os educadores querem chegar.

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18 COMENTÁRIOS

1 Mariette Mari Fanton - Bariri
Muito boa a resenha elaborada, principalmente quando se tem conhecimento da obra de Aquino. Parabéns!
16/01/2013 00:10:19


2 ANA TEREZA MARTINS ROCHA - JOÃO PESSOA
Este comentário para o contrato de convivencia achei otimo, pois estou usando na minha escola
23/10/2012 22:47:44


3 Samira Machado Toledo - São José dos Campos
Boa Tarde! Estou cursando psicopedagogia, gostaria de informar sobre as minhas qualificações,se há interesse em estagiar nessa area
20/04/2012 13:26:23


4 Francisco - Santa Rita
Como os nossos pesquisadores estrelas estão protegidos por muros acadêmicos vivem viajando dando palestras e nada muda na edcucação, necessitamos de novos pesquisadores: relamente interessados na questão. Chega de culpar a escola e o professor, e nada mudar. O contrato pedagógico sempre é citado, porém na pratica é um fiasco, tudo que que é acordado não é cumprido, exceto oque lhes convém. Está na hora de acordamos para uma realidade em uma sociedade individualista, perversa egoista presente em todas as camadas. De nada adianta fazer grandes discurssos acadêmicos que não são eficazes, se assim fossem ja teriam solucionado grande parte dos problemas. A indiciplina necessita de estudos em nvos focos.
07/11/2011 16:38:18


5 Jucilene oliveira - Salvador
Oi gostei muito do Artigo, e escolhir esse tema para minha monografia, meu anteprojeto já foi construido preciso de livros para aprofundar mais meus conhecimentos. Obrigada!!
27/06/2011 12:19:23


6 Garcia, Francisco Carlos Araujo Garcia - Fortaleza Ceará
Muito bom, enriqueceu meu conhecimento. Gosteria que indicasse livros, fontes de pesquisa, pois estou a fazer o TCC. Parabèns. Fico no aguardo. SDS, Garcia
09/05/2011 19:54:21


7 maria emaculada de jesus - governador valadares
Olá gostaria de saber mais sobre o tema ,indisciplina escolar,pois sou professora da rede estadual e a minha monografia e sobre indiciplina no ambiente escolar ,e tambem se puder me indicar alguns livros sobre este tema,e ja estou montando um preprojeto de tcc,se nao for pedir muito me envia pelo email.
30/04/2011 20:37:28


8 Miriam Lima - brasilia
muito bom o artigo com certeza reafirma o conceito que tenho de contrato , combinado , dialogo com alunos e colegas na escola. parabéns .
31/03/2011 19:50:21


9 luciana - santa maria
gostaria de saber mais sobre este assunto, e indicações de livros, pois vou fazer tcc.
01/03/2011 19:02:07


10 Viviane - Trindade
ótimo artigo contriui para nossa prática pedagógica.
29/09/2010 16:01:49


11 Elaine - GOianiago
muito bom uma supra resenha...parabéns!!!
03/08/2010 19:35:24


12 Elivania Moreira Pinheiro - são Paiilo
Sou educadora de educação física , sei que as quetões da indisciplina nas escolas vão alem e aquem dos educandos e educadores, e que todos comunidade ,escola, aluno,professores pais,governo, segurança ... todos devem estar unidos por um só objetivocrianças e jovens, cidadões melhores no futuro
06/06/2010 21:15:18


13 fabiana Scolfaro Picão de Oliveira - Osasco
O artigo acima me ajudou muito,estou estudando para concursos e aqui eu encontrei os pontos principais sobre indisciplina na escola.Muito bom!
20/03/2010 17:37:51


14 Normélia - Araçuaí
Gostaria de receber mais informações sobre o assunto Indisciplina na educação infantil, pois é o tema do meu projeto de monografia. Tenho pesquisado bastante,porem, o que encontrei ainda esá muito vago. 23/09/09 10:43
23/09/2009 10:43:34


15 SOLANGE - Uberlandia
Somos pressionados que alunos de cinco, seis anos precisam ler a qualquer preço! Muitas vezes sentimos que eles estão pouco ou nada interessados em aprender ler e escrever, chegam na escola, querendo brigar, bater uns nos outros, gritar, bater e rabiscar com força as mesas, entendem muito pouco as regras, não querem ouvilas. Os pais pensam que professores são cuidadorasbabás de seus filhos e não entendem que quando combinamos normas com seus filhos, não compreendem quando os professores precisam da presença deles na escola, para compartilhar os avanços ou não de seus filhos muitos pais querem até bater no coleguinha que machucou seu filho no recreio! Estou falando de ESCOLA, mas nem parece não é mesmo?Preciso voltar a crer em uma educação transformadora,capaz de caminhar junto com a justiça, onde alunos aprendam o que é liberdade e os professores deixem de ser refens. SOLANGE
12/09/2009 18:06:59


16 maria aparecida - parnaibapiaui
gostaria de saber mais sobre o assunto de indisciplina,pois meu tema da minha monografia è esse,e indicaçoes de alguns livros.
13/08/2009 11:35:13


17 Marisélia da Hora Alves - Jequié-BA
Gostaria de receber mais informaçãoes sobre o assunto indisciplina na escola, pois é o tema da minha Monografia. Sou professora da rede municipal da minha cidade e tenho dificuldades em encontrar textos na Universidade que estudo para minhaa leituras.
10/02/2008 14:40:43


18 Danilo Zanutto - São José dos Campos
Sheila seja bem vinda a muito v/c é esperada, nosso time está aberto para receber pessoas que tem muito a contribuir como é o sey caso. João acho que a casa vai ficar pequena para tantos livros que poderão escrever a duas mãos.
10/08/2007 19:34:08


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