Escola, para quê? - 02/05/2007
Editorial
Estudamos durante anos e anos de nossas vidas. Teoricamente estamos nos preparando para a vida. Aprendemos (ou não) matemática, história, física, artes ou a nos comunicar em nossa própria língua. Descobrimos o mundo através da geografia, conhecemos o corpo humano pelas vias da biologia, entendemos o funcionamento do universo com ajuda da química. Fazemos educação física, lemos vários livros para disciplinas como a literatura, estudamos inglês ou espanhol para nos comunicar com o mundo...
Acreditamos que ao entrar em contato com todos esses saberes ocorre um preparo essencial que irá nos permitir ingressar na vida adulta prontos para conseguir um emprego, formar nossas famílias, prosperar, ter conta bancária, comprar a tão sonhada casa própria, adquirir um ou mais automóveis, viajar pelo mundo,...
Pensamos nesse conhecimento obtido como base para a civilidade. Respeitar e ser respeitado. Se mostrar solidário em relação às causas mais justas e nobres. Fazer o bem e proporcionar ao mundo a possibilidade da melhoria em virtude de nossa ação, de nossa existência e de nossas experiências pessoais acumuladas e também dos esforços coletivos que nos movem.
Nossos professores e pais, assim como seus antecessores, pelo menos desde que surgiu o conceito de educação e de escola que conhecemos presentemente (desde a Revolução Francesa, para tentar localizar no tempo e no espaço esse acontecimento, ou seja, a partir do século XIX), também incensam, valorizam e acreditam que não há futuro para quem quer que seja sem o auxílio e os préstimos da educação formal.
ouvir o que sentem e pensam sobre a escola, o país, o mundo...
Governantes se alternam no poder e durante as disputas eleitorais apregoam aos ventos, para que todos consigam escutar, o quanto a educação é importante para o futuro da nação. Planos e mais planos para a educação são traçados (e alterados de forma aleatória e predatória para o futuro dessa nação) a cada mandato. Novos investimentos e verbas para a área são previstos nos orçamentos públicos (mas nem sempre chegam de forma integral ao destino final, as escolas).
Apesar de todo esse discurso apregoado com enorme constância por tantas pessoas e instituições, ainda existem muitos estudantes que se perguntam, a cada instante, o que estão a fazer dentro dos limites das escolas... Escola para quê? Essa é uma dúvida que persiste entre as gerações que se encontram nas salas de aula já há algum tempo. Que escola é essa que, apesar de todas as pessoas que a defendem, causa dúvidas quanto a seu valor, funcionalidade e eficiência entre seus maiores interessados, os estudantes...
Nesse sentido é importantíssimo que saibamos quem são os estudantes que formam o contingente educacional das escolas brasileiras no momento em que escrevemos essas linhas... Quais são suas bases familiares? Como é a sua relação com o mundo em que vivem? Que contexto mundial estamos vivendo e de que forma isso se relaciona ao perfil dessas crianças e jovens? Quais interesses movem sua curiosidade e os motivam a pensar e agir? O que eles pensam do Brasil e de suas instituições? Que visão têm da escola e da educação? Afinal de contas, quem são essas crianças, adolescentes e jovens com os quais convivemos enquanto pais, educadores, gestores das escolas e governantes?
Quem são nossos alunos? O que pensam da escola? O que esperam do mundo?
São perguntas imprescindíveis para que compreendamos o universo escolar em que estamos inseridos. São também questões de difícil resposta, que demandam pesquisas complexas a serem realizadas no mínimo a médio prazo. Planos governamentais que não levem em conta a clientela final dos serviços educacionais que estamos prestando terão pouca ou nenhuma eficiência e, ao afirmar isso, não estou sendo pessimista, assumo apenas uma postura extremamente realista. Se pudéssemos apenas conjecturar ou especular algumas respostas tendo por base o que lemos ou estudamos em publicações recentes, poderíamos dizer o seguinte:
A
justiça e as demais instituições do
país são ineficientes e tornam a vida
no Brasil difícil e complicada para as atuais e futuras
gerações. Precisamos
de mais transparência, eficácia, honestidade e
agilidade dos poderes públicos.
Esse breve perfil de nossa clientela escolar e das condições gerais do mundo, do país e da educação no Brasil não tem a pretensão de se firmar como base sociológica de entendimento da dificílima situação pela qual passam nossas escolas e, mais importante ainda, nossas futuras gerações. Tento apenas fazer com que pensemos a partir do olhar desses estudantes para que consigamos compreender por que, para eles, a escola é (muitas vezes) apenas uma formalidade e não a instituição que pensamos, redentora, formadora, definidora das bases para o futuro.
Escutamos muito pouco as lamúrias, os sussurros e até mesmo os gritos de dor de nossos pacientes terminais. Agimos como médicos petulantes, que têm o dom da cura, o conhecimento insuperável e as respostas para todos os dilemas da saúde. Enquanto educadores, pais, gestores da educação e governantes pensamos sempre ter todas as respostas sem que nem ao menos nos preocupemos em aguçar a audição e os demais sentidos para perceber o que realmente está acontecendo ao nosso redor...
Não temos mais tempo a perder. Educação é assunto sério e primordial para a sobrevivência não só das atuais gerações ou das futuras, já integradas ao cotidiano, mas de pessoas que ainda nem nasceram e, numa escala de pensamento mais amplo, de nosso país e do mundo todo. Interligados cada vez mais no mundo plano e globalizado em que vivemos dependemos cada vez mais uns dos outros e se não agirmos em prol do conjunto iremos todos perecer junto com o planeta...
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