Pelo fim da pobreza mundial - 29/08/2006
Jeffrey Sachs
Sou otimista? O otimismo e o pessimismo são irrelevantes. A questão não é prever o que vai acontecer, mas ajudar a moldar o futuro. Trata-se de uma tarefa coletiva, tanto para mim como para você.
Embora os manuais de introdução à economia preguem o individualismo e os mercados descentralizados, nossa segurança e prosperidade dependem pelo menos igualmente das decisões coletivas de lutar contra a doença, promover a boa ciência e a difusão da educação, proporcionar infra-estrutura crítica e agir em uníssono para ajudar os mais miseráveis.
Quando as pré-condições de infra-estrutura básica (estradas, energia e portos) e de capital humano (saúde e educação) estão disponíveis, os mercados são poderosas máquinas de desenvolvimento.
Sem essas pré-condições, os mercados podem cruelmente esquecer grandes parcelas da população mundial, deixando-as na pobreza e no sofrimento sem alívio.
A ação coletiva, por meio da eficiente oferta governamental de saúde, educação, infra-estrutura, bem como da ajuda externa, quando necessário, sustenta o sucesso econômico.
Há 85 anos, o grande economista inglês John Maynard Keynes meditou sobre as terríveis circunstâncias da Grande Depressão. A partir das profundezas do desespero que o cercava, ele escreveu em 1930 Possibilidades econômicas para nossos netos.
Numa época de coerção e sofrimento, ele previu o fim da pobreza na Grã-Bretanha e em outros países industriais no tempo de seus netos, perto do final do século XX.
Keynes enfatizou a tremenda marcha da ciência e da tecnologia e a capacidade desses avanços em tecnologia de sustentar o crescimento econômico continuado com juros compostos, crescimento suficiente, com efeito, para acabar com o velho “problema econômico” de ter o suficiente para comer e renda suficiente para suprir outras necessidades básicas.
Keynes tinha razão: a miséria não existe mais nos países ricos de hoje e está desaparecendo da maioria dos países de renda média do mundo.
Hoje podemos invocar a mesma lógica para declarar que a miséria pode acabar não na época de nossos netos, mas em nosso tempo.
A riqueza do mundo abastado, o poder dos vastos armazéns de conhecimento de hoje e a diminuição da fração do mundo que precisa de ajuda, tudo isso torna o fim da pobreza uma possibilidade realista até o ano 2025.
Keynes se perguntava como a sociedade de seus netos usaria sua riqueza e sua libertação sem precedentes da milenar luta pela sobrevivência diária.
Essa é exatamente a pergunta a que temos de responder. Teremos o bom senso de usar nossa riqueza com sabedoria, para curar um planeta dividido, para acabar com o sofrimento daqueles que ainda estão presos na pobreza e para forjar um laço comum de humanidade, segurança e objetivo compartilhado por culturas e regiões diferentes?
Jeffrey Sachs
Economista Norte-Americano
(Trecho extraído da introdução de seu livro “O fim da pobreza”)
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