Aprender com as Diferenças
Fábio Adiron  Consultor e Professor de Marketing. Fundador e Presidente da Associação Mais 1. Membro da Comissão Executiva do Fórum Permanente de Educação Inclusiva. Moderador do Grupo de Discussão sobre Síndrome de Down do Yahoo Grupos.

Os Normais - 23/05/2006
Fábio Adiron

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A discussão semântica nas comunidades que lidam com pessoas deficientes sempre é apaixonada.

Algumas vezes chega a ser radical e rancorosa. Se de um lado temos os adeptos dos eufemismos ou, como preferem alguns, do politicamente correto, do outro temos aqueles que querem ressaltar as diferenças e as deficiências, seja como preconceito, seja como forma de chocar os outros.
 
Uma dessas discussões gira em torno do conceito da normalidade. Afinal de contas, o que exatamente significa ser normal?

 Será que é normal ser diferente, ou é diferente ser normal?

Será que o Caetano Veloso estava certo ao afirmar que “de perto, ninguém é normal?”.
 
A palavra normal vem do latim, norma que era um esquadro usado por carpinteiros para traçar ângulos retos, em algumas línguas anglo-saxônicas continua tendo o sentido de perpendicular.

 No campo da conduta humana, a diretriz de um comportamento socialmente estabelecido.
Por isso, o adjetivo normal refere-se a tudo que seja permitido ou proibido no mundo humano, no mundo ético; e refere-se, também, a tudo que, no mundo da natureza, no mundo físico, ocorre, necessariamente, como descrito num enunciado físico.

Anormal é a qualidade daquilo que se mostra contrário às concepções admitidas num dado momento histórico.
 
Quando olhamos para a questão da deficiência, o uso da palavra normal tem uma origem médica, baseada na ocorrência de determinadas patologias logo é uma visão estatística.

Ora, uma distribuição normal é uma distribuição contínua que pode variar de mais a menos infinito, ou seja, qualquer ocorrência está debaixo de uma curva normal (já que a área debaixo da curva sempre corresponde a 100% das ocorrências). Pensando estatisticamente, não existe a anormalidade, o que existe são pontos mais próximos ou mais distantes da média.
 
A primeira definição mostra que é a sociedade (no aspecto ético ou no aspecto de teorização das leis físicas) quem determina os limites da normalidade. Na segunda, desaparece a exclusão, uma vez que todos são normais.
 
Neste sentido, desejo esclarecer o que entendo por diversidade, o que entendo por diferença e o que entendo por desigualdade.

 A diversidade faz referência à identificação da pessoa, por que cada um é como é, e não como gostaríamos que fosse. Esse reconhecimento é precisamente o que configura a dignidade humana.

A diferença é a valoração (portanto, algo subjetivo) da diversidade, e é exatamente essa valoração que abriga várias manifestações, sejam de rejeição ou de reconhecimento. É a consideração da diversidade como valor.
 
Como nos diz Maturana, cada homem se diferencia singularmente de outro homem não por razões biológicas, mas sim por que há diferentes crenças, comportamentos e pontos de vista distintos.

O respeito à diferença implica o reconhecimento de ser diferente, e a tolerância é o valor essencial de que a cultura da diversidade necessita.
 
Em uma sociedade sem exclusões sabe-se, desde o princípio, que as pessoas que participam têm diferenças cognitivas, afetivas e/ou sociais, de gênero, étnicas, culturais etc.

Por isso, há que organizar a sociedade pensando-se nessas diferenças e não em pessoas hipotéticas. Uma organização cujo epicentro seja a diversidade e não a normalidade.
 
Viver na diversidade não se baseia, como pensam alguns, na adoção de medidas excepcionais para as pessoas com necessidades específicas, mas na adoção de um modelo de sociedade que facilite a vida de todas as pessoas em sua diversidade.

Se isso não é entendido adequada e corretamente, corre-se o risco de confundir "adaptação à diversidade" (que supera a deficiência) com "adaptação à desigualdade" (que ressalta a deficiência).

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5 COMENTÁRIOS

1 Ana Lucia Souza Moreira - São Paulo
Fábio, sempre que leio algo que voce escreveu fico menos tolerante com a ignorancia alheia.
18/08/2011 10:43:28


2 rejene marana soares - Taboão da serra
fabio gostei muito do artigo e concordo plenamenta com sua visão sobre "normalidade" tenho um filho com 12 anos com sindrome de down e tenho sofrido com esta inclusão (para ingles ver)
26/11/2007 01:28:58


3 Maria Helena Ferreira Leite - Belo Horizonte
Fábio, seu artigo redirecionou meu projeto de conclusão de curso, chamando minha atenção para varios pontos que antes não avia analisado, agradeço as reflexões, associei seu artigo com o de Rossa Ramos:“Nossa sociedade ainda conserva (pré)conceitos historicamente cristalizadas sobre quase tudo: negro, índio, pobre, deficiente físico, deficiente mental, nordestino, homossexual, empregada doméstica, gordo, idoso etc. A coisa toda tem a ver com a maneira como as pessoas aprenderam a ver o outro. A questão é: sob que prisma a sociedade aprendeu a enxergar o outro? Toda a educação nacional foi elaborada e desenvolvida para manter a mente engessada. O individuo foi domesticado e doutrinado. Ele não aprendeu a pensar. Apenas apreendeu pensamentos. Assim, certo é o que alguém determinou que é certo. Do mesmo modo, errado é o que alguém determinou que é errado.” Rossana Ramos (2006).... abraços
01/10/2007 17:29:07


4 Rosemeire Lemos - Nanuque
Amei o artigo, principalmente os significados do autor sobre diversidade, diferença e desiguadade. Realmente nossa cultura depende de nossa diversidade....Parabéns Agora essa de adaptação à desigualdade é realmente cruel, espero assim como você que a tolerância e a sensibilidade humana supere isso....
17/06/2007 18:11:09


5 Rita - Maceió
Prezado Fábio, Integro a lista em que você é moderador. Excelente artigo. Mais um motivo para admirar sua pessoa. Um abraço. Rita Mendonça
16/05/2007 22:41:10


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