Planeta Educação

Aprender com as Diferenças

Fábio Adiron  Consultor e Professor de Marketing. Fundador e Presidente da Associação Mais 1. Membro da Comissão Executiva do Fórum Permanente de Educação Inclusiva. Moderador do Grupo de Discussão sobre Síndrome de Down do Yahoo Grupos.

Os Normais
Fábio Adiron

A discussão semântica nas comunidades que lidam com pessoas deficientes sempre é apaixonada.

Algumas vezes chega a ser radical e rancorosa. Se de um lado temos os adeptos dos eufemismos ou, como preferem alguns, do politicamente correto, do outro temos aqueles que querem ressaltar as diferenças e as deficiências, seja como preconceito, seja como forma de chocar os outros.
 
Uma dessas discussões gira em torno do conceito da normalidade. Afinal de contas, o que exatamente significa ser normal?

 Será que é normal ser diferente, ou é diferente ser normal?

Será que o Caetano Veloso estava certo ao afirmar que “de perto, ninguém é normal?”.
 
A palavra normal vem do latim, norma que era um esquadro usado por carpinteiros para traçar ângulos retos, em algumas línguas anglo-saxônicas continua tendo o sentido de perpendicular.

 No campo da conduta humana, a diretriz de um comportamento socialmente estabelecido.
Por isso, o adjetivo normal refere-se a tudo que seja permitido ou proibido no mundo humano, no mundo ético; e refere-se, também, a tudo que, no mundo da natureza, no mundo físico, ocorre, necessariamente, como descrito num enunciado físico.

Anormal é a qualidade daquilo que se mostra contrário às concepções admitidas num dado momento histórico.
 
Quando olhamos para a questão da deficiência, o uso da palavra normal tem uma origem médica, baseada na ocorrência de determinadas patologias logo é uma visão estatística.

Ora, uma distribuição normal é uma distribuição contínua que pode variar de mais a menos infinito, ou seja, qualquer ocorrência está debaixo de uma curva normal (já que a área debaixo da curva sempre corresponde a 100% das ocorrências). Pensando estatisticamente, não existe a anormalidade, o que existe são pontos mais próximos ou mais distantes da média.
 
A primeira definição mostra que é a sociedade (no aspecto ético ou no aspecto de teorização das leis físicas) quem determina os limites da normalidade. Na segunda, desaparece a exclusão, uma vez que todos são normais.
 
Neste sentido, desejo esclarecer o que entendo por diversidade, o que entendo por diferença e o que entendo por desigualdade.

 A diversidade faz referência à identificação da pessoa, por que cada um é como é, e não como gostaríamos que fosse. Esse reconhecimento é precisamente o que configura a dignidade humana.

A diferença é a valoração (portanto, algo subjetivo) da diversidade, e é exatamente essa valoração que abriga várias manifestações, sejam de rejeição ou de reconhecimento. É a consideração da diversidade como valor.
 
Como nos diz Maturana, cada homem se diferencia singularmente de outro homem não por razões biológicas, mas sim por que há diferentes crenças, comportamentos e pontos de vista distintos.

O respeito à diferença implica o reconhecimento de ser diferente, e a tolerância é o valor essencial de que a cultura da diversidade necessita.
 
Em uma sociedade sem exclusões sabe-se, desde o princípio, que as pessoas que participam têm diferenças cognitivas, afetivas e/ou sociais, de gênero, étnicas, culturais etc.

Por isso, há que organizar a sociedade pensando-se nessas diferenças e não em pessoas hipotéticas. Uma organização cujo epicentro seja a diversidade e não a normalidade.
 
Viver na diversidade não se baseia, como pensam alguns, na adoção de medidas excepcionais para as pessoas com necessidades específicas, mas na adoção de um modelo de sociedade que facilite a vida de todas as pessoas em sua diversidade.

Se isso não é entendido adequada e corretamente, corre-se o risco de confundir "adaptação à diversidade" (que supera a deficiência) com "adaptação à desigualdade" (que ressalta a deficiência).

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas