A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Professores reféns ou reféns dos professores? - 04/04/2006
Idéias para libertar professores e alunos

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Em seu novo livro a educadora Tânia Zagury revela, a partir de extensa e importante pesquisa alguns aspectos bastante reveladores quanto ao professorado brasileiro. Ficamos sabendo, por exemplo, que nossos educadores estão conscientes da deficiente formação pela qual passaram e que resultou em seus diplomas e licenciaturas.

O fato de existir essa consciência é significativo e relevante. Poderia ser o indício de que uma transformação da realidade educacional estaria próxima de acontecer. Afinal de contas se o principal sujeito e articulador da educação percebe com clareza que os anos de estudo pelos quais passou não são suficientes para lhe tornar totalmente apto a execução de seu trabalho... Deduz-se que esse educador irá tomar providências e se aperfeiçoar para que suas aulas melhorem a partir de novos estudos, cursos, leituras,...

Será que isso está acontecendo? E se esses cursos estão sendo realizados (como em muitos municípios e estados, com o apoio do poder público), até que ponto estão sendo úteis para a reformulação e atualização de conceitos, práticas e idéias na sala de aula? Com que freqüência um professor se preocupa em ler um novo livro que oriente sua prática pedagógica ou que coloque na ordem do dia seus saberes em sua formação específica (matemática, história, física,...)?

Outro relevante acontecimento registrado nas escolas e que certamente deteriora as condições de ensino e atrapalha a vida dos professores refere-se a uma maior necessidade de trabalho em parceria entre a escola e a família. É reclamação corrente dos professores que os pais “nadam contra a maré” por terem adotado uma postura mais liberal em relação à formação de seus filhos.

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Pais e professores devem ser parceiros e devem estar de acordo quanto aos
rumos da educação de seus filhos/alunos. Nesse sentido as regras e os
caminhos do processo de ensino-aprendizagem devem ser especificados pela
escola para a família. Isso evita que embaraços e contratempos afetem essa parceria.

Esse liberalismo interfere na escola na medida em que os estudantes passam a ter, quase sempre, todo o apoio da família, mesmo que isso resulte num confronto com as orientações e opiniões da escola. Essa postura desvaloriza a participação dos educadores na formação dos alunos e coloca em xeque até mesmo a sua capacidade profissional.

Ao colocar tal questão em evidência, os professores entrevistados por Tânia Zagury, mostram que perderam a autoridade em sala de aula em virtude das interferências e desautorizações das famílias quanto as medidas que tomam, por exemplo, para disciplinar o trabalho na escola.

Conheço casos de pais de alunos que chamados às escolas reforçam atitudes contestatórias, defendem seus filhos mesmo em casos nos quais não há como isentá-los de responsabilidade (destruição do patrimônio escolar, ofensas aos professores, agressão a colegas,...) e que, não contentes com as “asas” que estão dando para seus filhos, ameaçam professores, diretores, orientadores e coordenadores de processos...

Mesmo nesse caso cabe aos educadores agir com mais pulso, demonstrando sua autoridade e fazendo valer seus direitos. No início de cada ano letivo (e se necessário a cada reunião bimestral com os pais), os diretores e professores deveriam organizar uma palestra introdutória aos trabalhos em que deixassem claros os estatutos e encaminhamentos tomados pela escola em situações extremas.

Isso é tão essencial quanto uma clara demonstração dos procedimentos e da metodologia de trabalho adotada pela escola para evitar qualquer tipo de embaraço perante os pais e os próprios alunos. Deve-se ainda, de preferência, documentar todo esse procedimento e pedir aos pais participantes que atestem o conhecimento das normativas da escola através de sua assinatura.

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Os professores são aliados dos alunos e trabalham em prol de seu pleno
aperfeiçoamento e desenvolvimento intelectual e físico. Nesse
ínterim devem ser utilizadas as novas ferramentas educacionais e
se estabelecer um ambiente de proximidade e empatia.

Pode parecer um tanto quanto radical, mas demonstra o compromisso, a energia, o envolvimento e também o quanto é profissional o trabalho educacional...

Também é destacado no trabalho de Zagury que os professores se sentem desconfortáveis por serem cobrados quanto a um melhor relacionamento com os estudantes. Dizem alguns educadores que o domínio do conteúdo de suas disciplinas deve ser o principal referencial para a análise de seus rendimentos.

O bom professor, de acordo com essa visão, é aquele que conhece tudo de biologia, geografia ou português e não aquele que estabelece um ambiente harmonioso com os alunos por compreendê-los, dialogar com os mesmos e estimular o seu estudo.

Considero que precisamos realmente aprofundar e atualizar nossos conhecimentos em nossas áreas específicas de atuação, no entanto penso que a escola deve estimular o surgimento de profissionais que estabeleçam elos de comunicação e relação com os outros profissionais da educação. Devem ser estimulados projetos interdisciplinares entre os professores, as “conchas” onde se encontram as disciplinas precisam ser superadas...

Esse é apenas um dos trabalhos que devem ser encarados pelos professores. O outro se refere à necessidade de criar vínculos com o local, as pessoas e o trabalho que realizam. Temos que gostar daquilo que fazemos, do local onde desenvolvemos nossas atividades e, principalmente, das pessoas com as quais encontramos diariamente para nossa labuta.

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Temos que colocar mais cor e vibração em nossas aulas. O professor tem que
ser mais criativo. Inovação é essencial para que consigamos superar o marasmo e
o desinteresse de nossos alunos. Somente assim as escolas se tornarão
aquilo que realmente almejam, ou seja, centros de excelência.

Não é possível ficar indiferente a classes com 30 ou 40 alunos. Temos que demonstrar que estamos ali, vivos, atuando com energia e disposição e que, acima de tudo, somos aliados desses estudantes na medida em que trabalhamos pelo aperfeiçoamento dos mesmos através da mais importante ferramenta para chegarmos ao conhecimento, a educação.

Se a postura do professor é a de um técnico de laboratório lidando com bactérias ou micróbios a partir da lente de aumento de microscópios, usando luvas, máscaras e roupas que o isolam completamente de qualquer contato com o “objeto” de seu trabalho, como podemos esperar que a educação se concretize?

Há, evidentemente, aspectos destacados pelos professores que merecem revisão por parte dos governos. Um deles é o sistema de ciclos básicos que aprovam automaticamente os alunos e que levam a situações extremas em que vários desses estudantes terminam o ensino fundamental sem saber ler, escrever ou fazer cálculos matemáticos com a precisão e competência que deveriam. Não temos preparo e cultura para lidar com uma proposta dessas no Brasil no atual momento de nossa história.

Falta aos nossos professores maior autonomia e criatividade para reverter os problemas do sistema, os empecilhos que são colocados em seu caminho. Sei que não é fácil, mas é possível.

Percebo que precisamos demonstrar mais desprendimento e força quando vejo que os próprios professores reconhecem que os alunos carecem de maior motivação para as aulas. Nesse momento temos que reconhecer toda a nossa enorme carga de responsabilidade para “virar o jogo”, ou seja, cabe a cada educador, no exercício de seu planejamento e, posteriormente de suas aulas, mudar completamente esse panorama.

Para isso temos que renovar nossas práticas. Socializar os bons procedimentos e resultados. Ler as inovações divulgadas pela Internet ou em revistas especializadas. Buscar apoio em bibliografias recentes. Melhorar nossos conhecimentos específicos. Dialogar com outras disciplinas. Criar pontes entre as matérias através de projetos. Ter ousadia para tentar e testar novas alternativas. E se errarmos, não temer novas tentativas...

É por conta de atitudes e situações como essas que me pergunto até que ponto o título do livro de Zagury é realmente representativo da realidade educacional brasileira. O livro se chama “Professor refém” e fico pensando se não seria melhor “Professor refém e (alunos) reféns dos professores”... Temos que nos libertar dessas pechas e nos tornarmos professores que emancipam, que renovam, que revolucionam...

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10 COMENTÁRIOS

1 Leandro Pontes Boa Nova - Porto Alegre
Enquanto houver mais de 30 alunos por turma dando lucro aos diretores e governo, a indisciplina irá continuar e a educação no país continuará uma m Primeiro passo: diminuir o número de alunos por turma, assim é possível conscientizar o aluno para tudo Segundo passo: contratar mais professores Só que isso NUNCA irá acontecer porque o governo e a escola irão perder o lucro
14/04/2012 08:31:13


2 Jorge - Rio de Janeiro
Não é possível ao professor que trabalha com alunos completamente equivocados quanto ao que seja educação, respeito e estudo inclusive se apoiando no ECA, criar laços mais harmoniosos com sua classe. É fundamental que fique claro que a culpa é única e exclusivamente dos alunos e suas famílias devidamente apoiados em um sistema que lhes dá sempre a razão, não há como impor respeito. O professor é a única vítima e o único refém. Eles não desejam a nossa amizade e por mais que façamos eles rejeitam qualquer tentativa de aproximação para criar um ambiente melhor. É fundamental dar ao professor instrumentos que o permitam exercer autoridade sobre os alunos, pois estes não reconhecem NINGUÉM no mundo como autoridade salvo milicianose traficantes armados.
06/09/2011 08:47:36


3 Jônatas Félix da Silva. - LimoeiroPE
Muito bem Izabel, seu comentário foi mais proveitoso que o texto em si! Por que será que em todas essas conversas sobre educação a culpa do fracasso sempre acaba sendo dos professores? O fato é que nossa educação, nossos alunos e merda, fazem pareia!! Os professores são os reféns de toda essa porcaria que chamamos de país! Parabéns Izabel, seu comentário é mais rico e verdadeiro que o texto comentado.
01/12/2010 15:43:53


4 isabel - curitiba
Não gostei do texto, nada criativo, porque criticar o professor virou coisa normal, inicia o texto bem aposto que quem escreve não trabalha com turmas de 5ª a 8ª não sabe realmente o que é trabalhar com alunos que mal sabem ler indisciplinados. Sem contar que professor é um trabalhador que muitas vezes vive em piores condições de sobrevivência que seus alunos, o que pesa na avaliação dos pais se realmente fizesse uso dos dados da escritora certamente, faria uma melhor avaliação deste profissional.
21/10/2010 17:40:15


5 Pedro - Curitiba
É fato que as faculdades de licenciaturas estão às moscas... Talvez esteja na hora de teóricos/retóricos de plantão como pesquisadores e pedagogos enfrentarem tudo o que os professores enfrentam em classe e, quiçá, colocar suas recitas milagrosas em prática. Falar é fácil, fazer é que são elas
13/03/2010 02:57:38


6 Karen - Belém
Concordo com você, é difícil mudar a realidade, mas não é impossível. Com muita luta e esforço tudo nós podemos fazer, basta ter vontade e apoio trabalho em equipe para promover a mudança dentro das salas de aula.
30/03/2009 12:32:19


7 Aguinaldo Martins - Sao Paulo
Gostei muito das idéias colocadas , estou no primeiro ano de pedagogia, e cada dia busco algo novo para somar em meus conhecimentos, esta missao de educador é muito ampla , e quando aparece texto como este fico muito feliz em ler , crio mais responsabilidade na pratica que vou exercer , cada dia aprendo e quando nao enten do busco informacao.
10/11/2008 14:52:16


8 Jussara Melo - São Francisco- MG
que texto bem colocado, existem professsores que acaham dque detém todo o conhecimento e nunca respeita o conhecimento previo do aluno. são considerados por muitos como celebridades do conhecimento, mas esses muitos sao aqueles que nada sabem.
17/06/2008 23:24:59


9 tavinho - camboriú-sc
esse é muito legal
16/06/2007 15:59:29


10 Eliane Isabel Belani - Pato Branco-PR
tem toda razão, ainda existem professores que se sentem donos da verdade e não estimulam os alunos a buscarem conhecimentos, e formar um cidadão critico e responsável, como estudante de pedagogia sinto que os alunos são muito mais vitimas do sistema do que os professores.
12/03/2007 08:36:44


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