Filosofando
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Por mais esperança e unidade de propósito - 13/04/2018
João Luís de Almeida Machado

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gestão governamental

“Nesse dia, nos reunimos porque escolhemos a esperança em vez do medo, a unidade de propósito em vez do conflito e da discórdia. Nesse dia, nós viemos para proclamar o fim às queixas mesquinhas e falsas promessas, às recriminações e aos dogmas desgastados, que por muito tempo têm enfraquecido nossa política.” (Barack Obama)


O jogo de palavras escolhido pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em seu discurso de posse, no ano de 2009, revela as incongruências do regime democrático, as dificuldades relacionadas ao estabelecimento e pleno exercício de práticas republicanas e, ainda, o quanto o fator humano pode distorcer o que deveria ser o princípio político a orientar os passos dos governantes e da população.

Ao mesmo tempo em que revela um pouco do veneno que há na administração pública, na gestão governamental, Obama apresenta o antídoto, ainda que de forma breve, em algumas palavras, a despertar a atenção de todos para os movimentos e ações que devem ser desencadeados para reverter e superar as ações centradas em interesse particulares, contrários à demanda justa de toda a população, em franca oposição ao que define a vontade da maioria.

Quando, no início de sua apresentação, Barack Obama fala em Medo e Esperança, dando início a compreensão do ritmo que marca o passo coletivo, com as pessoas acuadas pelo poder alheio, relacionado aos desmandos de governantes e ao dinheiro das corporações e dos lobbies, para que nunca deixemos de acreditar, mantendo acesa a crença de que algo bom irá acontecer. Há não apenas o estímulo ao pensamento positivo, de superação, mas o real chamamento para que as pessoas de bem reajam a dominação, ao fato de estarem sendo subjugados, diminuídos, subtraídos em seus direitos, ofendidos, desrespeitados e atacados.

A democracia se estabelece, no atual estado de direito, a partir do voto e da representatividade, no entanto, não se encerra a participação popular ao escolher seus governantes. Nem tampouco o pleito representa a única ou a grande alternativa republicana pois que, a res publicae, termo latino que dá origem a palavra que hoje tanto utilizamos, se estabelece e se consolida, de fato, com a participação plena da população em todos os momentos. A escolha de representantes pelos eleitores é apenas momento significativo através do qual aos homens e mulheres por eles escolhidos são atribuídas responsabilidades que exigirão, dos mesmos, conduta ética, equilibrada, sensata e, acima de tudo, em que o poder atribuído não lhes afaste do objetivo maior desta concessão da democracia, ou seja, de que devem governar, criar leis e julgar méritos de acordo com o interesse coletivo, jamais em conchavo com poucos, relacionado a interesses mesquinhos ou em troca de qualquer favor ou benefício pessoal.

Ao invés de conflitos e discórdia, continua Obama, que prevaleça a unidade de propósito. As divisões percebidas no atual contexto do Brasil e do mundo nos fazem perceber o quanto é difícil para as pessoas, mobilizadas pelo consumismo, pelo egoísmo e por seus interesses particulares, entender e admitir consensos. Atuar em prol da coletividade exige maturidade e capacidade de abrir mão de ideias, interesses próprios, resultados almejados para si ou para aqueles que são próximos.

O embate de ideias e princípios, de propostas e projetos é parte da democracia, está inserido nos princípios republicanos, mas depreende dos participantes, a compreensão de que, no final das contas, as decisões têm como propósito o bem maior, no qual todos sejam, de algum modo, agraciados pelo resultado final apresentado, obtido, escrutinado.

O fim das falsas promessas e das queixas mesquinhas, proclamado pelo ex-presidente americano, é algo a ser atingido, almejado por todos, ainda que, a despeito das evidentes e grandes dificuldades que temos, inerentes a todo e qualquer ser humano, no sentido de superar o egoísmo, o egocentrismo e os partidarismos e particularismos. Prometer o que não é possível realizar e se ater a interesses pequeno-burgueses é algo difícil de ser superado, haja visto que é cultura estabelecida e ratificada diariamente por diferentes meios e canais. Ainda assim, ecoam as palavras de Obama e clamam para que superemos nossas limitações e os grilhões que nos impõem a cultura dominante.

Superar recriminações e dogmas desgastados é algo que, sem qualquer sombra de dúvidas, faz-se premente, continua Obama, neste breve pensamento de seu discurso de posse, algo que, num mundo tão dividido e sensível a contraposições irá exigir muito mais que acordos imediatos e resoluções meramente políticas. O que se demanda neste caso são concessões, compreensão, empatia e a capacidade de se colocar no lugar do outro, sem se deixar levar por aquilo que é somente seu.

Difícil? Certamente que sim, mas não impossível. Algo que exigirá, certamente: esperança, unidade de propósito, dignidade, caráter e ética.



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