Filosofando
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Barrigas ou cérebros? - 28/03/2017
João Luís de Almeida Machado

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revolução agrícola, rápido e fortuito

“Como já recordamos, quando teve início a revolução agrícola, cerca de 10.000 anos atrás, toda a população mundial não superava os cinco milhões de habitantes. Hoje somos seis bilhões e, quando lembramos disso, a primeira coisa que pensamos é que se trata de seis bilhões de barrigas para encher. Mas a questão pode ser vista também de outro ângulo: todas as noites seis bilhões de cérebros adormecem e começam a sonhar formas, objetos, ideias, cores, sons, jogos, negócios, sociedade, convivências e conflitos inéditos, boas ações, torturas e iniquidades de tudo que é tipo; e todas as manhãs seis bilhões de cérebros acordam e começam a pensar em como traduzir na prática esses sonhos. E às vezes conseguem”. (Domenico de Mais, em seu livro Criatividade e Grupos Criativos)

E você, quando pensa a situação, tende a analisar do ponto de vista das barrigas a alimentar ou dos cérebros a criar sonhos?

Hoje já ultrapassamos a barreira dos 8 bilhões de habitantes. Quando o sociólogo italiano Domenico de Masi escreveu esta obra, em 2002, o mundo contava com menos cérebros para pensar e criar ou, ainda, tinha menor quantidade de barrigas para encher.

Partindo-se apenas da premissa trabalhada por De Masi neste pequeno trecho de sua obra, podemos ainda considerar que, mesmo as barrigas para alimentar são elementos interessantes já que, certamente, a fome e a necessidade de obter diariamente alimento para se suster mobiliza os homens a buscar respostas, a criar soluções ou, ainda, a pelejar por suas próprias vidas.

Em se considerando as guerras - locais, regionais ou mundiais, pode-se pensar que a fome (e outros fatores) mobilizam a humanidade a apresentar sua mais nefasta face, a de uma competição vil pelos meios de produção e subsistência.

Por outro lado, a necessidade igualmente move os seres humanos a pesquisar, estudar, ler, tentar, experimentar, praticar e, entre erros e acertos, consolidar novas ações, reformular caminhos já percorridos e revalorizar práticas ancestrais para solver suas necessidades, das mais imediatas, como conseguir o alimento de todo dia, até chegar à lua ou curar doenças e erradicar o analfabetismo.

Quando as pessoas conseguem unir esforços e fazer com que projetos sejam desenvolvidos, tornando-se soluções que podem ajudar tantos outros seres humanos, percebemos que o cérebro articulado pelas necessidades, prementes ou não, devidamente estimulado, numa reunião de mentes em redes presenciais ou virtuais, pode transformar óleo de pedra num poderoso elemento que movimenta o planeta, erigir pontes, salvar vidas ou alimentar milhões, somente para citar um exemplo mais imediato.

A possibilidade de superação técnica encontrada pelo homem ao longo de sua trajetória pela Terra, desde seus primórdios, quando por exemplo desenvolveu seus primeiros ferramentais ou realizou a revolução agrícola e pastoril, ocorre numa constante que, com o advento da ciência e de seus métodos, permitiu um andamento muito mais estável, rápido e fortuito diante dos constantes desafios que se apresentam.

Por outro lado, ainda que a técnica e a ciência tenham sido eficazes nesta proposição de respostas aos anseios da humanidade, os desafios maiores para resultados ainda mais plenos para todos passa pela capacidade de empatia, entendimento, solidariedade, compartilhamento, ajuda e trabalho em rede.

Tudo isso, é claro, embasado por um humanismo que, infelizmente, se mostra cada vez mais distante da realidade se considerarmos que o consumismo, o individualismo, a ascensão de linhas políticas excludentes e discriminatórias, a eleição de políticos que representam o pensamento mais intolerante, os excessos praticados por homens e mulheres em sua relação com a tecnologia e outros aspectos acabam por distanciar todos daquilo que realmente procede ou interessa, ou seja, uma atuação em prol do todo, do coletivo e não de partes ou parcelas, de interesses mesquinhos ou do vil metal.

O empreendimento coletivo ou privado é válido, não há aqui censura a diferentes formas de pensar e agir, apenas a constatação de que os extremismos e falta de humanismo acabam nos condenando a sermos mais “barrigas para alimentar” que ocasionam conflitos por conta das evidentes disputas relacionadas a este e outros interesses do que de sermos “rede de cérebros”, ativos, vivos e interessados em criar, cada vez mais, soluções e respostas, como preconiza Domenico de Masi.



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