Leminski e a vida em haicais - 29/08/2016
João Luís de Almeida Machado
“Esta vida é uma viagem pena eu estar só de passagem.” (Paulo Leminski)
Mas há a passagem. A viagem acontece. Você está aqui. Para onde vai, para onde foi, com quem esteve ou estará... Todas as decisões te pertencem. O problema é que, tantas vezes abdicamos da viagem, do trajeto, da rota. Estamos lá, mas perdemos o encanto de quem vive intensamente cada minuto ou segundo que lhe é concedido. Entramos no automático e abdicamos das paisagens, cheiros, sabores, sons, encontros e tudo o mais. O mais triste não é morrer, é não viver. Curta a sua passagem, aproveite ao máximo esta viagem única, sem volta, que a vida lhe oferece...
“Pelos caminhos que ando um dia vai ser só não sei quando.”(Paulo Leminski)
Esperar, esperar e esperar. Não cai do céu. Não cai no colo. Vá e aconteça. Faça como os romanos, em suas conquistas, que sempre concluíam seus êxitos no espírito de Júlio César: “Vim, vi e venci”. As oportunidades por vezes batem à sua porta e você olha pela fresta. Se acomoda. Se assusta. Se encolhe ou se amedronta. Sua insegurança te cega e amanhã é outro dia, o rio continua lá, mas as águas já não são as mesmas. O que você está esperando? Vá atrás de seus sonhos.
“Viver é super difícil, o mais fundo, está sempre na superfície.”(Paulo Leminski)
A superfície é o que você coloca a sua frente e que te impede de ser, acontecer, realizar. A dificuldade da vida está dentro de cada um de nós. Erguemos muros, barreiras intransponíveis que poderiam ser derrubadas se quiséssemos. Quantos muros de Berlim estão diante de cada pessoa? No fundo somos todos inseguros e medrosos, sempre à espera da onda perfeita e, quando ela chega, por mais que a reconheçamos, tantas vezes deixamos ela passar como se a seguir viesse outra ainda melhor...
“Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além.”(Paulo Leminski)
Pode tanto nos levar além daquilo que esperamos quanto para o além, enterrando nossas ilusões e nos fazendo viver uma vida triste, medíocre, pobre, sem que nossos sonhos se realizem. Leminski provavelmente se refere a segunda possibilidade. Temos que acreditar na primeira, ou seja, na possibilidade de que nossa busca interior nos revele e também ao mundo quem somos, o que podemos fazer, aonde podemos chegar. Não é preciso descobrir a cura do câncer, ganhar medalha em Olimpíada ou assinar um tratado de paz que encerre uma guerra, basta ser você e, com isso, fazer do mundo um lugar melhor só porque você passou por ele.
“A vida não imita a arte. Imita um programa de televisão ruim”.(Paulo Leminski)
E a sua vida? É como um programa de televisão ruim? O que te impede de mudar de canal? O que faz com que você continue sendo aquele show de humor sem graça ou aquele folhetim forçado cujo drama não emociona ninguém? Ademais, para a minha vida prefiro escolher eu mesmo a trilha sonora, o enredo, escrever um roteiro único, incrível, com grandes artistas como protagonistas a meu lado, envolvendo e fazendo rir ou chorar conforme o momento da vida que estiver experimentando. Não faço da minha vida um programa de TV, não quero imitar a arte tampouco, vivo para que aquilo que é minha experiência possa ser, isso sim, um filme inesquecível, clássico e, como tal, eterno.
“Abrindo um antigo caderno é que descobri: antigamente eu era eterno.”(Paulo Leminski)
É, a eternidade não existe em carne e osso. O que ficam são as lembranças. As palavras escritas, os desenhos rascunhados, os quadros pintados, os filmes gravados, as gravações em áudio que fazem com que você continue por ali, próximo, sempre que alguém sentir sua falta. Ficamos nas pessoas, nos traços, vozes e atos de nossos filhos, sobrinhos, netos, bisnetos... Estamos de passagem, como Leminski bem destacou num de seus haicais, mas que essa viagem seja, ao menos, inspiração para alguém, marcada pela luta por dias melhores, de muito amor, paz e felicidade.
# Professor também precisa saber usar tecnologias
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