Terrorismo e educação - 22/08/2016
Wanda Camargo
Um dos “pais” do terrorismo atual foi John Brown, que em 1859 perpetrou um bem intencionado e estúpido ato de extremismo. Este abolicionista tentou iniciar, com o auxílio de vinte e um correligionários, uma revolta de escravos, e foram derrotados por um pelotão de fuzileiros navais.
A tentativa, canhestra e precipitada, teve como comentário de Abraham Lincoln: “não foi uma insurreição de escravos; foi uma tentativa feita por homens brancos de provocar uma revolta, da qual os próprios escravos se negaram a participar”. A causa era justa, abolir a escravatura, com a intenção óbvia de precipitar a guerra civil, que já estava na iminência de começar, porém o ato violou não apenas a lei, e sim direitos, não respeitando sequer a vida humana, e princípios básicos da viabilidade de uma ação.
É muito difícil determinar o que move um terrorista. Muitos deles devem se sentir comprometidos com causas diversas, lutas pela libertação, dever religioso, ideologia ou simples vingança; embora esses possam ser os mais perigosos, são os mais previsíveis, há método na gênese de sua loucura.
Os que nos deixam perplexos são aqueles que agem pelo que não parece motivo suficiente para a ação, mas provavelmente suas razões estão no mais escuro da alma humana: inveja, ressentimento, sentimento de exclusão. Não devem ser outras as razões pelas quais estudantes americanos, que não conseguem se integrar nas elitistas patotas das “high schools”, fazem uso do acesso fácil a armas de fogo e matam colegas antes de se matarem; no entanto a exclusão mais dolorida talvez seja a interna.
Aqueles que têm real interesse no terrorismo escondem-se nas sombras, como em todos os tempos o fizeram. Deixam o trabalho sujo de matar e destruir aos seguidores que se julgam “lobos solitários” e devem acreditar que fazem alguma diferença no mundo, além de fazê-lo pior e mais inseguro, meros títeres de jogos que desconhecem, verdadeiros bobos solitários.
Assistimos à prisão de alguns jovens, supostamente envolvidos com o Estado Islâmico, que pretenderiam cometer atos terroristas durante as Olimpíadas do Rio. Ainda é cedo para avaliar se todos eles representariam mesmo algum perigo, ou se a maioria era apenas de boquirrotos deslumbrados com o noticiário internacional. As redes sociais podem ser elemento de potencialização da insanidade ainda quando não a criam; o acesso indiscriminado ao que parece ser informação confiável, a ilusão de ser ouvido pelo mundo inteiro, a sensação de pertencimento ao fazer parte de grupos que supostamente pensam da mesma forma. Alia-se a isso o sentimento de estar protegido, afinal o que se escreve será lido apenas pelos iniciados, ou não? Publicaram-se comemorações a ataques ao “ocidente”, fizeram-se conspirações para comprar armas e outras sandices, tudo monitorado pelos órgãos de segurança que em tempos normais talvez sequer lhes dessem atenção, mas o país sediará um evento de proporções globais, e todo cuidado é pouco.
Nenhum dos terroristas até agora deixou de revelar, em seus perfis analisados após atentados, desajustes emocionais sérios e afastamento dos processos educativos formais, por dificuldades financeiras ou existenciais, de forma geral inexistindo uma profissão, um dos aspectos importantes pelos quais nos definimos no mundo, possibilidade concreta de garantir a própria subsistência, além de inclusão comunitária.
E estes excluídos aparentemente estão dispostos a destruir tudo aquilo a que não terão acesso, o terror inesperado e gratuito torna-se parte da proposta exatamente para, através da mídia e escândalo gerado, expor a “sua” tragédia.
Apesar da retórica abundante sobre o papel reservado aos jovens na “construção do futuro”, é cada vez mais perceptível que alguns estão alijados desta convocação.
Às instituições de ensino cabe preparação dos recursos humanos para a sociedade da informação, mas como atuar sobre este imenso contingente fora das escolas?
# O aluno e a Comunidade de Conhecimento
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