Filosofando
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Jogos Olímpicos: O Brasil pode chegar ao pódio? - 05/08/2016
João Luís de Almeida Machado

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tocha olímpica

O Brasil tem grandes chances de medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Em esportes coletivos ou individuais, como no Vôlei ou na natação, por exemplo, temos atletas que irão brilhar na maior competição esportiva do mundo. Disputar esta competição em casa certamente traz maior motivação, torcida e brios aos esportistas do país. Estamos todos na torcida para que isso aconteça, mas o pódio ao qual o texto remete não é aquele destinado a premiação ao final de uma competição, seja qual for a modalidade em questão, a menção tem como foco a realização dos jogos que permita ao país e a seus habitantes sentir que, passada a competição, fomos dignos de medalha pela condição oferecida aos visitantes, funcionamento da estrutura, legado para o país, segurança durante o evento, serviços prestados, transportes de boa qualidade...

O estado brasileiro, seja o governo federal ou as autoridades cariocas, não cumpriram a contento o que delas se esperava desde que a cidade maravilhosa foi escolhida para ser sede deste importantíssimo evento esportivo internacional que ocorre a cada 4 anos.

As obras de infraestrutura estão sendo entregues a poucos dias do início das competições, ou seja, fora dos prazos mínimos para sua testagem e apreciação pelos usuários locais; os custos extrapolaram, e muito, os orçamentos iniciais para as obras realizadas; parte do dinheiro destinado as instalações esportivas ou melhorias nas vias de transporte no Rio de Janeiro, como já sabemos, foram desviadas para os bolsos de políticos corruptos, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público; a Lagoa Rodrigo de Freitas não foi saneada conforme prometido quando se iniciaram as ações que visavam preparar a capital fluminense na sede dos Jogos...

Quando o Brasil recebeu a Copa do Mundo de 2014 tivemos situações semelhantes. Obras inacabadas para o grande evento do futebol mundial não entregues, escoadouros de dinheiro público que acabaram abastecendo o propinoduto existente no país, algumas destas construções não tendo sido completadas até hoje, quando já se passaram 2 anos do final daquele evento.

O que fez com que, então, o mundo e a FIFA reconhecessem o campeonato mundial de seleções de futebol realizado no país como um grande êxito?

Apesar dos evidentes erros e problemas, o mundial de 2014 logrou sucesso em virtude da forma como os brasileiros recepcionaram os visitantes, transformando sua estadia no país verdadeiramente memorável, a ponto de muitos deles afirmarem posteriormente que pretendiam retornar ao Brasil para novas visitas.

Tendo em vista as evidentes atrações turísticas do país, aliadas ao povo que recebe como poucos os visitantes, sempre de forma simpática e hospitaleira, contando com aparato de segurança que garantiu aos turistas uma estadia sem maiores problemas nas praças onde se realizaram os jogos, tendo o apoio da rede hoteleira e de restaurantes, além de serviços de transporte funcionando de forma regular, os problemas estruturais e os erros políticos ficaram em segundo plano, brilhando a receptividade e a festa do futebol a unir os povos aqui representados.

O cenário no país após o final do mundial de futebol, como o próprio esporte bretão, mudou muito. As divisões políticas se evidenciaram fortemente e os erros e desvios da cúpula que governava o país levaram a abertura de CPIs e do processo de impeachment que resultaram no afastamento da presidente eleita e do presidente da Câmara dos Deputados. O momento em que os jogos chegam ao Brasil é marcado pelo governo provisório que aguarda o encerramento do impeachment para assumir o comando político da nação ou um eventual retorno de quem está sofrendo o processo de cassação de mandato.

A insegurança se estabeleceu e o esmorecimento da economia que acabou por desencadear uma forte recessão com encolhimento da economia, fuga de investimentos estrangeiros, inflação e desemprego em alta fazem com que a violência aumente e que greves aconteçam em todo o país, a assustar os turistas estrangeiros. Epidemias recentes de dengue, Zika e Chikungunya aumentaram a insegurança em relação ao país afastando atletas que viriam aos jogos e que, por conta da insegurança sanitária e médica, preferiram não participar desta edição das Olimpíadas.

Até mesmo entre os brasileiros passou a reinar evidente desânimo em relação ao evento, registrado em pesquisas que demonstram desinteresse de aproximadamente 50% da população em relação a competição e um grande número de ingressos encalhados as vésperas do início dos jogos.

Há, no entanto, uma luz no fim do túnel.

Como em 2014 a resposta parece estar, principalmente, nas mãos do povo brasileiro, ou seja, como artífice de um evento vitorioso a partir de sua capacidade de superar as dificuldades e bem receber os visitantes.

Não sabemos se será possível lotar os estádios e complexos esportivos onde as competições irão ocorrer. Isso não é o mais importante agora. Essencial é garantir a quem for ver in loco as disputas que a experiência seja agradável e segura.

Do transporte a chegada aos locais de competição; passando pela entrada nos recintos ao apito final, o que se espera é que o visitante possa apreciar os jogos, se sentir bem recebido, contar com serviços de boa qualidade, tendo acesso a banheiros limpos, a lanchonetes e restaurantes com bons produtos e serviços, centros de informação que lhes ajudem em caso de dificuldades ou dúvidas.

Além das competições, nos locais turísticos, indo de carro, ônibus ou metrô, é preciso que os brasileiros sejam solícitos e atenciosos, dispondo-se a ajudar no que for preciso, orientando os visitantes sempre que necessário.

A ida de tropas federais e estaduais para o Rio de Janeiro e o controle das vias públicas e dos locais de grande circulação é algo que, assim acreditam os brasileiros, pode trazer a cidade, como em outros grandes eventos recentes, tais quais os Jogos Pan-americanos, a visita do Papa para o Encontro Mundial da Juventude e a Copa do Mundo, a estabilidade que não apenas os turistas, mas também, e principalmente, os moradores desejam. E que a paz e a estabilidade passem a ser marca naquela cidade que é o cartão postal do Brasil para o mundo.

A resposta está, portanto, principalmente, na atitude da população brasileira, na sua capacidade de receber bem, de garantir ao país uma visibilidade internacional associada as Olimpíadas que mostrem todo o potencial turístico aqui existente. Assim, de fato, iremos receber a melhor e mais valiosa medalha de ouro que está em jogo nestas Olimpíadas, aquela que se oferece não apenas a um atleta ou a um time, mas a que se dá a toda uma nação.



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