Educação Profissional
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Os melhores alunos - 28/06/2016
João Luís de Almeida Machado

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universitários

Quando falamos de melhores alunos pensamos naqueles com as notas mais altas. Certamente há que se considerar que o desempenho nas avaliações é um quesito a ser considerado, mas não é o único e, tampouco, o mais importante elemento para que possamos destacar o perfil dos alunos que realmente se destacam e merecem tal consideração, como melhores entre seus pares.

O olhar mais imediato, aquele relacionado as notas, por vezes oculta aos olhos dos avaliadores uma série de qualidades que não são avaliadas e que, por conta disso, ocultam os grandes nomes que, é claro, estão nas fileiras da sala de aula que você ocupa como professor ou da escola na qual atua como coordenador ou diretor.

Rubem Alves e Gilberto Dimenstein, em um dos vários best-sellers escritos por eles, no qual batem papo sobre escola, sala de aula, bons e maus alunos, destacam que não estavam entre os melhores e que, muitas vezes, foram percebidos entre os maus alunos de suas respectivas turmas. A escola era decepcionante para eles, havia muita repetição de ideias, o ambiente era pouco propício a criatividade, de certo modo propiciava possibilidades mas era ao mesmo tempo limitador. A obra em questão é o livro “Fomos maus alunos”, da Editora Papirus.

O bom aluno não se acomoda, ou seja, se a escola não lhe propicia chances de crescer, se desenvolver, conhecer, aguçar sua criatividade, gerar questões e motivar buscas e pesquisas, ele ou ela demonstram, por vezes, que estão desinteressados ou então, cumprem de forma burocrática aquilo que lhes é pedido e buscam em outros espaços a possibilidade real de se desenvolver.

Este é apenas uma base inicial para entendermos os bons alunos.

Eles querem criar, não apenas receber informações prontas, replicar conceitos ou conteúdos, repisar conhecimento alheio, fazer listas e listas de exercícios. No começo isso pode até despertar algum interesse, mas depois de algum tempo, vem o cansaço associado a esta repetição infindável de processos mecânicos, a tornar-lhes pinóquios e não meninos, como o próprio Rubem Alves já destacava em seus deliciosos e inteligentes textos metafóricos.

Há também a questão dos relacionamentos. Consigo mesmo e com o mundo, com as demais pessoas. As tais inteligências intra e interpessoal destacadas pelo excelente trabalho de pesquisa do norte-americano Howard Gardner.

As escolas não percebem em seus alunos tais habilidades, relacionadas a disciplina, foco, autocontrole, autoconfiança, capacidade de lidar com situações de stress, liderança, tolerância, habilidade para deliberar, propensão ao diálogo, ética, empatia, solidariedade... Enfim, isso não cabe em nenhuma avaliação convencional e, em assim sendo, uma considerável parte dos talentos que trazem à tona os melhores alunos não transparece, fica oculto.

Nas escolas o foco nas inteligências intra e interpessoal ocorre apenas quando há problemas percebidos na conduta ou comportamento do aluno, seja para consigo mesmo ou em relação aos demais (colegas, professores, funcionários, familiares), que os levam a ação da orientação educacional e redundam em aconselhamentos, punições ou encaminhamentos a profissionais externos especializados (psicólogos, fonoaudiólogos, psiquiatras, psicopedagogos...).

A comunicação é outro elemento de fundamental importância para se perceber os melhores alunos. A forma como conduzem um diálogo, a capacidade de articulação oral ou por escrito, os argumentos, os subsídios, a leitura de mundo, o acervo cultural e outros elementos apresentam, de fato, aqueles que podem ser indicados como os melhores.

O aluno de ponta gosta de música, cinema, literatura, atividades ao ar livre, exposições, museus, circo, teatro e aprecia viagens, gastronomia, ciência, quadrinhos, tecnologia... Enfim, é alguém sintonizado, vivo, pulsante, que não se remete apenas aos conteúdos dos livros escolares que utiliza. Experimentar, registrar, gostar ou não gostar, tentar, errar, acertar e tantos outros verbos fazem parte de seu cotidiano.

Lidar com as cobranças, conseguir ter uma vida diversificada, não se fechar exclusivamente nos livros ou na internet, ser descolado, praticar esportes, se relacionar com arte e cultura, ter um bom grupo de amigos, namorar, se divertir nas horas vagas são, também, elementos não apreciados nas avaliações das escolas que ajudam a construir uma mente sã e uma possibilidade maior de brilho e destaque nas atividades escolares e fora dos muros da escola.

As escolas tendem a valorizar principalmente os alunos que se destacam na área lógico-matemática. É claro que estes alunos têm qualidades e merecem consideração por serem versados nesta área. Neste universo de tanta tecnologia hoje se fala muito de crianças e adolescentes prodígios que criam softwares, lançam aplicativos, se tornam empreendedores na área digital com pouca idade, abrindo mão até mesmo de estudos formais em nível universitário. Batemos palmas para suas conquistas e enriquecimento em alguns casos, há muitos méritos nisso tudo, inclusive demonstrando a sua competência para o empreendimento, algo que também não se trabalha ou que se valoriza nas escolas brasileiras. Talvez, em muitos casos, esta seja sua grande capacidade, ou seja, a de empreender e de transformar os conhecimentos científicos e lógico-matemáticos, o domínio das linguagens de programação em algo palpável, útil e válido para solucionar problemas.

O importante nessa busca é compreender que não são apenas os conceitos ou notas que afinal definem quem é bom aluno. A própria história posterior dos estudantes deve ser um subsídio para estudos quanto aos elementos que verdadeiramente fizeram diferença em suas vidas pessoais e profissionais.

O que iremos perceber é que o domínio pleno dos conteúdos ajuda, mas que, no final das contas, é o item menos relevante para o sucesso das pessoas. Muitos alunos com notas altas mas dificuldades quanto a outros elementos essenciais para suas vidas futuras acabam tendo carreiras modestas quando muito se esperava deles. Alguns, menos cotados quando nos bancos escolares, como Rubem Alves ou Gilberto Dimenstein, por exemplo, podem se tornar referências em suas áreas de atuação justamente porque não se limitaram as notas escolares e levaram adiante as demais qualidades que possuíam, não reconhecidas pelas escolas, como elementos que os fizeram destacar-se em suas profissões.

Obs. Ainda há que se destacar que, muitas vezes, estes ótimos alunos não contam com a atenção devida por parte da escola para estimular ainda mais seus dotes e qualidades. As inteligências múltiplas de Gardner foram incorporadas ao discurso dos educadores mas são pouco implementadas nas escolas.



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