Educação Profissional
Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.

Precisamos falar sobre Educação Inclusiva - 24/05/2016
Wanda Camargo

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imagem de um cadeirante andando pela calçada

Um famoso personagem do escritor Luiz Fernando Veríssimo era a personificação do senso comum e da impaciência aplicados a uma profissão que lida diretamente com as complexidades do ser humano, e sempre que percebia angústia existencial causada pela falta de sentido da vida, injustiças e desânimos, declarava que cuidaria disso: “deixa comigo, dou uns telefonemas aí e mudo a condição humana...”

É evidente que a condição humana não mudaria, mas o angustiado era convidado ao processo de aceitação da realidade com que temos de lidar de um modo ou de outro; procurar soluções possíveis para os problemas, fugindo de voluntarismos, é parte do amadurecimento.

Infelizmente, muitos dos nossos políticos, líderes, administradores, parecem pensar que basta decretar, legislar, ordenar, e tudo se resolverá magicamente. São comuns as “Leis Fulano de Tal”, homenageando seus proponentes que, cheios de boas intenções as deram à luz; com grande frequência sem indicação de recursos para aplicação, ou mesmo avaliação de factibilidade e até legalidade face à Constituição. Uma das consequências são as “leis que não pegam”, absurdo que só não é maior por que é real.

E esta maneira, simplista ao ponto de ser simplória, de resolver assuntos graves tem sido aplicada até mesmo em questões como Inclusão, um tema muito sério em todos os níveis, talvez mais no que toca à Escola pelo imenso poder multiplicador da educação; não é por coincidência que os regimes de cotas para grupos excluídos aplicam-se, na maioria, nesta área.

Uma questão a ser refletida com mais urgência é o da inclusão daqueles com deficiências físicas e mentais. A simplificação bem intencionada preconiza que esta deve ocorrer sempre em salas de aulas comuns, com deficientes convivendo em igualdade com os demais alunos, o que é justo e válido para as demandas que podem ser atendidas, em grande parte, por condições de acessibilidade ou equipamentos que já são obrigatórios na maioria dos espaços públicos; aplicam-se a deficiências de locomoção e movimento, de visão, de audição e às cognitivas de pequena dimensão.

Porém, em certo grau de necessidades, o direito de acesso e convívio não acarreta sempre inclusão ou aprendizado; além da questão óbvia da falta de qualificação de muitos docentes para a metodologia correta, é preciso lembrar que a eles ainda cabe responsabilidade de ministrar conteúdos (matemática, língua portuguesa, ciências e outras), em salas de 30 ou até 40 alunos, com as demandas normais da faixa etária. A grande queixa atual dos regentes de classe no ensino fundamental é exatamente a dificuldade enfrentada na rotina escolar, pela inclusão forçada e sem a correspondente formação específica. Muitos relatam a existência, numa mesma sala, de vários tipos diferentes de necessidades educacionais, cada uma delas exigindo formação distinta, e individualizado trato pedagógico.

Dar a atenção adequada a alunos com diferentes comprometimentos neurológicos custa caro e exige, além de professores especializados, outros profissionais como médicos, psicólogos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos, que complementam e melhoram o desempenho docente na busca de uma aprendizagem significativa, que represente salto qualitativo na vida do aluno e também de sua família.

As questões econômico-financeiras são importantes e necessárias, principalmente em épocas de crise, mas não podem se sobrepor a todas as demais obrigações do Estado. Quando se poupa recursos destinados à educação especial sem real conhecimento da área, comete-se um crime contra o próprio país e a educação.



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