Educar para a civilidade - 16/05/2016
João Luís de Almeida Machado
Papel jogado no chão. Latinhas espalhadas pela areia da praia. Quem defende isso? Todos queremos limpeza. Será mesmo?
Paredes pichadas. Telefones públicos destruídos. Bancos de praça quebrados. Selvageria e barbarismo ao alcance dos olhos de tantas pessoas. Alguém, em sã consciência, quer viver próximo a locais que de alguma forma foram depredados?
Entulho jogado no terreno ao lado. Pneus se acumulam em um depósito no fim da rua. Fios de energia ou telefone ficam pendurados ao alcance de qualquer um. O que está acontecendo?
Falta-nos a educação para a civilidade. Precisamos ensinar desde tenra idade as crianças não apenas a jogar no lixo aquilo que não será mais aproveitado como também promover a reciclagem, o reaproveitamento de materiais.
Não é, no entanto, somente a partir do discurso, do diálogo, da retórica que iremos conseguir efetivar, de fato, uma mentalidade em nosso país que nos permita ir a lugares públicos e percebermos o zelo, a limpeza, o cuidado com aquilo que pertence a todos nós.
É preciso semear, aguar, permitir acesso a luminosidade, o calor em medida adequada, o solo de boa qualidade, o adubo...
Uso a metáfora da semeadura pois o tempo tem que ser nosso aliado nesta ação pela civilidade, na qual as escolas têm importante papel assim como as famílias, o poder público, as empresas e toda a sociedade.
Monumentos pichados, depredados, que raramente são lavados, limpos ou polidos pelas prefeituras são exemplos claros do descaso das autoridades, cidadãos e, é claro, se tornam alvos fáceis e preferenciais para quem nunca conseguiu aprender regras básicas de convivência.
Conviver significa compartilhar, dividir espaço, respeitar os outros, auxiliar na consecução de um espaço que seja agradável para todos.
Veja as escolas, local onde as crianças devem aprender, cheias de grades, paredes manchadas ou simplesmente sujas, palavrões ou pinturas indecifráveis a espantar quem quer que seja deste ambiente, nada de apreço pela estética, pelo belo, por aquilo que enche os olhos e alma de ideias, esperanças, bons sentimentos... quem quer uma escola assim?
Na Copa do Mundo realizada no Brasil em 2014 a atitude dos japoneses nos jogos encantou muita gente. Eles levavam saquinhos plásticos e recolhiam o lixo que produziam para depois depositarem nos locais corretos, latões para materiais orgânicos ou recicláveis. Faz parte dos ensinamentos e da cultura nipônica este compromisso com o ambiente, com as outras pessoas, com os locais onde convivem.
Mais do que se admirar com este belo exemplo precisamos partir para ações práticas que nos permitam viver num país mais organizado, limpo, seguro e belo. Não basta apenas punir quem suja, polui, picha, depreda ou destrói patrimônios públicos ou privados. Esta ação é aquilo que ocorre no final do processo, quando já se efetivou o erro.
Prevenir tais ações, por mais que isso pareça chavão, é o que deve ser feito. E como as escolas podem fazer isso? De que forma as famílias devem trabalhar para contribuir? O que as empresas devem fazer para estimular práticas de civilidade? Como as autoridades públicas devem participar para efetivar um Brasil melhor neste aspecto?
Além de leis a coibir, autoridades a fiscalizar e punições para quem atentar contra a ordem pública, especificamente a limpeza e a manutenção de espaços públicos ou privados, cabe a todos, entre outras medidas:
- Agir de forma exemplar, ou seja, não sujar, depredar, quebrar, poluir ou agir de forma a praticar qualquer ato que corrobore ações prejudiciais a comunidade e ao patrimônio público ou privado. Parece simples, mas não é o que acontece. É preciso trabalhar de forma ininterrupta para que tais práticas se estabeleçam. Aquela latinha ou papel de bala do produto que você acabou de consumir, mesmo que não tenha nenhum latão de lixo por perto, não descarte no chão. Coloque num saquinho plástico, no seu bolso e carregue até localizar o local apropriado para o descarte. Crianças e adolescentes aprendem a partir de exemplos da vida cotidiana e, se o discurso e a prática não são coerentes, pior ainda...
- Se uma criança ou adolescente fizer algo errado, como pichar uma parede, por exemplo, faça com que ele mesmo corrija seu erro, pintando o muro onde fez a pichação. Não faça disso uma ação apenas de punição, mas torne a situação um aprendizado, trazendo à tona questões como a poluição visual, o dano causado a outra pessoa, o que aconteceria se fizessem isso na casa dele...
- Mantenha os ambientes onde trabalha ou vive sempre limpos e organizados. Faça com que as crianças participem desta ordenação e limpeza. Eles têm que se sentir responsáveis pelo ambiente que frequentam. Arrumar seus quartos, deixar a sala de aula com as carteiras nos lugares corretos, recolher materiais não utilizados ou a serem descartados e coloca-los nos locais apropriados, não sujar o pátio na hora do recreio... São ações mínimas que, certamente, ajudarão estas crianças e adolescentes a ter mais compromisso em relação a criação de ambientes melhores para si e para todos os demais.
- Organizar materiais escolares, guardar livros nas estantes em casa ou na biblioteca escolar, desligar corretamente os computadores depois de usar, não deixar luzes acesas, evitar o desperdício de água e outras medidas pequenas e corriqueiras são igualmente modelares para todos. É de criança que se aprende a ser um adulto responsável, decente, comprometido e ético.
A civilidade é algo que não está presente apenas no ambiente, mas também nas relações entre as pessoas. Respeito é primordial. Cumprimentar as pessoas, mostrar-se disponível para ajudar, resolver pendências com diálogo, colaborar sempre que possível e necessário para o bem geral são práticas que não trabalhamos com frequência nas escolas e no âmbito familiar. É preciso ir além dos conteúdos escolares e, acima de tudo, saber que a responsabilidade maior quanto a esta formação é das famílias, ou seja, que a elas compete estabelecer limites e promover sempre, acima de tudo, o respeito e civilidade entre seus filhos para que estes, no futuro, certamente, corroborem tais práticas e promovam também para as gerações posteriores tais valores.
# Complexo de vira-lata? Na área da Educação Inclusiva, não!
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