Educação Profissional
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Há espaço para profissionais criativos nas empresas? - 10/03/2016
João Luís de Almeida Machado

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tecla do computador com o icone de uma lâmpada

“A frase é no mínimo provocadora. E vamos logo a ela: Steve Jobs não seria contratado por 90% das empresas no mundo. Também é interessante quem a disse: Nolan Bushnell, fundador da Atari Corporation – a lendária companhia de vídeo games que transformou o produto em febre mundial no final da década de 70. De acordo com Bushnell, o modelo das empresas ainda não permite que novos Steve Jobs exerçam livremente a sua criatividade” (Depoimento publicado pelo estadão, para visualizar clique aqui )

Bushnell é reconhecido na história pessoal de Jobs como seu primeiro empregador, ou seja, aquele que lhe deu oportunidade de entrar no mundo dos negócios e da tecnologia. O futuro criador da Apple, ainda em seus primeiros passos, não era de acordo com os padrões das companhias norte-americanas de então e de hoje uma pessoa com perfil apropriado para contratação. Tinha vivido experiências diferenciadas como abandono prematuro da universidade, viagem à Índia para experiências espirituais ou compartilhado espaço em comunidade alternativa com outros jovens que, como ele naquele momento, estavam sob a influência da contracultura. Isso fez com que Steve, antes de empreender, andasse descalço, aderisse a alimentação vegana e não fosse adepto de padrões de higiene usuais para as empresas da época.

Neste sentido, em qualquer empresa normal, Jobs dificilmente passaria da análise prévia do currículo num processo seletivo.

Bushnell, no entanto, foi convencido por conhecidos, que valia a pena investir naquele jovem. Seu talento promissor já era percebido. Projetos com tecnologia e conhecimento avançado na área para os padrões daqueles primeiros anos da década de 1970 fizeram com que o influente dono da Atari contratasse Steve.

Dificilmente, no entanto, outras empresas o fariam, tanto naquela época quanto hoje em dia. Talvez, nos dias atuais, como afirma o ex-patrão de Jobs, seja ainda mais difícil abrir espaço para pessoas que tem perfis diferenciados, atitude, capacidade criativa e que assumam atos e postura de inconformismo em relação aos padrões dominantes.

Questionadores não são muito bem-vindos. Pessoas que se dispõem a pensar, repensar e propor inovações incomodam pois fazem com que o status quo seja colocado em xeque.

Inovar não é para todos. Exige um algo mais que está relacionado a trajetória, ao histórico do indivíduo, a sua capacidade de empreender, ao seu destemor em relação a novos caminhos, a busca que a todo o momento o motiva a ir além das velhas e desgastadas fórmulas.

Estas pessoas, no entanto, causam calafrios para gestores e chefes “quadradinhos”, que não conseguem pensar um milímetro fora da caixa. São aqueles que podem, literalmente, virar a mesa de ponta cabeça e gerar um aparente caos para quem só vê estabilidade na ordem e na continuidade, distantes de qualquer tipo de inovação, indivíduos que somente seguem a messe ou o que é ditado pelo mercado.

Colocar-se a frente da multidão para causar comoção, propor revisões, readequações ou mesmo revoluções como a que Jobs liderou ocorre raramente porque este DNA, esta identidade, ao mesmo tempo em que é cantada aos ventos como algo desejado, é silenciada sempre que possível pelos conservadores de plantão, temerosos de que os novos tempos não os acolham, não os admitam.

Bushnell tem razão quando afirma que 90% das empresas de hoje não contratariam alguém com o perfil de Jobs. Na realidade, talvez tenha cometido um erro apenas, o percentual de empresas que não contratariam alguém como o visionário empreendedor que criou produtos como o Ipad, os computadores da Apple e o Iphone seria, certamente, maior que 90%, chegando bem próximo dos 100%...



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