Filosofando
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Por linhas retas e tortas - 20/08/2015
João Luís de Almeida Machado

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“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo.”

(Fernando Pessoa. Poema em linha reta)

Uma vida sem levar porrada é o que todos apregoam viver. Menos eu. Assim se manifesta um dos maiores expoentes da língua portuguesa, Fernando Pessoa.

E que atire a primeira pedra aquele que não tiver pecados, diriam os estudiosos da Bíblia.

Erros existem e errar é viver. Nos caminhos da existência somos seres errantes porque vagamos e também porque, irremediavelmente, ao longo dos anos, ao lado de acertos memoráveis há, igualmente, erros inesquecíveis.

O maior erro consiste, no entanto, em negacear o erro, nosso lado atrapalhado ou desorganizado que nos faz dar mais voltas para chegar onde queremos de fato chegar, se é que, em alguns casos, lograremos êxito nesta empreitada...

Por vezes procuramos palavras, expressões, saberes, ações e não achamos. Pelo contrário, erramos nos vocábulos, ao estender (ou não) a mão, ao proferir um pensamento nosso ou alheio quando ele não cabia naquele momento ou situação, quando rimos em situação na qual deveríamos chorar...

Confesso meus erros e mais do que pedir perdão, penso que preciso aprender e rir deles e de mim mesmo.

Não sou super-herói e, tampouco é aquele que se veste de tal modo a tentar reproduzir o que somente na ficção de fato ocorre, como saltar prédios, voar e derrotas inúmeros malfeitores que aparecem pelo caminho.

Sou tanto o acerto quanto o erro que cometo ou cometi nesta história de vida.

Quantos, no entanto, como apregoa Fernando Pessoa, reconhecem suas falhas ao invés de somente se enaltecerem dos troféus que colocaram na prateleira de suas casas, a lembrar-lhes glórias que sozinhas não lhes explicam ou que, tampouco, lhes permitem a humanidade que a todos pertence e caracteriza?

Sim, porque humanos somos quando caímos e nos ralamos, quando proferimos impropérios em momentos de raiva ou rancor, nos momentos em que a preguiça é tanta que deixamos para amanhã ou depois o que deveríamos fazer hoje...

O que me encanta nas palavras de Pessoa é que nelas não há delírios quanto a si mesmo, o que poderia ocorrer se pensarmos se tratar de um dos maiores escritores da literatura mundial; há a certeza de que no fundo mesmo, somos todos isso mesmo, ou seja, seres incompletos que choram ou riem, que precisam uns dos outros, que sonham ou têm pesadelos, que vivem momentos felizes ou tristes e que, no fundo, o melhor de tudo é mesmo a soma, o percurso, os deslizes ao lado dos triunfos.

Vemos apenas César e seus inimigos a sua frente depondo armas nas imagens da história. E quando o grande general chorou, foi piegas, deixou seu orgulho ou soberba falar por si, comeu gulosamente ou simplesmente perdeu batalhas? Isso não sabemos... Mas certamente César também foi ridículo em muitos momentos, como todos os homens cujos nomes foram ou são celebrados ao longo dos tempos.

Para ser completo, num retrato mais próximo e fidedigno de mim mesmo, tenho que reconhecer e não desprezar, mas sim saber, que sou ao mesmo tempo reles, porco, vil, sujo ou parasita tanto quanto todas as melhores qualificações que possa ter. Só assim me perceberei pessoa, como compreendeu o Fernando... Pessoa!



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