Filosofando
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A dialética do Senhor e do Escravo de Hegel - 03/07/2015
João Luís de Almeida Machado

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Quem é o senhor? Quem é o escravo?

A escravidão é condição de sujeição a qual uma pessoa “pertence” a outra e, em assim sendo, se submete a trabalhar em benefício da primeira da forma que melhor convier a seu senhor. A história registra a escravidão, ao longo dos tempos, a partir de diferentes modelos, como na Antiguidade, em que os cativos de guerras eram transformados em escravos; outra condição de escravidão relaciona-se aos tempos modernos, na exploração colonial das Américas, em que europeus sujeitavam indígenas e africanos a trabalhar em minas ou plantações de gêneros tropicais como o açúcar, o tabaco ou o algodão.

Senhores são aqueles que exercem poder e autoridade sobre alguém baseado em relações estabelecidas por meio de coerção e submissão. Estes sujeitos utilizam o ferro e o fogo para fazer com que outros homens trabalhem em condições desumanas de sujeição, por motivos diversos, seja a guerra, uma cultura de desprezo e desrespeito a diferentes formas de viver, pensar e organizar a existência ou o preconceito de diferentes origens (racial, sexual, religioso, político, étnico), entre outras.

Hegel, em sua obra “Fenomenologia do Espírito”, ao abordar um dos pilares de seu pensamento, a dialética, utiliza escravos e senhores para explicar sua tese. Que tese é esta? O que é a dialética de Hegel? Como libertos e cativos ajudam a entender a proposta de Hegel? Observe a imagem abaixo para tentar compreender o pensamento hegeliano:

Percebeu que há elementos invertidos nesta figura? Quem é o cativo e quem é o senhor? Porque o homem que aparentemente, por suas vestes, estaria investido de autoridade para o exercício do poder sobre o outro, está amarrado por correntes a um peso que lhe impede os movimentos? Que motivos explicam um outro homem sentado como se estivesse a pensar tal situação e que, por seus trajes simples poderia muito bem ser percebido como o sujeito da dominação, da sujeição, o escravo?

Só há senhores, segundo explica Hegel, porque alguém foi submetido a condição de escravos. O ser senhor está, portanto, associado a uma ação e acorrentado a grilhões que o definem e o caracterizam, tornando-o, de fato, o verdadeiro cativo, preso a uma condição da qual não tem como se libertar.

O escravo, por sua vez, ainda que submetido aos trabalhos forçados e as correntes reais, que não aparecem no desenho, é aquele que se revê, se percebe, entende seus atos, realiza a vida pelo trabalho e não apenas se prende a uma outra figura pois que por suas ações, pode se emancipar, se não no mundo das leis e dos homens, na fundamentação jurídica e imediata, dentro de si mesmo, em sua consciência.

A Dialética de Hegel se revela justamente no embate entre as condições e ideias que aparentam na tese e antítese que representam apenas uma permanência, como se nada mudasse quando na realidade, a síntese, ou o resultado final deste choque liberta o cativo e aprisiona cada vez mais em um papel nefasto o senhor... Brilhante!



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