Filosofando
Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.

Animal doméstico pode ajudar na educação de jovens e crianças - 01/08/2014
Wanda Camargo

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Animal doméstico pode ajudar na educação de jovens e crianças. Crédito: veganfeast/Flickr


Surpreendente o abandono de animais em nossas ruas - principalmente na periferia das cidades, já que, no centro, estes são simplesmente atropelados, possivelmente finalizando uma vida de fome, frio e sofrimento. No entanto, quem convive com animais sabe da sua importância para o humor e até mesmo para a estabilidade emocional dos seres humanos. Baseiam-se nisso os projetos que levam cães e gatos a visitar doentes, convalescentes e idosos - ou pessoas com necessidades especiais a praticar equitação - e produzem resultados maravilhosos, tanto no combate à depressão quanto no processo mesmo da cura.

Geralmente no final do dia, caminham nas ruas das cidades os exaustos empreendedores de um negócio semi-informal: pessoas que andaram enormes distâncias puxando carrinhos, em que empilham todas as sobras aproveitáveis de uma sociedade industrial. São os trabalhadores da primeira etapa da reciclagem, os que deram e dão ao Brasil a posição de maior reciclador de alumínio do planeta. E nesses carrinhos, em meio aos restos da festa de ontem, da embalagem de anteontem e do jornal do fim de semana, talvez um bebê humano, já que creche não está fácil. Embaixo, atrás, sempre alerta, o cachorro.

O companheiro que não quer nada senão a companhia e a camaradagem, o que andou todos os passos junto com seu parceiro - e fará o mesmo em todos os dias possíveis. São companheiros queridos de moradores de rua e de carrinheiros; cachorros profissionais, SRD (sem raça definida, o popular vira latas); acompanham seus donos nas longas caminhadas em busca de materiais recicláveis, guardam seus poucos bens e seu sono contra ladrões e criminosos; dão amor e dignidade a muitos que já perderam tudo.

Professores sempre reconheceram o potencial educativo da posse responsável de um animal doméstico: crianças e jovens que aprendem a conviver com mascotes trazem para a escola maior carga de solidariedade, mais capacidade de olhar para fora de si mesmos, empatia facilitadora do processo de ensino-aprendizagem. Nas brincadeiras, é visível que a companhia de animais de estimação costuma desenvolver em seus donos o senso de solidariedade e pertencimento, além de mais completa compreensão das diferenças, constituindo bom auxiliar no combate à violência - tão fácil, infelizmente, de eclodir no ambiente escolar.

A construção de vínculos, essenciais para o estabelecimento da noção de cidadania, é parte inerente do processo educacional. A família é crucial - vindo dela as primeiras noções dos cuidados, dos laços afetivos que depois se desenvolvem no ambiente escolar. É impossível para a instituição de ensino preparar um bom profissional sem que este tenha a capacidade de perceber o sentimento dos demais - o que é exercitado desde a infância no contato com outras pessoas e animais.

Vários filósofos já ponderaram sobre a possibilidade de compreender mais globalmente uma sociedade apenas observando a forma como esta trata seus animais. Não resolvemos ainda a questão do analfabetismo, completo ou funcional, temos resultados pífios em exames internacionais e, dentro deste cenário complexo, pequenos componentes ajudam a entender como nos deixamos chegar a este ponto: o abandono dos animais certamente é um deles.



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