Caro
leitor, vamos refletir de forma sintética sobre algumas
fases literárias que tivemos em nossa história
para, no final, concordarmos ou não com uma nova proposta
literária. Convido-o para que, durante a leitura, sinta-se
viajando por nossas diversas fases literárias.
Comecemos pelo período colonial onde inauguramos nossa
literatura contendo como objetivo literatura de
informação, devido à necessidade de
avisar as características da terra encontrada e acenar para
a colonização.
José de Anchieta é apontado como um dos primeiros
a compor os escritores de nossa literatura e, sendo assim, podemos aqui
também encontrar a literatura jesuíta, com o
objetivo de informar e cativar para o lado religioso; era uma catequese
literária.
Dando sequencia, no século seguinte, embarcarmos nos
conflitos entre o espiritual e o material, a idéia aqui
avança com características carregadas de figuras
de linguagem e sem ser genuinamente brasileira, pois sabemos que nem
tínhamos como.
Por conta da descoberta do ouro em Minas Gerais, a razão e
objetividade sugerem que a vida bucólica passa a ser mais
valorizada e os escritores da época passam a seduzir para a
vida no campo.
Os escritores aqui se colocam como eu
literário, sendo um pastor que se apaixona pela mulher
amada, uma pastora. Essa fase deu abertura para no século
seguinte chegarmos ao romantismo.
No romantismo, a emoção sobrepõe
à razão. Temos ainda no mesmo século,
a convivência com outros escritores que declinam do
romantismo e partem para o realismo, escrevendo com bases na realidade
existente. Aqui encontramos exposição do real e
regional. Nesta época não há mais a
necessidade do “pastoricismo”.
Passamos pelo parnasianismo, é uma fase que influencia
bastante nas formas poéticas de escrita. A idéia
aqui é valorizar a forma clássica da
apresentação do que esta sendo escrito.
Acompanhando estas fases e outras que não citei, chegamos ao
modernismo. Esta fase literária oferece diversos movimentos,
alguns destacam o escritor Oswald de Andrade como articulador.
O movimento do pau-brasil, com propósito forte de libertar
os poemas em sua apresentação, e o movimento
antropofágico que é uma metáfora
intencional de digerir a cultura externa, não no sentido de
excluí-la, mas com intenção de
não imitá-la são exemplos disso.
Por este movimento pudemos nos sentir como parte de uma cultura
reconhecidamente valorosa e dar vazão a nossa criatividade e
conhecimento cultural.
Chegando à semana de arte moderna em 1922, temos a
renovação da linguagem cultural, ruptura do
passado com novas ideias e novos conceitos como a poesia apresentada de
forma declamada e não apenas escrita como era anteriormente,
marcamos neste momento o início do modernismo
(século XX).
Estamos agora no século XXI. Temos aqui o movimento
pós-moderno que é marcado por vários
estilos convivendo juntos e com respeito.
Diante do quadro histórico culminando aos vários
estilos literários convivendo juntos, chegamos à
fase que requer um movimento literário inovador e que venho
propor a seguir: Um movimento literário interativo!
Este movimento requer uma visão diferenciada por duas
vertentes: do escritor e do leitor.
1.
Do escritor: A proposta aqui
é que
nós escritores procuremos escrever de forma que resulte em
uma provocação ao leitor, suscitando desejo pelo
conhecimento, pela informação, pela pesquisa,
pela busca do resultado com prazer de experimentar, de pesquisar, de
buscar e desta forma acabar por aprender além da
informação por terem compartilhado
ações de interação.
A consciência do escritor deve estar voltada a saber que
literatura por prazer não é criada para ensinar,
mas sim para que o leitor conheça e tenha prazer em
usufruí-la.
O ideal é que o escritor consiga um texto
polissêmico. A polissemia em um desfecho ou em
vários pontos do enredo, da trama ou até de um
poema ajuda o leitor a questionar para si e para os outros.
É a cultivação do diálogo
através da literatura. O diálogo de
interação, a leitura que promove o intercambio de
ações, a literatura interativa.
O escritor poderá também contar com a
interação de gêneros
literários em uma mesma obra. (Como no meu livro
“Pedaços de Mim”, um livro de poemas que
contém realismo mágico e
narração).
Outras ferramentas o escritor poderá ter como recurso para
atingir o foco a que se destina.
2.
Do leitor: A proposta para o
leitor é de uma
leveza de intenção. Ler para ter prazer e
não para decorar, aprender ou se obrigar a algo.
Será uma leitura voltada para o prazer, onde ele se proponha
a conversar com o escritor, questionando-o, argumentando de forma a
pesquisar mais, buscar mais, refletir mais compartilhando, interagindo
e desta forma aprendendo e ensinando.
Cabe lembrar que a emoção que se faz por
intermédio da leitura é o prazer que se tem ao
interagir em uma literatura.
Márcia
Pitta é educadora
e escritora. Autora dos livros Pedaços de Mim,
Lição de Vida, Curta e Vida e o Pote
Mágico, os dois últimos publicados pelo selo
Novos Talentos da Literatura Brasileira da Novo Século
Editora.