No
escândalo nacional mais recente, acusados minimizam a
falsificação de um diploma de curso superior - e
muitos diriam que, na sequência de eventos, este detalhe
é insignificante. Na verdade, é um dos mais
graves, pelo valor dado à obtenção de
um diploma de curso superior, seja ele de que área for,
advindo da instituição mais humilde ou renomada,
para um exercício profissional.
Considerado no caso uma simples exigência, talvez
até descabida, para a obtenção de um
cargo garantidor de uma boa remuneração -
é disso que se trata -, mostra com clareza a
importância dada ao conhecimento proveniente deste diploma e
ao preparo para exercer uma função capaz de
contribuir com o desenvolvimento do País.
Afinal, qualquer profissão exercida com ética,
com trabalho dedicado e competência, nunca trará
apenas fortuna pessoal (que não tem nada de criminoso), mas
também a melhoria de toda a sociedade. O País
enriquece globalmente com o enriquecimento particular de seus
cidadãos, beneficiando a todos o acesso de cada um
ao conforto e ao consumo consciente.
Temos apreço pela autoridade, queremos ser acatados e
respeitados, mas nem sempre conseguimos ver o quanto a
substância de todo comando só pode vir do real
conhecimento. Ainda não temos a perfeita
noção do valor de um diploma dentro desta
conjuntura, num país de
“bacharéis”, no qual o título
sempre foi considerado importante (afinal, permitia usar o anel).
Apesar da mudança de costumes e abandono da joia
característica de cada profissão, ainda
não distinguimos da sabedoria o
certificado que ele deveria trazer. Qualquer um que durante
alguns anos efetivamente esteve nos bancos escolares e perdeu
várias oportunidades de simplesmente sair com os amigos
porque precisava estudar (quantas e quantas vezes!) ou apresentar seus
trabalhos aos professores, no fim do processo tem uma visão
mais ampla da carreira que escolheu e das dificuldades que teve de
enfrentar para adquirir competência.
Aprender não é fácil. Envolve muitas
frustrações – aquilo que
pensávamos saber, mas descobrimos ignorar, o
sacrifício de retomar e estudar mais - mas também
compensações pela alegria de finalmente observar
os próprios avanços.
Se há uma resposta mais apropriada para a
valorização do diploma, é a procura
por empregabilidade, já que uma dentre as mais importantes
funções das instituições de
ensino superior é a qualificação
profissional. Muito provavelmente por essa razão, vemos hoje
uma crescente demanda de alunos advindos da nova classe
média ao ensino superior.
A expansão da malha viária, das
informações sobre o mercado de trabalho, sobre as
vantagens da educação formal, a
pressão social, tudo isso colabora para a
presença desses estudantes em salas de aula. Para esses
alunos, que chegam curiosos e com sede de oportunidades, o desejo de
respeitabilidade, possibilidade de ter melhores empregos e acesso aos
bens de consumo são lícitos e
apreciáveis, sendo o ensino formal praticamente sua
única chance de obtê-los.
Apenas assim valorizamos os professores, reconhecemos a
liderança de chefes aptos a nos orientar nos
ofícios a serem desempenhados, apreciamos aqueles
políticos que, no interesse do bem comum, prestam um grande
serviço a toda comunidade.
Comprar um diploma, quando tantos se esforçam para
obtê-lo, não é apenas cometer o crime
de falsidade ideológica, mas também o de
prejudicar o futuro, preservando a miséria e a
ignorância.
Wanda
Camargo é
educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo da
UniBrasil.