"Você é quem você conhece,
não o que você faz." (Azalba)
Já engordei as estatísticas do desemprego
há alguns anos. Eram tempos em que atuava como executivo,
ocasião na qual conheci o trabalho das empresas de
recolocação profissional.
Foi quando aprendi a preencher adequadamente um currículo,
além de ser orientado sobre como me portar em entrevistas.
Também passei horas analisando companhias diversas,
escolhendo aquelas nas quais gostaria de trabalhar para, ato
contínuo, enviar-lhes meu precioso portfólio,
agora maquiado e vitaminado, na expectativa de ser convocado.
Ledo engano. Já naqueles tempos, início dos anos
1990, os processos de recrutamento estavam mudando.
Currículos aleatoriamente enviados pelo correio ou
preenchidos pela internet podem se configurar em pura perda de tempo.
Tornam-se lixo, físico ou eletrônico, antes mesmo
que alguém leia o nome do remetente. Pesquisa realizada em
abril de 2011 pela Catho Online, com participação
de 46.607 profissionais, indicou que 59,4% dos cargos foram preenchidos
com base no QI do candidato.
Não estamos falando do famigerado "quociente de
inteligência", mas, sim, do "quem indicou". Networking,
relacionamento, estas são as palavras de ordem.
Há até quem opte por mudar de emprego
graças à confiança depositada em quem
lhe fez a indicação. Esses fatos levam-nos a
algumas reflexões.
Sempre recebo mensagens de leitores comentando sobre sua
insatisfação com a empresa em que trabalham.
As queixas vão da falta de reconhecimento e
ausência de desafios à baixa
remuneração e inexistência de plano de
carreira, passando inexoravelmente por problemas de relacionamento
interpessoal, seja junto à direção,
seja com os próprios colegas.
Estes profissionais vislumbram como única
solução pedir demissão e buscar novos
horizontes, como se o ambiente fosse a origem de todos os males,
acreditando que em outra corporação os mesmos
dissabores não acontecerão.
Pior, há aqueles que optam pelo desligamento
sumário da companhia, passando por uma semana de regozijo
até caírem em si e na realidade de que nos
assuntos relacionados ao dinheiro, como diria Victor Hugo, é
preciso ser prático.
Diante dos fatos, alguns cuidados devem ser tomados para que uma
proposta pretensamente interessante não se apresente como
uma armadilha:
1.
Cheque a oportunidade de
trabalho. Verifique se ela é concreta e, mais ainda,
permanente. Pode tratar-se de uma posição
temporária e que não lhe garantirá
estabilidade.
2.
Pesquise a empresa. A internet é fonte
inesgotável de informações. Acesse o
site da empresa e, depois, os buscadores, para obter mais
informações sobre o perfil da companhia e sua
posição relativa no mercado. Dê
especial atenção aos valores declarados pela
organização a fim de observar se estão
alinhados com seus valores pessoais.
3.
Dissocie relações afetivas e profissionais. Se a
indicação dada foi positiva, ótimo. E
fim da história! Não convém associar o
nome da pessoa que recomendou você ou lhe sugeriu
à vaga durante o processo seletivo ou mesmo após
o término deste. Seja grato, mas seja independente.
4.
Prefira o pouco certo ao muito duvidoso. A menos que você
disponha de uma boa herança ou alguém que lhe
sustente, abdicar de uma remuneração lhe
trará mais preocupação,
angústia e ansiedade. Peça demissão
somente após ter firmado sua
recolocação.
5.
Caia fora na hora certa. Isso
não é um jogo de pôquer, mas
é um jogo. Se a proposta de trabalho não
corresponder às promessas feitas ou não atender
aos seus anseios, prepare sua saída o quanto antes evitando
prolongar sua insatisfação.
Recorde-se sempre da importância do networking. Na
Era da Integração, num mundo sem fronteiras e
regido pela conectividade, não são dados ou
informações, máquinas e tecnologia,
que fazem a diferença.
São pessoas. E mais do que isso, relacionamentos. Prova
disso é que a mesma pesquisa mencionada no início
do artigo indica que mais de 70% dos desempregados utilizam sua rede de
contatos networking como meio de procura de emprego.
Analogamente, 75% das empresas utilizam como instrumento para
divulgação de vaga a
indicação de pessoas de dentro e de fora da
corporação.
Por isso, cultive o hábito de conversar com estranhos,
pessoas que lhe avizinham num saguão de aeroporto ou numa
simples fila no cinema ou no banco.
Frequente outros ambientes, seja um restaurante, um bar ou um museu, e
converse com quem lhe rodeia. E lembre-se sempre de portar
cartões de visita. Destas relações
fortuitas, pode surgir um novo curso em sua vida.
Tom
Coelho é
Consultor, professor universitário, escritor e
palestrante.