A
nossa vida profissional, apesar de suas elevadas exigências,
pode muito bem ser ajustada a uma vida familiar equilibrada.
Significa, sim, menos lazer, menos convivência com os amigos,
menos academia. Mesmo cansados, podemos ir além para cumprir
o papel de pai ou mãe.
A escritora e psicóloga Rosely Sayão é
enfática: “O mundo mudou muito, e as
crianças também.
Só uma coisa não mudou: elas continuam a
necessitar da presença cuidadora, reguladora, protetora e
atenciosa dos adultos.”.
O que observo atualmente é que a
dedicação excessiva ao trabalho muitas vezes
está relacionada ao desejo de satisfazer as vontades do
filho.
Dar presentes a eles é bom e obviamente eles gostam. Mas ter
mais tempo para a convivência traz muito mais alegria, com
ganhos afetivos, sociais e cognitivos. Melhora o rendimento escolar, a
autoestima e a autoconfiança para a vida adulta.
Conheço pais que em datas festivas, como
aniversário e Dia da criança, não
oferecem presentes. Em troca, dedicam uma tarde ou um dia inteiramente
ao filho.
São horas de muita interação: brincar
num parque ou chácara, jogar bola, subir em
árvores, pedalar, nadar, andar a cavalo, empinar pipa,
correr de rolimã, dar banho no cãozinho, ler e
contar histórias, cantar e ouvir música,
assoviar, assistir a um filme, cozinhar, lavar os pratos e talheres,
dialogar sobre os amigos e a escola.
E não menos importante: pai e/ou mãe manifestam
num belo cartão seu afeto e as principais qualidades e
virtudes do filho, para o seu autoconhecimento. E se os pais
propusessem aos filhos fazerem o mesmo?
Considere o melhor troféu ─ ou um butim de guerra ─ seu
filho chegando em casa, com a roupa suada, suja ou molhada por uma
chuva de verão.
Um pouco de vitamina S (S de sujeira) fortalece o sistema
imunológico infantil. Os médicos são
anuentes ao afirmar que a criança não pode viver
num ambiente excessivamente limpo.
Ademais, as atividades ao ar livre, nos horários
recomendados, fazem com que os benfazejos raios solares
fortaleçam os ossos e são excelentes como terapia
para a mente.
O acima exposto é uma alternativa saudável
à Geração dos Shoppings.
O filho arrasta toda a família a perambular pelas lojas
desse Templo do Consumo e entregar-se desbragadamente à gula
na Praça de Alimentação, que mais
parece ─ nas palavras de Frei Beto ─ “comedouros de animais
que precisam engordar.”
Via de regra, pouco diálogo, muita fila e
“muvuca”, sendo que todos voltam para casa
enfastiados e mais estressados.
Pode, sim, ser um programa prazeroso, desde que feito com
parcimônia, até porque não podemos
criar filhos alheios aos costumes modernos.
Bem-vindas as novas tecnologias, mas, como em todo processo educativo,
o equilíbrio é indispensável.
Condenam-se os gastos excessivos com a parafernália
eletrônica e o tempo que uma parcela de nossas
crianças e adolescentes lhe dedicam ─ até 33
horas semanais.
Compromete relacionamentos interpessoais, a
compleição física, a
prática de esportes, leituras, estudos.
Pesquisa publicada pela Rede Globo demonstra que 53% do
conteúdo acessado pelo adolescente é escondido
dos pais.
A internet é um ambiente público, gerando a falsa
sensação de anonimato e impunidade e, destarte, o
novel usuário está mais exposto aos graves riscos
da violência, sedução, pornografia e
pedofilia.
Cobrir os filhos de muitos bens materiais ─ brinquedos, roupas,
passeios, conforto ─ é uma imprevidência.
Lembremos que muitos momentos felizes vividos por nós foram
de interação e simplicidade, que custa pouco.
Mais tarde, quando o filho já adulto e os pais, idosos,
quase sempre resta o gosto amargo do arrependimento: de terem brincado
pouco.
“Brincar com a criança não é
perder tempo, é ganhá-lo” ─ ensina,
já provecto, o poeta Carlos Drummond.
Jacir
José Venturi
é Engenheiro Civil – UFPR; Licenciado em
Matemática – UFPR;
Especialização em Engenharia e
Educação; Professor adjunto da UFPR (1974 a
1998); Professor da PUC-PR (1974 a 1985); Docente do Colégio
Estadual do Paraná de (1972 a 1974);
Sócio-fundador, professor e diretor do Curso e
Colégio Decisivo (desde 1977); Sócio-fundador,
professor e diretor do Curso e Colégio Unificado (de 1974 a
2009); Diretor do Colégio Stella Maris (de 1989 a 2009);
Diretor do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do
Paraná (desde 1986); Autor do livro: Da Sabedoria
Clássica à Popular; Autor dos livros para o
ensino superior: Álgebra Vetorial e Geometria
Analítica; Cônicas e Quádricas; Autor
de inúmeros artigos para jornais e
revistas; Cidadão Honorário de Curitiba (2001);
Mentor e
colaborador do Amo Curitiba – ações
voluntárias; Promoção do Sinepe-PR
(são 750 projetos implementados pelas escolas particulares
de Curitiba, junto a escolas públicas de periferia, creches,
asilos, hospitais e ao meio ambiente).