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Aos Filhos, Menos Presentes e Mais Presença
Jacir José Venturi

Foto de Jacir José Venturi, autor do artigoA nossa vida profissional, apesar de suas elevadas exigências, pode muito bem ser ajustada a uma vida familiar equilibrada.

Significa, sim, menos lazer, menos convivência com os amigos, menos academia. Mesmo cansados, podemos ir além para cumprir o papel de pai ou mãe.

A escritora e psicóloga Rosely Sayão é enfática: “O mundo mudou muito, e as crianças também.

Só uma coisa não mudou: elas continuam a necessitar da presença cuidadora, reguladora, protetora e atenciosa dos adultos.”.

O que observo atualmente é que a dedicação excessiva ao trabalho muitas vezes está relacionada ao desejo de satisfazer as vontades do filho.

Dar presentes a eles é bom e obviamente eles gostam. Mas ter mais tempo para a convivência traz muito mais alegria, com ganhos afetivos, sociais e cognitivos. Melhora o rendimento escolar, a autoestima e a autoconfiança para a vida adulta.

Conheço pais que em datas festivas, como aniversário e Dia da criança, não oferecem presentes. Em troca, dedicam uma tarde ou um dia inteiramente ao filho.

São horas de muita interação: brincar num parque ou chácara, jogar bola, subir em árvores, pedalar, nadar, andar a cavalo, empinar pipa, correr de rolimã, dar banho no cãozinho, ler e contar histórias, cantar e ouvir música, assoviar, assistir a um filme, cozinhar, lavar os pratos e talheres, dialogar sobre os amigos e a escola.

E não menos importante: pai e/ou mãe manifestam num belo cartão seu afeto e as principais qualidades e virtudes do filho, para o seu autoconhecimento. E se os pais propusessem aos filhos fazerem o mesmo?

Considere o melhor troféu ─ ou um butim de guerra ─ seu filho chegando em casa, com a roupa suada, suja ou molhada por uma chuva de verão.

Um pouco de vitamina S (S de sujeira) fortalece o sistema imunológico infantil. Os médicos são anuentes ao afirmar que a criança não pode viver num ambiente excessivamente limpo.

Ademais, as atividades ao ar livre, nos horários recomendados, fazem com que os benfazejos raios solares fortaleçam os ossos e são excelentes como terapia para a mente.

O acima exposto é uma alternativa saudável à Geração dos Shoppings.

O filho arrasta toda a família a perambular pelas lojas desse Templo do Consumo e entregar-se desbragadamente à gula na Praça de Alimentação, que mais parece ─ nas palavras de Frei Beto ─ “comedouros de animais que precisam engordar.”

Via de regra, pouco diálogo, muita fila e “muvuca”, sendo que todos voltam para casa enfastiados e mais estressados.

Pode, sim, ser um programa prazeroso, desde que feito com parcimônia, até porque não podemos criar filhos alheios aos costumes modernos.

Bem-vindas as novas tecnologias, mas, como em todo processo educativo, o equilíbrio é indispensável.

Condenam-se os gastos excessivos com a parafernália eletrônica e o tempo que uma parcela de nossas crianças e adolescentes lhe dedicam ─ até 33 horas semanais.

Compromete relacionamentos interpessoais, a compleição física, a prática de esportes, leituras, estudos.

Pesquisa publicada pela Rede Globo demonstra que 53% do conteúdo acessado pelo adolescente é escondido dos pais.

A internet é um ambiente público, gerando a falsa sensação de anonimato e impunidade e, destarte, o novel usuário está mais exposto aos graves riscos da violência, sedução, pornografia e pedofilia.

Cobrir os filhos de muitos bens materiais ─ brinquedos, roupas, passeios, conforto ─ é uma imprevidência.

Lembremos que muitos momentos felizes vividos por nós foram de interação e simplicidade, que custa pouco.

Mais tarde, quando o filho já adulto e os pais, idosos, quase sempre resta o gosto amargo do arrependimento: de terem brincado pouco.

“Brincar com a criança não é perder tempo, é ganhá-lo” ─ ensina, já provecto, o poeta Carlos Drummond.
 
Jacir José Venturi é Engenheiro Civil – UFPR; Licenciado em Matemática – UFPR; Especialização em Engenharia e Educação; Professor adjunto da UFPR (1974 a 1998); Professor da PUC-PR (1974 a 1985); Docente do Colégio Estadual do Paraná de (1972 a 1974); Sócio-fundador, professor e diretor do Curso e Colégio Decisivo (desde 1977); Sócio-fundador, professor e diretor do Curso e Colégio Unificado (de 1974 a 2009); Diretor do Colégio Stella Maris (de 1989 a 2009); Diretor do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Paraná (desde 1986); Autor do livro: Da Sabedoria Clássica à Popular; Autor dos livros para o ensino superior: Álgebra Vetorial e Geometria Analítica; Cônicas e Quádricas; Autor de inúmeros artigos para jornais e revistas; Cidadão Honorário de Curitiba (2001); Mentor e colaborador do Amo Curitiba – ações voluntárias; Promoção do Sinepe-PR (são 750 projetos implementados pelas escolas particulares de Curitiba, junto a escolas públicas de periferia, creches, asilos, hospitais e ao meio ambiente).

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