Durante os anos iniciais na faculdade, é natural os alunos
mostrarem-se extremamente motivados.
Eles estão, de fato, decididos a se tornarem os
próximos “educadores que irão
transformar a história da educação no
Brasil”.
É comum ouvir pelos corredores das
instituições de ensino longos debates e
discussões sobre como lidar com a
desvalorização salarial do professor, com a
violência que invade as escolas e tantos outros fatores que
surgem como “ameaças à
paixão” que o “novo educador”
traz em si.
Em contrapartida, surgem aqueles que pregam uma visão mais
realista, afirmando que, no decorrer da profissão e com o
passar dos anos, todos vão enxergar o quanto o professor
é desvalorizado.
Essa constatação, segundo eles, fará
com que essa visão romântica dê lugar
às frustrações, ao cansaço
e à consequente desmotivação.
Quando direcionamos nosso olhar a uma unidade escolar, encontramos os
mais diversos tipos e perfis de educadores.
Encontramos, por exemplo, os recém-formados com o primeiro
amor pela profissão, fortes e dispostos a mudar a
educação do país, prontos para vencer
qualquer desafio.
Encontramos educadores que já estão há
anos e anos “batalhando”, os quais frequentemente
expõem as “feridas e cicatrizes”
deixadas pelas batalhas travadas ao longo dos anos letivos.
Encontramos educadores que são apenas sobreviventes, pois
estão ali apenas porque precisam estar, dado que necessitam
do salário e não tiveram a oportunidade de mudar
de profissão.
Estes, normalmente, estão insatisfeitos a ponto de
não mais enxergarem a beleza do ser educador.
Entre tantas realidades e situações,
não podemos criticar os professores que se sentem
desmotivados.
Não. É fato que há inúmeros
fatores que contribuem para que esse profissional seja tido como um
verdadeiro mártir.
É perceptível que, a cada novo ano letivo,
enfrentamos novos e crescentes desafios, parece que, na realidade,
tornou-se perigoso ser professor em nosso país.
O perigo está dentro e fora das salas de aula.
A violência invade as escolas, enquanto sentimos a frieza dos
prédios que, dia a dia, assemelham-se mais a
presídios, usando as suas grades para nos separar da
liberdade proposta pelo ato de educar.
No entanto, apesar de todas as dificuldades e
situações, há ainda muito brilho no
olhar daqueles professores que, mesmo à beira da
aposentadoria, ainda acreditam no poder de ensinar.
É fantástico reconhecer nos educadores a
força do amor pela profissão, mas, muito superior
a isso, fantásticos mesmo são eles.
Perceber que, independente das tantas marcas adquiridas durante os
anos, existem aqueles que acreditam em suas
contribuições.
Talvez, a maior dessas contribuições seja a de
ser inspiração para aqueles que ainda
estão iniciando.
As cicatrizes que os educadores carregam têm significado
ímpar.
Elas representam cada aluno que recebeu as sementes do conhecimento,
elas
são sinais do quanto vale a pena dispor-se e acreditar
na educação como arma para
formação de cidadãos.
Além disso, cada cicatriz gravada no
coração de um educador pode ser a maior
evidência de uma sociedade que faz valer as palavras
estampadas em nossa bandeira: “Ordem e Progresso”.
Educadores já experientes não
“destroem” a visão romântica
dos novos profissionais que entram pelos portões de nossas
escolas.
A experiência deles os faz assumir a missão de
honrar nossa profissão, pois a vivem fazendo sempre o seu
melhor.
Todos quantos decidem pela educação como carreira
estão conscientes das dificuldades e desafios que
terão que enfrentar.
Contudo, são guerreiros, eles não se mostram
fracos diante dos muitos obstáculos que sabem que
terão pela frente.
No encerrar deste ano letivo, os agradecimentos tomam conta de
nós.
Não estamos iludidos, somos sim realistas, bem conhecemos a
constante luta pelos nossos direitos e melhorias desejadas.
Nossa luta é nobre, é forte e constante, mas
não vamos desistir, pois ser educador não
é para qualquer um.
Educar é ter nas mãos o poder de formar pessoas,
as quais, por sua vez, vão transformar toda uma sociedade.
Educar é, apesar das batalhas e dificuldades, olhar para as
cicatrizes e enxergar nelas uma história composta por muitas
outras experiências de sucesso.
Afinal, vale a pena ser educar.
Júnior
Silveira é
Pedagogo, formado em Artes Cênicas intermediária e
atua como Coordenador Pedagógico
em Arte e Cinema e
Educação no município de
Votorantim, São Paulo.