Planeta Educação

Diário de Classe

 

Final de Ano Letivo - Razão e Emoção
Júnior Silveira

Durante os anos iniciais na faculdade, é natural os alunos mostrarem-se extremamente motivados.

Eles estão, de fato, decididos a se tornarem os próximos “educadores que irão transformar a história da educação no Brasil”.

É comum ouvir pelos corredores das instituições de ensino longos debates e discussões sobre como lidar com a desvalorização salarial do professor, com a violência que invade as escolas e tantos outros fatores que surgem como “ameaças à paixão” que o “novo educador” traz em si.

Em contrapartida, surgem aqueles que pregam uma visão mais realista, afirmando que, no decorrer da profissão e com o passar dos anos, todos vão enxergar o quanto o professor é desvalorizado.

Essa constatação, segundo eles, fará com que essa visão romântica dê lugar às frustrações, ao cansaço e à consequente desmotivação.

Quando direcionamos nosso olhar a uma unidade escolar, encontramos os mais diversos tipos e perfis de educadores.

Encontramos, por exemplo, os recém-formados com o primeiro amor pela profissão, fortes e dispostos a mudar a educação do país, prontos para vencer qualquer desafio.

Encontramos educadores que já estão há anos e anos “batalhando”, os quais frequentemente expõem as “feridas e cicatrizes” deixadas pelas batalhas travadas ao longo dos anos letivos.

Encontramos educadores que são apenas sobreviventes, pois estão ali apenas porque precisam estar, dado que necessitam do salário e não tiveram a oportunidade de mudar de profissão.

Estes, normalmente, estão insatisfeitos a ponto de não mais enxergarem a beleza do ser educador.

Entre tantas realidades e situações, não podemos criticar os professores que se sentem desmotivados.

Não. É fato que há inúmeros fatores que contribuem para que esse profissional seja tido como um verdadeiro mártir.

É perceptível que, a cada novo ano letivo, enfrentamos novos e crescentes desafios, parece que, na realidade, tornou-se perigoso ser professor em nosso país.

O perigo está dentro e fora das salas de aula.

A violência invade as escolas, enquanto sentimos a frieza dos prédios que, dia a dia, assemelham-se mais a presídios, usando as suas grades para nos separar da liberdade proposta pelo ato de educar.

No entanto, apesar de todas as dificuldades e situações, há ainda muito brilho no olhar daqueles professores que, mesmo à beira da aposentadoria, ainda acreditam no poder de ensinar.

É fantástico reconhecer nos educadores a força do amor pela profissão, mas, muito superior a isso, fantásticos mesmo são eles.

Perceber que, independente das tantas marcas adquiridas durante os anos, existem aqueles que acreditam em suas contribuições.

Talvez, a maior dessas contribuições seja a de ser inspiração para aqueles que ainda estão iniciando.

As cicatrizes que os educadores carregam têm significado ímpar.

Elas representam cada aluno que recebeu as sementes do conhecimento, elas são sinais do quanto vale a pena dispor-se e acreditar na educação como arma para formação de cidadãos.

Além disso, cada cicatriz gravada no coração de um educador pode ser a maior evidência de uma sociedade que faz valer as palavras estampadas em nossa bandeira: “Ordem e Progresso”.

Educadores já experientes não “destroem” a visão romântica dos novos profissionais que entram pelos portões de nossas escolas.

A experiência deles os faz assumir a missão de honrar nossa profissão, pois a vivem fazendo sempre o seu melhor.

Todos quantos decidem pela educação como carreira estão conscientes das dificuldades e desafios que terão que enfrentar.

Contudo, são guerreiros, eles não se mostram fracos diante dos muitos obstáculos que sabem que terão pela frente.

No encerrar deste ano letivo, os agradecimentos tomam conta de nós.

Não estamos iludidos, somos sim realistas, bem conhecemos a constante luta pelos nossos direitos e melhorias desejadas.

Nossa luta é nobre, é forte e constante, mas não vamos desistir, pois ser educador não é para qualquer um.

Educar é ter nas mãos o poder de formar pessoas, as quais, por sua vez, vão transformar toda uma sociedade.

Educar é, apesar das batalhas e dificuldades, olhar para as cicatrizes e enxergar nelas uma história composta por muitas outras experiências de sucesso.

Afinal, vale a pena ser educar.

Júnior Silveira é Pedagogo, formado em Artes Cênicas intermediária e atua como Coordenador Pedagógico em Arte e Cinema e Educação no município de Votorantim, São Paulo.

Avaliação deste Artigo: 5 estrelas