“Só a educação
liberta.” (Epicteto)
O índice de reprovação no exame anual
da Ordem dos Advogados do Brasil, em São Paulo, tem atingido
a impressionante marca de 90%.
Realizado em duas etapas, tais resultados ilustram com louvor a
decadência do ensino em nosso país.
A primeira parte é composta por cem testes de
múltipla escolha, na qual apenas um em cada dez candidatos
supera a medíocre nota de corte de 46 acertos.
A segunda, por sua vez, é formada por questões
discursivas, nas quais erros crassos de
conjugação verbal, ortografia, coesão
e coerência textuais, entre outros, são
identificados,
O crescimento do ensino superior na década de 1990
é inegável.
Foram ampliados na abrangência dos cursos, na oferta de vagas
e no número de alunos matriculados. Porém, muita
quantidade para pouca qualidade.
Estamos formando advogados que desconhecem leis, economistas que
não sabem matemática financeira, engenheiros com
dificuldades em cálculos estruturais.
Pseudoprofissionais que irão cercear a liberdade de um
cliente, condenar uma empresa à falência, levar um
edifício ao chão.
No anseio de se apresentar estatísticas que denotem
evolução no sistema educacional, mediante
elevação do número de graduados e
redução do número de analfabetos, os
indicadores mascaram os fatos.
Assim, basta escrever o nome para ser incluído na categoria
dos alfabetizados, ainda que se tenha um vocabulário
restrito a umas poucas palavras.
Basta um diploma conquistado mais pelo suor do trabalho para se pagar
as mensalidades ao longo de alguns anos do que pelo conhecimento
adquirido para ser alçado ao time dos
“doutores”.
A gênese de nossos problemas reside no ensino fundamental,
para o qual há dotação
orçamentária prevista constitucionalmente, embora
os recursos cheguem minguados às salas de aulas, pois se
perdem no decorrer dos descaminhos políticos e
burocráticos.
Falta remuneração adequada aos professores,
falta-lhes incentivo à reciclagem profissional, falta rigor
no ensino.
A língua portuguesa é violentada a cada frase
pronunciada, a cada expressão escrita.
Falamos e escrevemos mal porque lemos pouco.
Matemática é rotulada como disciplina
difícil, produzindo um exército de
cidadãos vilipendiados pela indústria dos juros.
História é tida como dispensável,
cultivando a brevidade da memória política que
nos assola, consequência da incapacidade de se associar
fatos.
Inglês é introduzido na grade curricular cada vez
mais precocemente, porém a iniciativa é
inútil, haja vista que a metodologia forma mestres no verbo
“to be”, após muitos anos de estudo,
quando seria desejável o domínio de um
vocabulário mínimo e de capacidade de
comunicação.
Nossos atuais conflitos éticos e morais, os eventos
políticos, a fragilidade econômica, as
desigualdades sociais, a subserviência institucional e a
crise de identidade cívica são filhos bastardos
de nossa inépcia em reconhecer a relevância da
Educação na construção de
um projeto de nação.
Pena que dá trabalho pensar, elaborar, construir e esperar
20 anos para ver as sementes florescerem.
Tom
Coelho é educador,
conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes
– Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas
– Lições para construir seu
equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008)
e coautor de outras cinco obras. Contatos através do
e-mail:
tomcoelho@tomcoelho.com.br.
Visite:
www.tomcoelho.com.