Planeta Educação

Diário de Classe

 

Educação em Decadência
Tom Coelho

“Só a educação liberta.” (Epicteto)

O índice de reprovação no exame anual da Ordem dos Advogados do Brasil, em São Paulo, tem atingido a impressionante marca de 90%.

Realizado em duas etapas, tais resultados ilustram com louvor a decadência do ensino em nosso país.

A primeira parte é composta por cem testes de múltipla escolha, na qual apenas um em cada dez candidatos supera a medíocre nota de corte de 46 acertos.

A segunda, por sua vez, é formada por questões discursivas, nas quais erros crassos de conjugação verbal, ortografia, coesão e coerência textuais, entre outros, são identificados,

O crescimento do ensino superior na década de 1990 é inegável.

Foram ampliados na abrangência dos cursos, na oferta de vagas e no número de alunos matriculados. Porém, muita quantidade para pouca qualidade.

Estamos formando advogados que desconhecem leis, economistas que não sabem matemática financeira, engenheiros com dificuldades em cálculos estruturais.

Pseudoprofissionais que irão cercear a liberdade de um cliente, condenar uma empresa à falência, levar um edifício ao chão.

No anseio de se apresentar estatísticas que denotem evolução no sistema educacional, mediante elevação do número de graduados e redução do número de analfabetos, os indicadores mascaram os fatos.

Assim, basta escrever o nome para ser incluído na categoria dos alfabetizados, ainda que se tenha um vocabulário restrito a umas poucas palavras.

Basta um diploma conquistado mais pelo suor do trabalho para se pagar as mensalidades ao longo de alguns anos do que pelo conhecimento adquirido para ser alçado ao time dos “doutores”.

A gênese de nossos problemas reside no ensino fundamental, para o qual há dotação orçamentária prevista constitucionalmente, embora os recursos cheguem minguados às salas de aulas, pois se perdem no decorrer dos descaminhos políticos e burocráticos.

Falta remuneração adequada aos professores, falta-lhes incentivo à reciclagem profissional, falta rigor no ensino.

A língua portuguesa é violentada a cada frase pronunciada, a cada expressão escrita.

Falamos e escrevemos mal porque lemos pouco.

Matemática é rotulada como disciplina difícil, produzindo um exército de cidadãos vilipendiados pela indústria dos juros.

História é tida como dispensável, cultivando a brevidade da memória política que nos assola, consequência da incapacidade de se associar fatos.

Inglês é introduzido na grade curricular cada vez mais precocemente, porém a iniciativa é inútil, haja vista que a metodologia forma mestres no verbo “to be”, após muitos anos de estudo, quando seria desejável o domínio de um vocabulário mínimo e de capacidade de comunicação.

Nossos atuais conflitos éticos e morais, os eventos políticos, a fragilidade econômica, as desigualdades sociais, a subserviência institucional e a crise de identidade cívica são filhos bastardos de nossa inépcia em reconhecer a relevância da Educação na construção de um projeto de nação.

Pena que dá trabalho pensar, elaborar, construir e esperar 20 anos para ver as sementes florescerem.

Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail: tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.

Avaliação deste Artigo: 5 estrelas