A
droga ilícita é um limbo sombrio, enrustido,
silente e com efeitos devastadores.
Deve ser tratada como uma questão social, de
saúde pública e, imprescindivelmente, com intensa
participação da família, da escola e
da mídia.
Nesta segunda década do século 21, vislumbro que
poucos temas serão tão recorrentes quanto o
álcool, a maconha, a cocaína, o crack e os
alucinógenos.
É preciso criar uma consciência de
responsabilidade compartilhada, pois não há como
blindar a família, escola, clube ou condomínio.
Indubitavelmente, é um desafio complexo por envolver tantas
frentes e exigir organização,
estratégias e muita persistência na
prevenção e no combate.
Mas temos exemplos precedentes e resultados eficazes.
Há 20 anos, começaram as medidas antitabagistas
por causa dos malefícios à saúde e
à estética pessoal do fumante passivo.
A redução no número de fumantes foi de
32% para 17% da população brasileira,
atingindo-se um dos mais baixos índices do mundo.
O número de ex-fumantes (26 milhões)
já supera o de fumantes (24,6 milhões).
Em relação aos entorpecentes ilícitos,
duas atitudes extremadas são comumente manifestadas em
relação ao usuário: como um
delinquente ou então como um coitadinho.
Nada pior. Devemos condenar os extremos da
marginalização, bem como da leniência
ou lirismo, uma vez que os danos são deletérios
ao usuário, além deste ser coautor dos delitos
praticados pelos traficantes.
As drogas liberam no cérebro a dopamina, neurotransmissor
responsável pela sensação de prazer.
Vivemos em uma sociedade hedonista (do grego, hedoné, que
significa “prazer”) e alguns jovens buscam na droga
a euforia, ou como uma fuga dos problemas, ou pela busca de mais
prazer, ou por influência dos amigos.
Os limites são necessários, cabendo aos pais
estabelecer quais faixas devem ser mais estreitas, quais mais largas e,
pelo diálogo, demonstrar as suas
convicções e modelos, respeitando as
características individuais da personalidade do filho, bem
como as suas inteligências múltiplas.
Muitos pais são desmedidos no elogio, ternura e conforto.
Geram expectativas irreais e, certamente, o seu rebento será
acometido de desmesuradas frustrações, pois
ninguém valoriza a autoestima sem o complemento do
esforço, trabalho, disciplina e
determinação.
As escolas, as igrejas e a mídia devem corroborar com o lar,
na ênfase aos valores humanos fundamentais, demonstrando
às crianças e aos adolescentes o enorme dano
à saúde, à vida e o consequente
desmantelamento da boa convivência familiar e social.
Em janeiro de 2012, o governo prometeu liberar 4 bilhões de
reais até 2014 para o programa de combate às
drogas.
Parte desse dinheiro é para a criação
de 308 consultórios de rua, formados por médicos,
psicólogos, enfermeiros e voluntários.
Esses profissionais têm a missão de se aproximar
dos usuários, tratá-los como um doente
crônico, ganhar a sua confiança, indicando o
tratamento ou até a internação, que
pode ser consensual ou compulsória (a pedido da
justiça ou da equipe multidisciplinar).
Altamente relevantes, esses agentes – família,
escola, mídia, lideranças comunitárias
e religiosas, saúde publica –, no entanto,
têm um papel enfraquecido sem uma eficiente
ação policial.
Matéria publicada pela Gazeta do Povo em 7/01/12 demonstra
um paradoxo.
A lei Antidrogas (11.343/06) foi promulgada com a pretensão
de diminuir o número de presos ao determinar tratamentos ou
penas alternativas aos usuários.
Porém, nesses últimos 5 anos, a venda de drogas
tornou-se o delito mais comum, e a quantidade de detentos por
tráfico teve um incremento de 166%, enquanto a
população carcerária de modo geral
cresceu bem menos, 36%.
Esses dados demonstram que a repressão policial tem-se
mostrado eficaz, porém o incremento do consumo de drogas em
todo o país faz com que aumente a ação
dos traficantes.
Grande é o desafio no combate inclemente às
drogas ilícitas, ao glamour e aos excessos da bebida.
Cada problema ou nação tem sua peculiaridade, sua
fita métrica em relação aos valores e
costumes.
Experiências bem-sucedidas de outros países podem
balizar nossas ações, como hoje acontece em
Portugal, EUA, Holanda, Suécia etc., os quais adotam uma
postura implacável contra os traficantes.
Aos usuários, oferta-se um tratamento multidisciplinar, caso
contrário internamento ou prisão.
Há motivo para otimismo, pois aqui tivemos sucesso em
campanhas cujos resultados foram conspícuos – com
a participação ampla de toda a sociedade
– ao percorrer um espinhoso caminho na
redução dos danos causados pelo tabaco, bem como
contra os preconceitos em relação ao
câncer, Aids, homossexualismo, afrodescendência.
Todo grande problema se resolve encarando-o, e não o
tangenciando e, muito menos, o negligenciando.
Jacir
José Venturi
é Engenheiro Civil – UFPR; Licenciado em
Matemática – UFPR;
Especialização em Engenharia e
Educação; Professor adjunto da UFPR (1974 a
1998); Professor da PUC-PR (1974 a 1985); Docente do Colégio
Estadual do Paraná de (1972 a 1974);
Sócio-fundador, professor e diretor do Curso e
Colégio Decisivo (desde 1977); Sócio-fundador,
professor e diretor do Curso e Colégio Unificado (de 1974 a
2009); Diretor do Colégio Stella Maris (de 1989 a 2009);
Diretor do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do
Paraná (desde 1986); Autor do livro: Da Sabedoria
Clássica à Popular; Autor dos livros para o
ensino superior: Álgebra Vetorial e Geometria
Analítica; Cônicas e Quádricas; Autor
de inúmeros artigos para jornais e
revistas; Cidadão Honorário de Curitiba (2001);
Mentor e
colaborador do Amo Curitiba – ações
voluntárias; Promoção do Sinepe-PR
(são 750 projetos implementados pelas escolas particulares
de Curitiba, junto a escolas públicas de periferia, creches,
asilos, hospitais e ao meio ambiente).