As mudanças contínuas no ensino estão,
cada vez mais, evidenciando o canibalismo que o sistema de
mercantilização no mercado educacional
está trazendo para o Brasil.
Isso está provocando reflexos que, no futuro,
deverão demonstrar que as alternativas poderão
reduzir, de modo consistente, o conhecimento e a busca por melhoria da
informação.
A situação do ensino fundamental e
médio nas escolas públicas demonstra que os
alunos estão cada vez mais despreparados para cursar uma
faculdade.
Porém, por pressão desse mercado canibal que
transforma a educação em mercadoria, esses alunos
acabam entrando em um curso superior, mas, por despreparados que
estão, infelizmente não são capazes de
acompanhar o ritmo, sendo obrigados, muitas vezes, a trancar a
matrícula e desistir de seus sonhos.
Um dos aspectos desse cenário está nas
ações do governo federal, com a
concessão de bolsas de ensino parciais ou integrais.
Desse modo, permite-se que um número cada vez maior de
pessoas tenha acesso ao ensino universitário.
Isso apenas engrossa as estatísticas oficiais, mostrando um
Brasil em que os níveis de analfabetismo
vêm diminuindo.
Por outro lado, as instituições educacionais
privadas, que oferecem bolsas de estudo, seguem um caminho de
massificação do ensino para garantir o retorno
desejado a seus acionistas.
Hoje, a busca do aluno não é mais pelo ensino
ministrado, mas, por uma mercadoria que se compra como se fosse um
produto exposto no supermercado.
Transformar a educação em produto e o aluno em
cliente prejudica a todos os envolvidos no sistema de ensino, sejam
alunos, professores ou funcionários administrativos.
O desrespeito é significativo.
As contradições provocadas por esse sistema, por
um lado aumentam o número de alunos por sala de aula e, por
outro, reduzem os salários dos docentes, além de
provocar a falta de investimentos em todo complexo educacional, em
virtude da redução maciça dos gastos,
principalmente os fixos.
A baixa remuneração dos docentes e a falta de
investimentos acabam fazendo do curso universitário
– que é uma extensão do ensino
fundamental e médio – seu desmantelado.
O resultado é que o aluno não
conseguirá atingir seus objetivos pessoais e de carreira em
um patamar de qualidade que faça com as empresas o contratem.
No início de cada novo período letivo, chegam
notícias sobre a venda de alguma
instituição de ensino que, em virtude das
pressões de mercado, acaba cedendo e encerrando suas
atividades.
Recentemente, a Fundação Escola Armando
Álvares Penteado (Fecap), instituição
paulistana com 110 anos de existência, teve os holofotes
direcionados para seus negócios.
Uma das instituições mais respeitadas do
País foi notícia quando os alunos da
graduação manifestaram a
insatisfação com a provável venda da
faculdade para o Grupo Ânima, conglomerado mineiro que
já administra outras instituições de
ensino, como o Centro Universitário UNA e a UniBH, ambas em
Minas Gerais, e a Unimonte, em Santos (SP).
É fato que se a aquisição for
concluída, mudanças ocorrerão em toda
a estrutura da Fecap, pois são filosofias diferentes.
Porém, esta é a primeira vez que alunos
demonstram a insatisfação com a possibilidade da
queda no nível educacional, algo que fez da Fecap
uma instituição respeitada.
Nas aquisições que ocorreram no passado, jamais
houve qualquer manifestação desse tipo, mas, em
geral, pela possível falta de docentes, em virtude do
aumento no número de alunos matriculados.
Talvez essas críticas contribuam para mudar o tom da
conversa e fazer com que outras instituições de
mesmo perfil possam abarcar novos alunos, buscando o melhor
nível de excelência.
Se a manifestação dos alunos persistir, a
instituição que assumir a Fecap poderá
ter que rever seu planejamento ou, na pior das hipóteses,
eliminar dos livros 110 anos de respeito e
tradição.
A mercantilização, sem um controle mais efetivo,
pode se agravar, trazendo danos irreversíveis ao ensino.
É preciso ter em perspectiva que a
redução de custos em excesso destrói o
alicerce de qualquer instituição.
E que o ensino não é mercadoria enlatada, assim
como o aluno não é cliente.
Ao contrário, os jovens universitários buscam
melhorar sua capacitação principalmente para
atender a demanda das empresas.
Estas, por sua vez, necessitam colocar em seus postos de trabalho
profissionais que saibam tomar decisões de modo sensato e
responsável, a fim de preservar a sustentabilidade e seus
negócios.
Reginaldo
Gonçalves
é coordenador de Ciências Contábeis da
FASM (Faculdade Santa Marcelina).