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Diário de Classe

 

Mercantilização do Ensino Universitário, Aonde Chegaremos?
Reginaldo Gonçalves

As mudanças contínuas no ensino estão, cada vez mais, evidenciando o canibalismo que o sistema de mercantilização no mercado educacional está trazendo para o Brasil.

Isso está provocando reflexos que, no futuro, deverão demonstrar que as alternativas poderão reduzir, de modo consistente, o conhecimento e a busca por melhoria da informação.

A situação do ensino fundamental e médio nas escolas públicas demonstra que os alunos estão cada vez mais despreparados para cursar uma faculdade.

Porém, por pressão desse mercado canibal que transforma a educação em mercadoria, esses alunos acabam entrando em um curso superior, mas, por despreparados que estão, infelizmente não são capazes de acompanhar o ritmo, sendo obrigados, muitas vezes, a trancar a matrícula e desistir de seus sonhos.

Um dos aspectos desse cenário está nas ações do governo federal, com a concessão de bolsas de ensino parciais ou integrais.

Desse modo, permite-se que um número cada vez maior de pessoas tenha acesso ao ensino universitário.

Isso apenas engrossa as estatísticas oficiais, mostrando um Brasil em que os níveis de analfabetismo vêm diminuindo.

Por outro lado, as instituições educacionais privadas, que oferecem bolsas de estudo, seguem um caminho de massificação do ensino para garantir o retorno desejado a seus acionistas.

Hoje, a busca do aluno não é mais pelo ensino ministrado, mas, por uma mercadoria que se compra como se fosse um produto exposto no supermercado.

Transformar a educação em produto e o aluno em cliente prejudica a todos os envolvidos no sistema de ensino, sejam alunos, professores ou funcionários administrativos.

O desrespeito é significativo.

As contradições provocadas por esse sistema, por um lado aumentam o número de alunos por sala de aula e, por outro, reduzem os salários dos docentes, além de provocar a falta de investimentos em todo complexo educacional, em virtude da redução maciça dos gastos, principalmente os fixos.

A baixa remuneração dos docentes e a falta de investimentos acabam fazendo do curso universitário – que é uma extensão do ensino fundamental e médio – seu desmantelado.

O resultado é que o aluno não conseguirá atingir seus objetivos pessoais e de carreira em um patamar de qualidade que faça com as empresas o contratem.

No início de cada novo período letivo, chegam notícias sobre a venda de alguma instituição de ensino que, em virtude das pressões de mercado, acaba cedendo e encerrando suas atividades.

Recentemente, a Fundação Escola Armando Álvares Penteado (Fecap), instituição paulistana com 110 anos de existência, teve os holofotes direcionados para seus negócios.

Uma das instituições mais respeitadas do País foi notícia quando os alunos da graduação manifestaram a insatisfação com a provável venda da faculdade para o Grupo Ânima, conglomerado mineiro que já administra outras instituições de ensino, como o Centro Universitário UNA e a UniBH, ambas em Minas Gerais, e a Unimonte, em Santos (SP).

É fato que se a aquisição for concluída, mudanças ocorrerão em toda a estrutura da Fecap, pois são filosofias diferentes.

Porém, esta é a primeira vez que alunos demonstram a insatisfação com a possibilidade da queda no nível educacional, algo que fez da Fecap uma instituição respeitada.

Nas aquisições que ocorreram no passado, jamais houve qualquer manifestação desse tipo, mas, em geral, pela possível falta de docentes, em virtude do aumento no número de alunos matriculados.

Talvez essas críticas contribuam para mudar o tom da conversa e fazer com que outras instituições de mesmo perfil possam abarcar novos alunos, buscando o melhor nível de excelência.

Se a manifestação dos alunos persistir, a instituição que assumir a Fecap poderá ter que rever seu planejamento ou, na pior das hipóteses, eliminar dos livros 110 anos de respeito e tradição.

A mercantilização, sem um controle mais efetivo, pode se agravar, trazendo danos irreversíveis ao ensino.

É preciso ter em perspectiva que a redução de custos em excesso destrói o alicerce de qualquer instituição.

E que o ensino não é mercadoria enlatada, assim como o aluno não é cliente.

Ao contrário, os jovens universitários buscam melhorar sua capacitação principalmente para atender a demanda das empresas.

Estas, por sua vez, necessitam colocar em seus postos de trabalho profissionais que saibam tomar decisões de modo sensato e responsável, a fim de preservar a sustentabilidade e seus negócios.

Reginaldo Gonçalves é coordenador de Ciências Contábeis da FASM (Faculdade Santa Marcelina).

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