Educação Profissional
 

O Percurso ou a Chegada? - 16/10/2012
Wanda Camargo

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Foto de Wanda Camargo, autora do artigo.Professores da Universidade de São Paulo (USP), em conjunto com o Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), realizaram extensivo estudo sobre o Censo Educacional 2010, alertando sobre o grande número de formandos em humanidades no país, com consequente diminuição das remunerações dos profissionais dessas atividades.

Trazem também informações sobre o crescimento da demanda por profissionais das áreas ditas “duras”, as quais são mais voltadas ao aprofundamento científico e técnico.

O pouco estímulo às profissões que exigem muitos anos de estudo, dedicação profunda e renúncia aos prazeres momentâneos, como aquelas de áreas da saúde, informática, engenharias e técnicas, produzem dificuldades de desenvolvimento social e econômico do país, além de um verdadeiro apagão de mão de obra.

Embora haja um crescente movimento em direção aos resultados educacionais, com indicadores e rankings utilizados como diferenciais competitivos e argumento de marketing, o Brasil experimenta diversas metodologias de ensino sem, aparentemente, muita segurança na obtenção de qualidade.

A defesa do ensino individualizado, prioritariamente centrado em uma concepção generalista para a cidadania, concentra carga horária nas questões éticas e de comportamento social, dentro de um foco necessário e importante, porém certamente não o único necessário e importante na formação de jovens que enfrentarão uma realidade difícil e competitiva, em que poucos terão as melhores oportunidades.

A boa dieta educacional possivelmente deveria ser frugal, consistente, de boa qualidade, contendo o necessário na quantidade correta.

Mas, frente às dúvidas sobre o melhor percurso de formação, servimos aos alunos um cardápio exagerado, tentando contemplar tudo o que julgamos indispensáveis à vida social, mesmo em detrimento daquilo que a Escola tem a obrigação de prover.

Assim, os currículos tornam-se inchados e repletos de boas intenções, mas a realização dessas intenções muito raramente ocorre.

A nova geração valoriza em demasia as últimas novidades da tecnologia da informação e comunicação, disponibilidade de muito tempo para conectar-se às redes sociais.

Recebendo educação com forte ênfase generalista, essa geração até poderia ensejar maior envolvimento em projetos de interesse social, o que se daria em detrimento do egoísmo.

No entanto, observando os diversos grupos ou chats aos quais ela adere, enquanto uns poucos tentam melhorar suas vizinhanças e escolas, parte significativa apenas se fecha em comunidades com um tema comum, tais como a dos adoradores de um determinado filme ou os rancorosos de certa pessoa.

Na medida em que tais adesões são ampliadas, aumenta-se o grau de certeza sobre a crença que essa geração já tem, diminuindo a tolerância ao dissenso e à inclusão.

Abaixo do discurso politicamente correto, aumentam os comportamentos excludentes, as intransigências e atitudes violentas, perdendo-se a capacidade de reagir às frustrações e de investir em estudo, dedicação e paciência para atingir um objetivo remoto.

Importa o hoje, a satisfação momentânea e não a construção do futuro, que quase sempre, infelizmente, implica renúncia às compensações imediatas.

Vamos amadurecendo frente às dificuldades de opção entre os fins desejados e os meios necessários para atingi-los em uma sociedade que cultua o “jeitinho” em detrimento do empenho, além da esperteza em lugar da inteligência.

Wanda Camargo é educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo – Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.

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