O
presente artigo apresenta o papel do jogo no ensino da
Matemática enquanto estratégia adotada para
tornar mais significativas e prazerosas as aulas dessa disciplina.
Os jogos podem ser para os educandos um recurso fundamental para que
passem a entender e a utilizar regras que serão empregadas
no processo de ensino-aprendizagem
de matemática e na apropriação dos
diferentes conteúdos.
Isso permitirá que eles superem a
utilização das cansativas listas de
exercício de fixação, cujo objetivo
era a memorização de fórmulas e dados.
O artigo faz uma análise sobre a importância de se
aprender por meio desse recurso, entendendo-o como uma das
tendências para o ensino da
matemática, apontando para uma proposta que
poderá ser utilizada por educadores no Ensino Fundamental.
Assim, esses educadores poderão tornar as aulas mais
dinâmicas, possibilitando uma maior
participação e envolvimento dos alunos nessas
atividades.
Introdução
Há muito tempo, o tema “Jogos no Ensino da
Matemática” nos chama
atenção, e este estudo é desenvolvido
para analisar o papel do jogo no ensino dessa disciplina.
Aqui, o jogo é entendido como estratégia
facilitadora do ensino-aprendizagem de conteúdos
matemáticos, partindo da consideração
de que, enquanto atividade lúdica e educativa, ele pode
tornar mais significativas e prazerosas as aulas dessa disciplina,
superando o caráter formalista que a envolve.
Sabe-se que os jogos sempre estiveram presentes na vida cultural dos
povos, sendo de grande importância para o ser humano de
qualquer idade.
Desde muito cedo, as crianças aprendem a brincar e isso
é importante para elas, pois as brincadeiras e os jogos
estão relacionados ao seu universo e idade, o que
possibilita o início do desenvolvimento de suas habilidades.
Nesse sentido, o uso dos Jogos no Ensino de Matemática pode
ser considerado, didaticamente, uma estratégia de ensino e
uma tendência matemática.
Para se entender melhor o jogo como estratégia de ensino
quanto ao aprendizado matemático, abaixo há
alguns referenciais teóricos, os quais mostram os
posicionamentos de autores renomados da área, tais como:
Kishimoto, Piaget, Vygotsky, Wallon e Polya, entre outros.
Há, ainda, pareceres dos Parâmetros Curriculares
Nacionais, os quais norteiam o trabalho do professor e que apontam para
a necessidade de um ensino mais dinâmico.
Nesse ponto, os professores precisam explorar diferentes metodologias,
priorizando a criação de estratégias,
a comprovação, a justificativa, a
argumentação e o espírito
crítico, favorecendo a criatividade, o trabalho coletivo, a
iniciativa pessoal e a autonomia advinda do desenvolvimento da
confiança na própria capacidade de conhecer e
enfrentar desafios.
Segundo o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa
(1982, p.907), a palavra “problema”
é definida como uma “questão
matemática proposta para que se lhe dê a
solução; dúvida; proposta duvidosa que
pode ter muitas soluções; aquilo que é
difícil de explicar ou resolver.”.
Pozo (1994, p.15) afirma que o “(...) problema é
uma situação em que um indivíduo ou um
grupo quer ou precisa resolver, para o qual não se
dispõe de um caminho rápido e direto que o leve
à solução.”.
Lester (apud Borralho, 1990) define a palavra como “uma
tarefa na qual o indivíduo ou grupo se confronta com a
necessidade de encontrar uma solução,
não possuindo um procedimento diretamente
acessível que garanta a
solução.”.
Conforme é afirmado por Dante, um problema
matemático “é qualquer
situação que exija a maneira
matemática de pensar e conhecimentos matemáticos
para solucioná-la” (Dante, 1997, p.10).
Já para Bourne Bominowski & Elkstrand (1974 apud
Borralho 1990), “... um problema é algo onde uma
pessoa tenta alcançar uma meta, não se consegue
atingi-la nas primeiras tentativas, mas conhece que existem
várias ações alternativas para atingir
o fim que se pretende.”.
Conforme vimos, há várias
definições para o termo
“problema” e várias formas para analisar
a sua resolução.
Por isso, é importante também analisar os
conceitos de Polya, os quais serviram de embasamento para outros
estudiosos, tais como Lester (1980) e Hayes (1981).
De acordo com Polya (1978), para resolver um problema
matemático, é preciso compreendê-lo,
estabelecer e executar um plano e, ainda, fazer o retrospecto ou a
verificação.
Entretanto, qual a relação do jogo com a
resolução de problemas?
Moura (1996, p.53) afirma que:
O
jogo tem fortes componentes da resolução de
problemas na medida em que jogar desenvolve uma atitude
psicológica do sujeito que, ao se predispor para isso,
coloca em movimento estruturas do pensamento que lhe permitem
participar do jogo. O jogo, no sentido psicológico,
desestrutura o sujeito que parte em busca de estratégias que
o levam a participar deles. Podemos definir jogo como um problema em
movimento, problema que envolve atitude pessoal de querer jogar tal que
o resolvedor de problema que só os tem quando estes lhes
exigem busca de instrumentos novos de pensamento.
Nesse método, cada hipótese/estratégia
formulada, ou seja, cada jogada desencadeia uma série de
questionamentos.
Entre as questões, encontram perguntas como:
– Essa é a única jogada
possível?
– Se houver alternativa, qual escolher e por que escolher
esta ou aquela?
– Terminado o problema ou a jogada, quais os erros e por que
foram cometidos?
– Ainda é possível resolver o problema
ou vencer o jogo se forem mudados os dados ou as regras?
Assim, as situações-problema permeiam todo o
trabalho na medida em que o aluno é desafiado a observar e a
analisar os aspectos considerados importantes pelo professor.
Cabe ao professor escolher os jogos que permitam a
exploração do potencial no desenvolvimento de
todas as habilidades (raciocínio lógico e
intuitivo), o que pode ser realizado por meio de uma metodologia de
resolução de problemas.
As situações-problema podem ocorrer por meio de
uma intervenção oral com questionamentos ou
pedidos de justificativas de uma jogada que está
acontecendo, uma remontagem de um momento do jogo ou, ainda, uma
situação gráfica.
No trabalho com os alunos, é interessante propor (sempre que
possível e adequado à idade) diferentes
possibilidades de análise, apresentando novos
obstáculos a ser superados.
A análise das ações permite que o
sujeito enriqueça suas estruturas mentais e rompa com o
sistema cognitivo que determinou os meios inadequados ou insuficientes
para a produção de determinado resultado.
Macedo (1992) pressupõe que essa
situação (dita artificial) possa servir de modelo
ou quadro referencial ao sujeito, possibilitando que haja
transferência das estratégias utilizadas no
contexto do jogo para outras situações.
Sendo assim, uma má jogada constitui uma excelente
oportunidade de intervenção do professor.
Essas estratégias são o modo como são
armadas as jogadas visando o objetivo final, sendo que, muitas vezes, o
critério de certo ou errado é decidido pelo grupo
numa prática de debate, o que permite o exercício
da argumentação e a
organização do pensamento.
Referências
Bibliográficas
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resolução de problemas de matemática:
proposta de um programa de intervenção. Portugal,
Associação dos Professores de
Matemática, 1990.
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]VYGOTSKY, Lev. S. A formação social da mente: o
desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.
4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Domingos
Sávio da Silva Guatura
é Mediador do Programa de Matemática do
município de Guaratinguetá, São Paulo.