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Matemática

 

Os jogos e a resolução de problemas
Domingos Sávio da Silva Guatura

O presente artigo apresenta o papel do jogo no ensino da Matemática enquanto estratégia adotada para tornar mais significativas e prazerosas as aulas dessa disciplina.

Os jogos podem ser para os educandos um recurso fundamental para que passem a entender e a utilizar regras que serão empregadas no processo de ensino-aprendizagem de matemática e na apropriação dos diferentes conteúdos.

Isso permitirá que eles superem a utilização das cansativas listas de exercício de fixação, cujo objetivo era a memorização de fórmulas e dados.

O artigo faz uma análise sobre a importância de se aprender por meio desse recurso, entendendo-o como uma das tendências para o ensino da matemática, apontando para uma proposta que poderá ser utilizada por educadores no Ensino Fundamental.

Assim, esses educadores poderão tornar as aulas mais dinâmicas, possibilitando uma maior participação e envolvimento dos alunos nessas atividades.

Introdução
Há muito tempo, o tema “Jogos no Ensino da Matemática” nos chama atenção, e este estudo é desenvolvido para analisar o papel do jogo no ensino dessa disciplina.

Aqui, o jogo é entendido como estratégia facilitadora do ensino-aprendizagem de conteúdos matemáticos, partindo da consideração de que, enquanto atividade lúdica e educativa, ele pode tornar mais significativas e prazerosas as aulas dessa disciplina, superando o caráter formalista que a envolve.

Sabe-se que os jogos sempre estiveram presentes na vida cultural dos povos, sendo de grande importância para o ser humano de qualquer idade.

Desde muito cedo, as crianças aprendem a brincar e isso é importante para elas, pois as brincadeiras e os jogos estão relacionados ao seu universo e idade, o que possibilita o início do desenvolvimento de suas habilidades.

Nesse sentido, o uso dos Jogos no Ensino de Matemática pode ser considerado, didaticamente, uma estratégia de ensino e uma tendência matemática.

Para se entender melhor o jogo como estratégia de ensino quanto ao aprendizado matemático, abaixo há alguns referenciais teóricos, os quais mostram os posicionamentos de autores renomados da área, tais como: Kishimoto, Piaget, Vygotsky, Wallon e Polya, entre outros.

Há, ainda, pareceres dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais norteiam o trabalho do professor e que apontam para a necessidade de um ensino mais dinâmico.

Nesse ponto, os professores precisam explorar diferentes metodologias, priorizando a criação de estratégias, a comprovação, a justificativa, a argumentação e o espírito crítico, favorecendo a criatividade, o trabalho coletivo, a iniciativa pessoal e a autonomia advinda do desenvolvimento da confiança na própria capacidade de conhecer e enfrentar desafios.

Segundo o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa (1982, p.907), a palavra “problema” é definida como uma “questão matemática proposta para que se lhe dê a solução; dúvida; proposta duvidosa que pode ter muitas soluções; aquilo que é difícil de explicar ou resolver.”.

Pozo (1994, p.15) afirma que o “(...) problema é uma situação em que um indivíduo ou um grupo quer ou precisa resolver, para o qual não se dispõe de um caminho rápido e direto que o leve à solução.”.

Lester (apud Borralho, 1990) define a palavra como “uma tarefa na qual o indivíduo ou grupo se confronta com a necessidade de encontrar uma solução, não possuindo um procedimento diretamente acessível que garanta a solução.”.

Conforme é afirmado por Dante, um problema matemático “é qualquer situação que exija a maneira matemática de pensar e conhecimentos matemáticos para solucioná-la” (Dante, 1997, p.10).

Já para Bourne Bominowski & Elkstrand (1974 apud Borralho 1990), “... um problema é algo onde uma pessoa tenta alcançar uma meta, não se consegue atingi-la nas primeiras tentativas, mas conhece que existem várias ações alternativas para atingir o fim que se pretende.”.

Conforme vimos, há várias definições para o termo “problema” e várias formas para analisar a sua resolução.

Por isso, é importante também analisar os conceitos de Polya, os quais serviram de embasamento para outros estudiosos, tais como Lester (1980) e Hayes (1981).

De acordo com Polya (1978), para resolver um problema matemático, é preciso compreendê-lo, estabelecer e executar um plano e, ainda, fazer o retrospecto ou a verificação.

Entretanto, qual a relação do jogo com a resolução de problemas?

Moura (1996, p.53) afirma que:

O jogo tem fortes componentes da resolução de problemas na medida em que jogar desenvolve uma atitude psicológica do sujeito que, ao se predispor para isso, coloca em movimento estruturas do pensamento que lhe permitem participar do jogo. O jogo, no sentido psicológico, desestrutura o sujeito que parte em busca de estratégias que o levam a participar deles. Podemos definir jogo como um problema em movimento, problema que envolve atitude pessoal de querer jogar tal que o resolvedor de problema que só os tem quando estes lhes exigem busca de instrumentos novos de pensamento.

Nesse método, cada hipótese/estratégia formulada, ou seja, cada jogada desencadeia uma série de questionamentos.

Entre as questões, encontram perguntas como:

– Essa é a única jogada possível?

– Se houver alternativa, qual escolher e por que escolher esta ou aquela?

– Terminado o problema ou a jogada, quais os erros e por que foram cometidos?

– Ainda é possível resolver o problema ou vencer o jogo se forem mudados os dados ou as regras?

Assim, as situações-problema permeiam todo o trabalho na medida em que o aluno é desafiado a observar e a analisar os aspectos considerados importantes pelo professor.

Cabe ao professor escolher os jogos que permitam a exploração do potencial no desenvolvimento de todas as habilidades (raciocínio lógico e intuitivo), o que pode ser realizado por meio de uma metodologia de resolução de problemas.

As situações-problema podem ocorrer por meio de uma intervenção oral com questionamentos ou pedidos de justificativas de uma jogada que está acontecendo, uma remontagem de um momento do jogo ou, ainda, uma situação gráfica.

No trabalho com os alunos, é interessante propor (sempre que possível e adequado à idade) diferentes possibilidades de análise, apresentando novos obstáculos a ser superados.

A análise das ações permite que o sujeito enriqueça suas estruturas mentais e rompa com o sistema cognitivo que determinou os meios inadequados ou insuficientes para a produção de determinado resultado.

Macedo (1992) pressupõe que essa situação (dita artificial) possa servir de modelo ou quadro referencial ao sujeito, possibilitando que haja transferência das estratégias utilizadas no contexto do jogo para outras situações.

Sendo assim, uma má jogada constitui uma excelente oportunidade de intervenção do professor.

Essas estratégias são o modo como são armadas as jogadas visando o objetivo final, sendo que, muitas vezes, o critério de certo ou errado é decidido pelo grupo numa prática de debate, o que permite o exercício da argumentação e a organização do pensamento.

Referências Bibliográficas
BORRALHO, A.M.A. Aspectos metacognitivos na resolução de problemas de matemática: proposta de um programa de intervenção. Portugal, Associação dos Professores de Matemática, 1990.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 2001.

DANTE, Luiz Roberto. Didática da resolução de problemas de Matemática. São Paulo: Ática, 1997.

ELKONIN, D. B. Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

FRIEDMANN, A. O direito de brincar: a brinquedoteca. 4ª ed. São Paulo: Abrinq, 1996.

KISHIMOTO, T. M. (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2001.

O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998.

MOURA, M.O. A séria busca no jogo: do lúdico na matemática. Jogo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança, imitação, jogo, sonho, imagem e representação de jogo: São Paulo: Zahar, 1971.

PINTO e LIMA. O dia a dia do professor. Belo Horizonte: FAPI, 2001.

POLYA, G. A arte de resolver problemas. Rio de Janeiro: Interciência, 1978.

POZO, Juan Ignácio (org.). A solução de Problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

TOSATTO, C.C. Hoje é dia de matemática – 2º ano. Curitiba: Ed. Positivo, 2007.
]VYGOTSKY, Lev. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Domingos Sávio da Silva Guatura é Mediador do Programa de Matemática do município de Guaratinguetá, São Paulo.

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