Com origem no Latim, o termo avaliar, proveniente de a-valere, que
significa “dar valor a…”, não
implica somente atribuir valor ou qualidade a um objeto de estudo. Mais
do que isso, consiste também na coleta e análise
de dados que compõem o objeto avaliado.
Essas atitudes induzem à tomada de decisão,
agindo para modificar o objeto ou mantê-lo na forma que
está. Nesse contexto, pode-se dizer que a
avaliação é um processo que subsidia a
obtenção de resultados mais
satisfatórios possíveis, portanto, ela
é subsidiária de um processo, de um movimento
construtivo.
Além disso, a avaliação é
um instrumento que auxilia na construção do
conhecimento, por isso funciona de modo articulado com um projeto
pedagógico que se assume, que se crê e se efetua
construtivamente.
Nesse sentido, para que haja uma alteração
efetiva no modo de agir em avaliação, faz-se
necessário cambiar as crenças e também
os modos de agir na prática pedagógica, rompendo
com a crença de que os alunos são desinteressados
e não querem nada mais em termos de aprendizagem, pois essas
crenças dificultam o trabalho com a
avaliação, que, por sua vez, deve propor o
crescimento do indivíduo, que não é um
ser fechado, mas sim aberto, ou seja, em
construção.
Com isso, os instrumentos de avaliação
não apenas avaliam, mas coletam dados que descrevem o
desempenho provisório do aluno, oferecendo
subsídios para a sua qualificação
diante de determinados critérios. Esse desempenho pode ser
qualificado (avaliado), auxiliando uma tomada de decisão no
que diz respeito à ação.
Para trabalhar com avaliação não
é preciso, necessariamente, mudar os instrumentos
utilizados, mas sim a postura, ou seja, em vez de examinar, avaliar e
classificar o aluno em aprovado ou reprovado, esse recurso pode ser
utilizado sob a ótica do verdadeiro sentido da
avaliação, que consiste em qualificar o
desempenho provisório do aluno, tendo em vista o
encaminhamento de atividades que melhorem seu desempenho, caso este
ainda não seja satisfatório.
Desse modo, vale ressaltar que não é o
instrumento que caracteriza o ato de examinar ou o ato de avaliar, mas
sim a postura de avaliar ou de examinar.
Logo, observa-se que
é preciso reverter o quadro atual da prática de
avaliação, considerando a complexidade do ato de
avaliar, de forma desafiante e exigindo a análise de
diferentes aspectos do trabalho pedagógico. São
inúmeras as consequências resultantes de
práticas avaliativas malsucedidas, que, além de
outros fatores, discriminam e favorecem a seletividade numa escola que
sempre se disse de direito e obrigatória.
Para Luckesi (2006), foi atribuído um espaço
tão significativo para a avaliação da
aprendizagem nos processos de ensino, que ele utiliza o termo
“pedagogia do exame”, como direcionadora das
práticas educativas escolares. A partir disso, o autor
afirma que:
[…]
os sistemas de exames, com suas consequências
em termos de notas e suas manipulações, polarizam
a todos. Os acontecimentos do processo de ensino e aprendizagem, seja
para analisá-los criticamente, seja para
encaminhá-los de uma forma mais significativa e vitalizante,
permanecem adormecidos em um canto. De fato, a nossa prática
educativa se pauta por uma “pedagogia do exame”. Se
os alunos estão indo bem nas provas e obtêm boas
notas, o mais vai… (LUCKESI, 2006. p.21)
Sendo assim, percebe-se que as práticas avaliativas nas
escolas são de caráter meramente
classificatório, priorizando principalmente a
competição e o individualismo, com seu foco
voltado para a promoção, ou não, dos
alunos para a série seguinte.
Nesse tipo de
avaliação, tudo acontece às avessas:
no momento em que os alunos estão sendo avaliados (melhor
dizendo, no momento da prova), alunos e professores tornam-se inimigos,
pois o poder e a arbitrariedade tornam-se implícitos na
relação professor/aluno.
Com base nas entrevistas realizadas por Depresbiteris (1991),
observa-se que a ideia de avaliação que os
professores possuem consiste em verificar o que o aluno aprendeu
atribuindo-lhe notas, que são tidas como ferramentas capazes
de controlar a indisciplina em sala de aula, possibilitando, assim, o
ingresso para outras séries.
Os professores, em sua maioria, não levam em
consideração os objetivos estabelecidos no
programa, considerando parte burocrática do processo. Ainda
com base nas pesquisas da autora, observa-se que os alunos
não se consideram parte integrante do processo de ensino,
apenas objetos a serem avaliados.
Em suma, muitas vezes a escola assume feições
conforme as exigências da sociedade em que está
inserida, de modo acrítico e inoperante, deixando de exercer
seu papel ativo na produção de uma nova cultura
social.
Com isso, é preciso haver clareza quanto aos fins da
educação que se defende, aos quais os aspectos
técnicos do ensino e da avaliação
devem ser subordinados.
Um projeto pedagógico efetivo
contém decisões dessa natureza, as quais devem se
originar do trabalho coletivo dos educadores, da real
participação de todos os segmentos escolares e da
vontade política de todos para vê-lo em
ação. A educação que deseja
emancipação política e social do homem
objetivará a competência do educando naquilo que o
torna cidadão digno e emancipado.
A partir disso, o trabalho pedagógico irá se
organizar de forma a tornar o aluno um indivíduo competente,
dono de suas decisões, respeitando o seu tempo de
aprendizagem, tornando-o capaz.
Decididamente, o sucesso desse tipo de
trabalho requer a relativização de todo e
qualquer mecanismo que dificulte seus propósitos, como a
aprovação/reprovação do
aluno e a prevalência do burocrático em detrimento
do pedagógico. Nesse sentido, Hoffmann (2006) completa:
Para
atribuir significado a esses processos, educandos e educadores
precisam estar engajados numa discussão que não
tem por finalidade o cumprimento burocrático da
avalição, mas a reflexão conjunta, o
apoio pedagógico e interdisciplinar na
resolução de problemas de aprendizagem, que fazem
parte do seu cotidiano. (HOFFMANN, 2006. p.28)
Dessa forma, de acordo com Hoffmann (2006) e Luckesi (2006), a
avaliação escolar só será
direcionada ao crescimento se estiver em função
de uma pedagogia democrática, baseada na
transformação social, sem o exercício
do poder e da autoridade que a atual prática
impõe, para, a partir de então, reverter o atual
quadro da prática da avaliação,
satisfazendo os aspectos como coerência entre teoria e
prática, clareza dos conceitos e fundamentos e, ainda, a
existência de condições objetivas para
a prática.
O portfólio, que não é mais uma
novidade, vem se tornando um instrumento que é
construído para atender à necessidade da
avaliação e do acompanhamento da aprendizagem,
uma vez que se caracteriza pelo registro reflexivo e crítico
do aluno e do professor sobre a produção escolar.
Além disso, está respaldado nos pressupostos
teóricos que explicam a construção do
conhecimento e tomam a reflexão como
condição para a ocorrência da
aprendizagem significativa, da formação e da
atuação profissional.
Referências
HOFFMANN, J. L. Avaliação: mito ou desafio: uma
perspectiva construtivista. 40ª ed. Porto Alegre:
Mediação, 2010.
Avaliar para promover: as setas do caminho. 9ª ed. Porto
Alegre: Mediação, 2006.
DEPRESBITERIS, Lea. “Avaliação da
aprendizagem – Revendo conceitos e
posições”. In: SOUZA, Clarilza Prado
de. (Org). Avaliação do rendimento escolar.
3ª ed. Campinas: Papirus, 1991.
LUCKESI, C. C. Avaliação da Aprendizagem Escolar:
estudos e proposições. 18ª ed.
São Paulo: Cortez, 2006.
Leila
Almeida Lopes é
Mediadora de Informática Educacional do município
de Caçapava, interior de São Paulo.