Universo Escolar
 

Na repetência escolar, quem deve ser reprovado: o aluno ou o colégio? - 27/01/2012
Francisca Romana Giacometti Paris

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A palavra reprovação escolar está vinculada à ideia de condenação, incapacidade e insucesso.

Trata-se de uma questão que aflige todos os envolvidos no processo: os estudantes, os pais e os educadores, além de trazer no seu bojo um conjunto de mitos que necessitam ser esclarecidos, principalmente aos pais.

Acredito que a reprovação não deveria existir no ensino fundamental, pois, tratando-se de escolaridade obrigatória, é esperado que seja oferecida para que todos obtenham sucesso ─ compreendido na maior pluralidade possível ─ no percurso escolar que lhes é imposto por força da lei.

Melhor dizendo, os meninos e meninas não escolheram estudar, mas são obrigados a frequentar a escola porque a sociedade brasileira assim decidiu, com o que concordo.

Ora, se a sociedade decidiu pela escolaridade obrigatória entre os seis e os 14 anos de idade, então que se mobilize para que ela seja eficaz para todos. Isso porque todos são capazes de aprender, desde que sejam respeitados seus sentidos, ritmos, cultura e condições cognitivas.

Partindo desse pressuposto, podemos nos perguntar: por que, então, existe a reprovação? Explico: a reprovação existe porque não sabemos fazer uma escola que trabalhe com as diferenças.

Nosso olhar “educador-míope” concebe um aluno-padrão e elabora práticas pedagógicas com base nele. Assim, quem não se enquadra no padrão ─ não por ser pior, mas por ser diferente ─ acaba sendo reprovado.

Outra hipocrisia da pedagogia da reprovação localiza-se no fato de reprovar apenas o aluno, desconsiderando questões fundamentais do complexo processo escolar.

O aluno, aquele que deveria ser resguardado, acaba sendo o culpado pelo seu próprio não saber. Ora, mas a escola não existe para ensinar? O aluno não vai à escola para aprender? Caso ele não aprenda, quem deve ser reprovado: ele ou a escola?

Contudo, apesar do exposto, se você ainda viver um momento de reprovação escolar, pode tirar dele um pequeno potencial pedagógico. É preciso reconstruir o termo, já que reprovar é um verbo cujo significado pode ser “provar de novo”, como o refazer significa, também, “fazer de novo”.

Confesso que não acredito muito nisso, mas, para acalentar pais angustiados, talvez eles possam dizer aos filhos que, se tivermos que provar um saber num determinado momento e não conseguirmos, resta-nos uma segunda chance. Então, poderemos provar de novo aquilo que sabemos, só que em outro tempo.

É importante sabermos ensaiar o discurso para dizer aos nossos filhos que reprovar pode ser um novo momento de provar e que, para isso, é preciso revisitar alguns saberes. Seria jogo de palavras? Penso que sim, mas vale tudo para recuperar a esperança e a autoestima de quem é o sujeito do existir escolar.

Francisca Romana Giacometti Paris é Pedagoga, Mestre em Educação, diretora Pedagógica do Agora Sistema de Ensino (www.souagora.com.br) e do Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva, e ex-secretária de Educação de Ribeirão Preto (SP).

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1 COMENTÁRIOS

1 ceres de moraes araujo pereira - Itapetininga
Me interesso pelo assunto. Depois que tomei conhecimento da Deliberação 11/96, indago aos coordenadores sobre a ficha individual do aluno que não consegue ser aprovado por notas. Não aceito esse tipo de avaliação, pois, entendo que cada aluno deve ser avaliado no conjunto: interesse em aprender, envolvimento, comportamento, etc. O aluno que frequenta a escola não deve ser punido com a reprovação. Penso que a escola que reprova é incapaz de ensinar e não o aluno de aprender. Todos nós somos capazes de aprender. Se não aprende, a escola tem o dever de detectar o problema através da ficha individual, para identificar o problema e ajudálo. As escolas não querem fazer uso desse instrumento e acabam taxando os alunos de incompetentes. Fazem questão de usar o poder em seu favor e não em favor do aluno. Já tive oportunidade de fazer uso desse conhecimento, a deliberação 11/96, para que muitos alunos fossem aprovados. Histórias das quais me envergonho, pois as escolas se dobram e todos passam. Sinto que na maioria das vezes, os próprios pais falam que seus filhos são vagabundos. Aí, eu faço uma pergunta a eles: Seus filhos não são seus exemplos???? Muitos admiram e correm para que seus filhos tenham êxito. Sou muito feliz por ter conhecido a Deliberação e Pareceres dos Conselheiros da Educação. A Escola deve ser formadora de cidadãos para uma sociedade melhor. Quem se sente bem se sentindo reprovado?O aluno tem direito de continuar e de se formar com a sua turma sob pena de se sentir um nada. Graças à Deus existem seres humanos que conhecem a Pedagogia do Amor!!!!! Tenho sede de uma sociedade mais humana, afinal, o mundo existe porque estamos aqui. Obrigada pela oportunidade.
01/10/2013 01:23:27


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