1.
Dentre tantas questões a iluminar nesta entrevista, temos
a diferença básica entre a crítica
genética e a edição
genética. Quais são os aspectos que as
diferenciam?
A crítica genética é uma
possível abordagem para os objetos comunicacionais em
sentido amplo (literatura, artes, publicidade, jornalismo e
ciência), que tem por objetivo compreender os processos de
criação. Tenho um livro publicado pela
editora da PUC/SP (crítica genética) que tem uma
ampla discussão sobre
a caracterização dessa linha de pesquisa.
Já venho ampliando as propostas da crítica
genética para se pensar a partir de questões
gerais da criação (uma
teorização da criação que
surgiu a partir da comparação de diversos estudos
de caso, que discute a criação como rede em
construção), uma crítica de processo
em sentido amplo (ver meu livro redes da
criação).
A edição
genética é a publicação
digital ou em livros dos documentos do processo de
criação. Não me dedico a essas
edições. Há muitos pesquisadores no
Brasil e no exterior que fazem essas publicações
no campo da literatura, como a prof. Telê Ancona Lopez do
Instituto de estudos brasileiros da USP.
2.
À guisa de complemento, é possível
encontrar informações do seu trabalho com making
of e entrevistas bastante comuns hoje nos DVDs e Blu-Rays, como se
dá este trabalho?
Tenho um capítulo do meu livro "arquivos de
criação: arte e curadoria", que se chama
criação cinematográfica: roteiros e
extras. Acho que você encontrará lá
alguns resultados sobre os estudos desses documentos.
Trabalho
exatamente do mesmo modo que lido com documentos de outras
áreas: a partir de uma atenta
observação com a intenção
de responder à pergunta: o que esse material me oferece
sobre processo de criação? Estabeleço
relação entre as
informações para chegar a algum tipo de
generalização sobre os princípios que
direcionam o cineasta estudado e seus procedimentos de
criação. No cinema, fiz também um
estudo sobre os diários de David Carradine na
época da filmagem de Kill Bill.
3.
Uma pergunta que não está ligada diretamente ao
assunto, mas à tangência: a senhora concebe a
imagem como texto?
Como tenho um olhar semiótico (de linha peirceana), essas
diferenciações não se colocam. Imagens
e textos são signos que têm seu mesmo modo de
ação. Daí a não
distinção.
4.
E os trabalhos com edição genética?
Não são comuns aqui no Brasil, correto?
São comuns sim, especialmente na literatura.
5.
Em suma, como definiríamos a profissão
“editor genético”?
Não posso responder essa pergunta, por não fazer
esse tipo de pesquisa, mas sei que não é uma
profissão, isto é, não há
pessoas que só fazem edições
genéticas.