A Semana - Opiniões
Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

A coletividade dos erros e acertos - 26/07/2011
Responsabilidades compartilhadas

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Dia após dia, somos abordados por situações que entram em desacordo com a moral e os bons costumes.

Pessoas que agem com engano, pessoas que furtam a nossa vez de falar e aparecer, pessoas que impulsivamente reagem contra qualquer gesto sem maiores intenções de nossa parte, pessoas que tornam nosso dia a dia mais cansativo e, não raras as vezes, pessoas que acabam com a nossa energia de propor novidades, de agir com bondade.

São várias as situações que nos vemos envolvidos com outras pessoas, com gente como nós, com alguém que, diferente do que podemos imaginar, é a consequência de ações ocorridas entre nós mesmos, de ações coletivas.

É isso mesmo, entre as ações que as outras pessoas fazem, as quais podem nos causar dissabores e noites sem dormir direito, há a ação do coletivo, de outras pessoas que, de um modo ou de outro, colaboraram para que uma pessoa hoje seja tal como ela é.

Não é que vamos nos culpar pelos erros cometidos pelos outros, mas isso não pode nos deixar imunes a momentos de reflexão, de modo a entender e a, pelo menos, tentar corrigir algumas falhas que podem causar as mais diferentes situações desconcertantes hoje em dia.

Nós, como professores, por exemplo, vimos muitas vezes alunos que, por não suportarem mais algumas aulas e por julgarem ter algo mais importante a fazer, saíram da sala de aula e ocuparam-se em outras atividades.

As pessoas que hoje fazem parte da imensa população carcerária, por exemplo, de algum modo já desempenharam os papéis de filhos, pais, sobrinhos, netos, vizinhos, colegas, conhecidos e, inclusive, alunos.

Já estiveram conosco, já passaram por nós, já fizeram e ainda fazem parte da história do nosso país, da nossa cidade, do bairro em que estamos morando... 

No caso, não dá para ignorar a ação do coletivo, a ação que existe mesmo quando não fazemos nada, dado que o não fazer, o não querer ver, o isolamento, assim como o foco em nosso ego também são formas amargas de ações sobre o outro, de ações coletivas.

Cada um de nós, cada pessoa que age de um modo que não nos agrada, que faz o nosso dia mais trabalhoso e cansativo, cada uma dessas pessoas é uma forma de resultado de ações que ocorreram com ela em algum momento de sua vida.

Somos também o resultado das nossas vivências, daquilo que quisemos ter e que nos foi negado, somos resultado da ação de um adulto que, ao ver alguém com maiores necessidades, não deu a atenção que este alguém precisou naquele momento.

Enquanto estamos focados em nossos assuntos, no bem-estar apenas de nossos filhos e de nossa família, enquanto estamos embaraçados com assuntos referentes ao nosso próprio bem, a vida continua o seu curso natural, sendo empurrada para as próximas gerações.

É fácil notar a despreocupação de muitos de nós com assuntos que não nos dizem respeito num primeiro momento. É mais fácil ainda notar como muitos de nós somos tendenciosos para apontar o erro cometido pelo outro.

Inclusive, apontamos tanto as falhas do outro que parece que estamos, de alguma forma, imunes ao erro, ao exagero, a rir de piadas que não têm a menor graça para quem as vive.

Assim a vida vai seguindo sem maiores preocupações, sem ter entre nós pessoas que assumam a responsabilidade pelo coletivo, pelas ações e não ações que reagem dia a dia a nossa frente diante de nossos olhos, as quais não podemos ignorá-las.

Um aluno que hoje é expulso da sala de aula devido à indisciplina, um filho que vê seu pai olhar em direção contrária àquele que pede ajuda no semáforo...

Uma criança que olha para a felicidade de outra que acaba de ganhar um brinquedo que ela acha que nunca conseguirá ter ou até mesmo um irmão mais velho que vê o caçula ser defendido a todo custo como se fosse um bebê são ações do coletivo, não estão armazenando sentimentos isoladamente.

É hora de assumirmos nossa responsabilidade não apenas com aqueles que estão dentro de nossas casas, mas também com todas as demais pessoas que conseguirmos agir efetiva e beneficamente.

As pessoas que passam todos os dias por nós não são figurantes, dado que dia a dia nos vemos envolvidos direta ou indiretamente com atores que podem tornar-se protagonistas e antagonistas, impactando a vida de tantas outras pessoas.

Desta forma, não estamos sozinhos, somos o resultado do coletivo e, com a mesma intensidade que as ações desajustadas ocorridas em conjunto ajudam a construir os erros de alguém, podemos ter a confiança que ainda há tempo para construir pontes firmes para o livre fluxo do bem na vida de outras pessoas.

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