A Semana - Opiniões
A coletividade dos erros e acertos
Responsabilidades compartilhadas
Dia após dia,
somos abordados por
situações que entram em desacordo com a moral e
os bons costumes.
Pessoas que agem com engano,
pessoas que furtam a nossa vez de falar e aparecer, pessoas que
impulsivamente
reagem contra qualquer gesto sem maiores
intenções de nossa parte, pessoas que
tornam nosso dia a dia mais cansativo e, não raras as vezes,
pessoas que acabam
com a nossa energia de propor novidades, de agir com bondade.
São
várias as situações que nos
vemos envolvidos com outras pessoas, com gente como nós, com
alguém que,
diferente do que podemos imaginar, é a
consequência de ações ocorridas entre
nós mesmos, de ações coletivas.
É isso mesmo,
entre as ações que
as outras pessoas fazem, as quais podem nos causar dissabores e noites
sem
dormir direito, há a ação do coletivo,
de outras pessoas que, de um modo ou de
outro, colaboraram para que uma pessoa hoje seja tal como ela
é.
Não
é que vamos nos culpar pelos
erros cometidos pelos outros, mas isso não pode nos deixar
imunes a momentos de
reflexão, de modo a entender e a, pelo menos, tentar
corrigir algumas falhas
que podem causar as mais diferentes situações
desconcertantes hoje em dia.
Nós, como
professores, por
exemplo, vimos muitas vezes alunos que, por não suportarem
mais algumas aulas e
por julgarem ter algo mais importante a fazer, saíram da
sala de aula e
ocuparam-se em outras atividades.
As pessoas que hoje
fazem parte
da imensa população carcerária, por
exemplo, de algum modo já desempenharam os
papéis de filhos, pais, sobrinhos, netos, vizinhos, colegas,
conhecidos e,
inclusive, alunos.
Já estiveram conosco, já passaram por nós, já fizeram e ainda fazem parte da história do nosso país, da nossa cidade, do bairro em que estamos morando...
No
caso, não
dá para ignorar a ação
do coletivo, a ação que existe mesmo quando
não fazemos nada, dado que o não
fazer, o não querer ver, o isolamento, assim como o foco em
nosso ego também
são formas amargas de ações sobre o
outro, de ações coletivas.
Cada um de
nós, cada pessoa que
age de um modo que não nos agrada, que faz o nosso dia mais
trabalhoso e
cansativo, cada uma dessas pessoas é uma forma de resultado
de ações que
ocorreram com ela em algum momento de sua vida.
Somos também
o resultado das
nossas vivências, daquilo que quisemos ter e que nos foi
negado, somos
resultado da ação de um adulto que, ao ver
alguém com maiores necessidades, não
deu a atenção que este alguém precisou
naquele momento.
Enquanto estamos focados
em
nossos assuntos, no bem-estar apenas de nossos filhos e de nossa
família,
enquanto estamos embaraçados com assuntos referentes ao
nosso próprio bem, a
vida continua o seu curso natural, sendo empurrada para as
próximas gerações.
É
fácil notar a despreocupação de
muitos de nós com assuntos que não nos dizem
respeito num primeiro momento. É
mais fácil ainda notar como muitos de nós somos
tendenciosos para apontar o
erro cometido pelo outro.
Inclusive, apontamos
tanto as
falhas do outro que parece que estamos, de alguma forma, imunes ao
erro, ao
exagero, a rir de piadas que não têm a menor
graça para quem as vive.
Assim a vida vai
seguindo sem
maiores preocupações, sem ter entre
nós pessoas que assumam a responsabilidade
pelo coletivo, pelas ações e não
ações que reagem dia a dia a nossa frente
diante de nossos olhos, as quais não podemos
ignorá-las.
Um aluno que hoje é expulso da sala de aula devido à indisciplina, um filho que vê seu pai olhar em direção contrária àquele que pede ajuda no semáforo...
Uma criança
que olha para a
felicidade de outra que acaba de ganhar um brinquedo que ela acha que
nunca
conseguirá ter ou até mesmo um irmão
mais velho que vê o caçula ser defendido a
todo custo como se fosse um bebê são
ações do coletivo, não
estão armazenando
sentimentos isoladamente.
É hora de assumirmos nossa responsabilidade não apenas com aqueles que estão dentro de nossas casas, mas também com todas as demais pessoas que conseguirmos agir efetiva e beneficamente.
As
pessoas que passam todos os dias por nós não
são figurantes, dado que dia a dia
nos vemos envolvidos direta ou indiretamente com atores que podem
tornar-se
protagonistas e antagonistas, impactando a vida de tantas outras
pessoas.
Desta forma,
não estamos
sozinhos, somos o resultado do coletivo e, com a mesma intensidade que
as ações
desajustadas ocorridas em conjunto ajudam a construir os erros de
alguém,
podemos ter a confiança que ainda há tempo para
construir pontes firmes para o
livre fluxo do bem na vida de outras pessoas.