Entrevista com José Roberto Torero: Cineasta, Escritor e Roteirista - 22/06/2011
Leonardo Campos Cerqueira
1.
O primeiro ângulo a iluminar nesta entrevista é a
situação do cinema nacional atual. O senhor acha
que estamos em um bom momento?
Bom, sim. Ótimo, não. Poucos filmes atingem grande público e menos ainda fazem sucesso em festivais no exterior. Mas o público já se acostumou com o cinema brasileiro, já não tem mais preconceito em relação a ele, e isso é bom. Pena que ainda não possui um amor especial por ele, mas talvez isso venha com o tempo, quando aprendermos a fazer filmes que tenham mais a ver com o gosto brasileiro.
2.
Fazer
um filme de amor é uma produção que
brinca com os clichês e estereótipos dos filmes de
romance. Como se deu o processo de produção? Foi
uma ideia original sua?
O filme surgiu da leitura daqueles livros de banca: Julia, Bianca e Sabrina. Eu e uns amigos lemos vários e decidimos fazer uma sátira. Pensamos primeiro em escrever um livro, mas depois mudamos para cinema, porque vimos que a estrutura era a mesma usada nas comédias românticas roliudianas. A produção foi possível porque o roteiro ganhou um prêmio para filmes de Baixo Orçamento.
3.
Falando em metalinguagem,
quais são os seus filmes metalinguísticos
prediletos?
A Rosa Púrpura do Cairo, de Wooddy Allen, e A Noite Americana, de François Truffaut.
4.
Quais são os filmes que o senhor indicaria como
indispensáveis para a bagagem inicial de um estudante de
cinema?
São muitos. Vou pensar em 10, além dos dois
anteriores: Luzes da cidade, Charles Chaplin; Cidadão Kane,
Orson Welles; Festim
diabólico (The
rope), Alfred Hitchcock; Zellig, de Wooddy Allen; Apocalipse Now, de
Francis Ford Coppola; Era uma vez no Oeste, de Sergio Leone;
Tubarão, de Steven Spielberg; Deus e o Diabo na Terra do
Sol, de Glauber Rocha.; Cidade de Deus, de Fernando Meireles; A
Família, de Ettore Scola.
5. Como o senhor analisa
as relações do cinema com a literatura?
Acho que a literatura é mais ou menos como um avô
do cinema. A fotografia seria a mãe e o teatro, o pai.
6.
Ainda nesta seara, qual (quais) a (s) adaptação
(adaptações) que o
senhor considera mais satisfatórias?
As do Hitchcock são sempre interessantes. Mas as melhores
são de Stanley Kubrick. Vale a pena ver Lolita, Barry Lindon
e 2001,: Uma Odisséia no Espaço. Ele consegue
transformar os livros em filmes. Não são
adaptações, é algo mais do que isso.
7. Terra Papagalli é um marco na sua carreira. Um dos livros mais estudados nas disciplinas sobre a literatura brasileira e a nacionalidade. Comentaria o processo de produção?
Começou quando dava entrevista a um jornalista sobre meu primeiro livro, O Chalaça. Ele perguntou qual seria o segundo livro e respondi, sem pensar muito, que, como o primeiro foi sobre a independência do Brasil, o segundo poderia ser sobre o descobrimento.
Gostei da ideia e comecei a pesquisar sobre o assunto. Decidi fazer um livro com um degredado como personagem principal. O mais conhecido era João Ramalho, e as duas primeiras versões do livro foram com ele como personagem principal.
Mas logo eu e Marcus (Marcus Aurelius Pimenta, o outro autor do livro) começamos a gostar mais de um personagem secundário, Cosme Fernandes, conhecido como Bacharel da Cananeia. Daí em diante fizemos mais nove versões, mexendo na história, no estilo etc.
8.
É a sua publicação predileta?
Não sei. Livros são mais ou menos como filhos,
gosta-se de todos mais ou menos igualmente. Não pelos mesmos
motivos, mas praticamente o mesmo tanto.
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