Fomos maus alunos - 11/02/2004
Gilberto Dimenstein e Rubem Alves
"Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo. A última coisa que se pode sentir diante da eterna novidade do mundo é tédio. O pensamento é uma criança que explora essa caixa de brinquedos chamada mundo. Pensar é brincar com os pensamentos." (Rubem Alves)
Imagine o que significa reunir dois fenômenos num mesmo time. Quantas tabelinhas e lances magistrais poderiam acontecer? Os gols sairiam em profusão. As jogadas de mestre seriam uma constante. O público iria delirar do começo ao fim...
"Fomos maus alunos", da editora Papirus, realiza esse feito na área da educação ao colocar em campo (mais especificamente nas páginas de um livro), os craques Rubem Alves e Gilberto Dimenstein.
O educador Rubem Alves, nas palavras de Gilberto Dimenstein, "é o educador íntegro", inteiro, de corpo e alma. Transcende o básico da educação ao reunir "o máximo da razão com o máximo da emoção". Gilberto completa a apresentação de Rubem Alves assumindo um posicionamento que muitos de nós, educadores, gostaríamos de assumir ao dizer que "se pudesse escolher o que gostaria de ser quando crescer (se crescer) é Rubem Alves".
O jornalista Gilberto Dimenstein, nos dizeres de Rubem Alves, é um "comunicador", daqueles que acreditam que "comunicar é a arte de fazer com que uma idéia tenha vida". Gilberto é aquele que "liga pontos que ninguém acreditava que pudessem ser ligados" e faz "nascer o potencial de inteligência e vida que mora dentro das pessoas". Um verdadeiro e autêntico educador.
Diante de uma apresentação como essa, em que fica esclarecido um pouco da trajetória e dos propósitos que unem o destino dos dois protagonistas, fica um tanto quanto confuso entender o título do livro que reuniu esses dois talentos, "Fomos maus alunos".
O jornalista Gilberto
Dimenstein e o educador Rubem Alves.
"Quando a escola vinha com isso, dizendo que eu tinha que saber os afluentes do Tocantins, do Amazonas, eu só dizia assim: Eu não consigo. Depois de uma certa idade foi que descobri que quando eu falava não consigo, tinha uma voz dizendo, mas por que deveria conseguir? (...) Fui descobrir que não conseguia por que aquilo não tinha significado." (Gilberto Dimenstein)
Que então fique claro, o mais rapidamente possível, que tanto Dimenstein quanto Rubem Alves falam a respeito de suas trajetórias como estudantes ao longo de todo o livro e, ressaltam que tiveram dificuldades em lidar com a escola, o que lhes causava arrepios ao acordar todos os dias pela manhã e ter que trilhar os caminhos que os levavam a suas escolas.
Em suas falas, nesse diálogo estendido e transformado em livro, fica claro que a escola não foi capaz em momento algum de seduzi-los, conquistá-los, fazê-los se sentir à vontade, produzir e realizar dentro daquilo que poderiam...
A escola lhes parecia apenas mais um compromisso a ser cumprido, como um remédio amargo a ser engolido quando o corpo carrega uma moléstia qualquer. Sabiam que precisavam dela, mas não conseguiam criar um laço de conexão que unisse os "conhecimentos" aprendidos na sala de aula ao mundo exterior.
Não vivenciavam essa experiência como a do homem apaixonado, que a todo instante quer estar com a mulher amada, curtindo intensamente todos os momentos; não percebiam a relação que tinham com as aulas como aquela que permite transcender, viajar para mundos nunca antes visitados por outro ser humano, transpor barreiras e voar, como Ícaro e suas asas de cera, em direção ao infinito...
A escola era chata (e continua sendo, infelizmente, para um grande contingente de alunos). Não importa se os debatedores falavam da escola dos anos 40 e 50 em que Rubem Alves estudou ou a escola dos anos 60 e 70, em que se formou Gilberto Dimenstein. Não importa se falamos da escola dos dias atuais, que mantém ranços de conservadorismo e conteudismo em níveis assustadoramente altos... A chatice continua a existir!
Que diferenças
podemos perceber entre a escola de nossos pais, a de nossos
avós e da nossa? A escola tem que desafiar os alunos, tem
que fazer com eles se sintam vivos, tem que proporcionar prazer...
"Como comunicador trabalhando com educação, me
sobra uma visão: a escola só pode ser uma casa de
gestão de curiosidades. Do contrário ela
não é funcional. Ou a paixão
é o motor da escola, ou ela serve para pouco." (Gilberto
Dimenstein)
Gilberto e Rubem têm a ousadia de confrontar o tacanho e reducionista mundo da educação de moldes tradicionais, que continua propondo "caminhos suaves" para a educação das crianças e jovens. Basta, dizem os dois. A educação tem que surpreender, cativar, conquistar os estudantes a todo o momento. O conhecimento tem que ser construído a partir de constantes desafios.
O trabalho desenvolvido em aula tem que ser significativo para os educandos. Eles têm que entender os motivos que levam os professores, as escolas, as secretarias e delegacias de ensino e órgãos superiores, a lhes imputar um determinado conhecimento. Se as propostas forem entendidas e se vincularem ao movimento que rege a vida deles, então será digerido com enorme prazer. A digestão não será inconveniente. Não surgirão dores de barriga como efeitos colaterais...
Como bem esclarece Rubem Alves na introdução, ele e Gilberto tinham fome. Fome de conhecimento, de informação, de compreensão de mundo. O problema é que as escolas desvinculavam seus programas de curso de tudo aquilo que acontecia fora dos limites estreitos das paredes que separavam a escola do mundo lá fora...
Como não cumpriam com aquilo que as escolas esperavam deles, foram tidos como "maus alunos", eram fracassados, afinal de contas, as escolas tinham os "critérios certos" e eram as instituições mais importantes na vida de qualquer pessoa que sonhasse com o sucesso na vida adulta.
"Assim
é a educação: um toque para provocar o
outro a fazer soar sua música. Essa é a teoria
socrática da educação.
Sócrates dizia que todos nós estamos
grávidos de beleza, e que a tarefa do educador, como na
história da Bela Adormecida, é dar o beijo para
despertar uma inteligência adormecida"
(Rubem Alves)
Felicidade, altivez e criatividade nunca foram consideradas elementos fundamentais nos currículos escolares. Formamos as pessoas e não pensamos em suas emoções, na verdade desprezamos tudo aquilo que se relaciona com o coração. Talvez por isso, tantas pessoas morram todos os anos de problemas do coração. Desde cedo foram desencorajadas a expressar seus sentimentos, a falar abertamente o que pensam, a olhar com coragem para o futuro.
"Fomos maus alunos" nos traz o debate franco de idéias, entre pessoas que cultivam desde cedo o inconformismo com a mesmice e que lutam com todas as suas forças pela renovação. Homens que carregam como cerne de suas idéias a felicidade, a altivez, a criatividade, a ousadia... Verdadeiros fenômenos!
Obs.: Em
mais uma comprovação de seu compromisso e
dignidade, os autores doaram os direitos sobre o livro "Fomos maus
alunos" para a Fundação Síndrome de
Down". Verdadeiro gol de letra!
1 Gilberto - Brasilía
Sem duvidas esses dois gênio foram muito importante, para falar tudo aquilo que nós todos temos vontade de falar. Somos Maus Alunos, esse titulo mostra que existe algo a ser descoberto como por ex: como ensinar? porque ensinarmos assim? e porque ensiar assim? esse são alguns questionamento que todos nós educadores devemos fazer ao longo de nossos dias como educador. Gilberto prof: de Filosofia
21/11/2010 13:49:25
2 cathiley nair miranda santana - paranaibamato grosso do sul
ler os livros de rubem alves e sempre um previlégio faz lembrar outros queridos escritores, como paulo freire e muitos outros em se tratando de educação, e fica sempre uma vontade enorme de ver, com urgencia, renovação, revolução, mudanças O MAIS RÁPDO POSSIVEL,URGENTISSIMO,da uma tristeza ver como está à educação!!!!!
28/09/2010 00:43:31
3 Fabiana - São Paulo
Sou apaixona pela proposta pedagógica de Rubem Alves. Ele sem dúvida é excelente no que faz. Vou fazer meu TCC baseado em sua proposta de educação. Se alguem puder me ajudar com alguma fonte para que eu possa entrar em contato com ele serei muito grata.
Abraços
Que Deus ilumine o caminho de todos vocês
13/01/2010 21:34:56
4 domingas B. de Oliveira Cunha - Lucas do Rio VerdeMT
Achei o tema do livro interessante, mais considerando a forma de organização da educação hoje, dependendo da linha de pensamento dos representantes do sistema educacional brasileiro e de alguns professores considero alguns pontos relativos porque tenho a consciencia que mudar as concepcões pedagógicas, metodológicas de avaliação e organização frente a um modelo tradicional que perdura ha 100 não será de uma hora para a outra e existe muitos pontos relevantes que contribuem para a desmotivação do professor e educandos no momento de sentir o prazer de estudar na minha opinão tem que ser feito muitas mudanças na educação em primeiro lugar: no momento da escolha em que elguem deseja se formar para professor, redimencionamento das disciplinas da pedagogia, a política de valorização do profesor e por aí vai.....Sou professora tenho 15 anos de magistério, pedagoga especialista em gestão escolar. acredito que sou uma das poucas que tem paixão em ensinar e mesmo percebendo os pontos fracos da minha área, sempre procurei utilizar metologias em que meus alunos se sintam capazes, concordo plenamante com Rubéns Alves quando diz que no aluno é preciso que sinta o conteúdo como um beijo na Branca de Neve, levando a dispersão das suas potencialidades. Quando o educador transgride, pesquisa e gosta do que faz não liga para a sua realidade de despersonalização da profissão.OBS. Aqui os profesores ganham bem e são valorizados.
10/01/2010 20:29:54
5 Ana Luiza Soares Ribeiro - AmambaiMS
Adorei o livro, recomendo a todos, pois os dois autores fazem comentários que até hoje, com toda a tecnologia existente para se usar em salas de aulas ainda escutamos dos próprios alunos e até de nós mesmos que somos acadêmicos, pois os professores não conquistam seus alunos, apenas transmitem conhecimentos, não buscam formas diferentes de trabalhar o conhecimento e assim os alunos como educadores vão se cansando e caindo na rotina diária da escola, até mesmo professores recém formados se deixam levar pelos outros e acabam fazendo o mesmo com seus alunos, esquecendo o que se aprende nos bancos acadêmicos de licenciaturas.
17/11/2009 14:47:06
6 Divana Maria de Andrade Peixoto - Turvolandia Minas Gerais
Ler os livros de Rubem Alves é para mim um alento. Ele me faz compania, me alegra e transforma meus pensamentos em palavras.Para mim ele é um dos maiores escritores e mineirinho como eu.Seus livros me transportam a lembranças da infancia a beira do fogão de lenha da minha avó e hoje,como educadora,vejo suas palavras como reflexão a uma educação mais real e de mais valores morais.
23/04/2009 15:55:24
7 veronica valerio de assis - igarassu. pe
hoje,tendo seu livro em mãos, tenho a certeza que,por maior que seja a vontade de ensinar, ainda falta muito para que realmente seja uma professora de qualidade,qualidade diferente,de penssamentos livres de vontades próprias,ter uma visão além do imaginário,e depois da oportunidade de relaçao com seus livros tive a sensação de construir um mundo de leitor diferente,sinto muito em não ter condiçoes de ter minha própria escola para que desenvolvesse todo seu conteúdo,comecei meu curso em 2005 irei terminar um pouco além do imaginado,sou uma aluna do fundão,e não assisto aulas com frequencias,tenho uma profissão um pouco complicada trabalho com analise clinicas há quase 20 anos e meus plantões conhecide com as aulas da faculdade,ja deu para senti o clima da complicação que é minha vida,sei que irei conseguir,leio muito as obras de rubem alves e tenho certeza da minha escolha,esse livro maus alunos tem tudo haver.voces dois, realmente são dois genios,como Einstein,debil mental,estou no mesmo caminho, debil também. queria agradecelos ,meus dias de angustias terminaram.um abraço, veronica valerio
13/12/2008 11:53:04
8 GENILDA MORAIS RODRIGUES VASCONCELOS - TIMOTEO/MG
ESTOU PESQUISANDO UM TRABALHO PARA MINHA SOBRINHA E PRECISO SABER URGENTEMENTE SE RUBENS ALVES JA ESTEVE NA CIDADE DE TIMÓTEO/MG. NÃO CONSIGO ENCONTRAR ESTA INFORMAÇÃO NA NET.
AGRADEÇO.
23/04/2008 23:26:37
9 valdir - manaus
preciso , se alguem tem, o email para me comunicar com o rubem alves. tou fazendo um TCC baseado na proosta de educação dele. preciso entrar em contato com ele. se alguem tem, por favor possibilite-me essa oportunidade de pelo menos trocar algumas idéias
05/09/2007 11:55:54
10 Veralucia Santos Silva Medeiros - Salvador-Ba
Acredito que a escola, na contemporaneidade, deva mais do que nunca,
estar aberta às perspectivas de seus alunos nos diversos contextos da aprendizagem e da vida de cada deles.
O artigo é bastante interessante para o contexto da educação atual onde a escola e os professores devam estar preparados e receptivos às parendizagens dos seus alunos porque cada um deles tem sua singularidade, individualidade para aprender, como também tem interesses próprios naquilo que quer para si e utilizar para a escolha da sua profissão.
19/06/2007 15:02:57
11 Agda Possidonio da Silva - Santos
Este livro traz de volta lembranças guardadas e já esquecidas, mas que nos mostram a realidade do que aconteceu com grande parte dos adutos de hoje, que tentam construir uma nova escola, bem melhor do que tivemos!
29/04/2007 16:14:50
12 Heloisa Miranda - Campo Maior-PI
RUBEM ALVES É SEM DUVIDA UM AUTOR EXTRAORDINARIO.SUA VIDA SEUS LIVROS SÃO EXEMPLOS DE VIDA PARA A SOCIEDADE.
28/03/2007 15:23:21
Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.