As Pessoas Com Deficiência E Os Relacionamentos Virtuais Rumo Aos Amores Reais - 11/05/2010
Psicologia e Deficiência – Professor Emílio Figueira
Segundo
dados do IBGE, observa-se que entre as pessoas com
percepção de incapacidade há uma alta
incidência entre os que nunca formalizaram uma
união (3,1%), enquanto que entre os que casaram no civil e
no religioso essa taxa é de 2,7%. São resultados
que acabam refletindo a maior dificuldade dessas pessoas de
estabelecerem laços matrimoniais e de
constituírem família quando comparados
às pessoas com deficiência em geral.
Felizmente, nós seres humanos temos uma imensa capacidade de
encontrar soluções para os mais diversos
problemas com saídas estratégicas, buscando em
nossas angústias e anseios forças até
mesmo desconhecidas que nos impulsionam para frente, rumo aos nossos
objetivos!
Atualmente e com o advento da internet, tem sido grande o número de pessoas com deficiências que está encontrando seus amores e parceiros nos sites de namoro e relacionamentos. Isto porque os primeiros contatos virtuais por e-mails e outras formas de bate-papo via computador eliminam o impacto inicial, o estigma, os preconceitos herdados culturalmente de quem vê uma pessoa com deficiência pela primeira vez.
Esse
tipo de contato permite que ambas as partes se conheçam
internamente, apresentem-se, conte um pouco de suas
histórias pessoais, seus planos,
intenções e a revelação
parcial de suas personalidades. E o primeiro encontro no mundo real
ocorrerá depois de um tempo, quando haverá uma
opinião e uma visão já formada do
outro. E hoje temos até site de namoro só para
pessoas com deficiência – embora pessoalmente acho
que seja uma maneira de formar guetos!
Consequência disso pode ser o início de namoros.
Encontro entre duas pessoas que se atraem de diversas formas,
não só fisicamente, mas também pelo
jeito de falar, de olhar, que gostam das mesmas coisas, ou
não, o que faz com que se aprenda um com o outro.
Um tempo para se conhecer, um treino para ter uma vida a dois mais prolongada, casar, ter filhos, uma família. Vale lembrar que passamos em média as duas primeiras décadas de nossa vida em companhia da família; mas quando escolhemos alguém para casar, além de completar nossas necessidades afetivas e existenciais, também estamos escolhendo o companheirismo de uma pessoa para cuidar e sermos cuidados por resto da vida!
Um relacionamento saudável é aprender a conviver com o que a outra pessoa tem de potencial e de dificuldade, mesmo que ela não tenha uma deficiência evidente. Confiar um no outro, poder dizer o que sente, falar das suas inseguranças, do medo de não ser amado, do ciúme (que é normal)...
E insegurança não é algo exclusivo de quem possui uma deficiência, pois ela é parte do ser humano, todo mundo tem medo de ser rejeitado. Aliás, esse é o jogo do amor; as pessoas querem e têm o direito de se conhecer, mas não com a obrigatoriedade de ficar, namorar necessariamente com a outra, que talvez não correspondeu às suas expectativas, não despertou-lhe o chamado “algo a mais!”.
Namorar pode trazer alguns “problemas” inesperados para quem tem uma deficiência, principalmente no campo familiar. Muitos pais temendo que os filhos sejam magoados e/ou rejeitados por pessoas sem deficiência dificultam essa fase na vida dos filhos, criam obstáculos para isto ou simplesmente nem permitem diálogos sobre o assunto em casa, imaginam que, com isso, vão proteger o(a) filho(a).
Chegam a cometer o erro de desejar que o(a) filho(a) encontre alguém que tenha questões parecidas para ser mais bem compreendido(a). Não aceitam que todos têm direito de conhecer, conviver e escolher com quem deseja dividir a sua vida. E existindo afeto e sinceridade numa relação, as outras coisas vão se arrumando.
Cabe à família de uma pessoa com deficiência favorecer este desenvolvimento sem superproteção, porém viabilizar o encontro, a convivência, o namoro, a construção do novo núcleo de expansão familiar. Uma pessoa sem deficiência que se propõe a entrar num relacionamento dessa natureza, poderá também sofrer algumas consequências iniciais.
Um boicote, oposição de sua família; afastamento de alguns de seus amigos; ser motivo de algumas chacotas. Mas se esse relacionamento e sentimento forem verdadeiros, o tempo se encarregará de derrubar barreiras, preconceitos e gerará aceitação.
À pessoa com deficiência e quem com ela estiver cabe ter maturidade afetiva, equilíbrio mental e bom senso para encarar o desafio de viver um relacionamento sério na vivência do amor. Mas tudo isso são passos posteriores. O legal é que hoje temos a internet como aliada dos passos iniciais de encontro.
Só é preciso ter certa malícia e tomar um cuidado: A rede mundial também é um campo minado com gente de boas e más intenções, só que, como escreveu Fernando Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena!”.
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