Carpe Diem
Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

Versos Tristes que Falam de Amor - 30/04/2010
Pablo Neruda - De Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada

'

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada e tiritam, azuis, os astros, ao longe".

O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a quis, e às vezes ela também me quis...

Em noites como esta eu a tive entre os meus braços. A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito. Ela me quis, às vezes eu também a queria. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi. Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. Minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Como para aproximá-la meu olhar a procura. Meu coração a procura, e ela não está comigo. A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores. Nós, os de então, já não somos os mesmos

Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis. Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero. É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento. Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços, minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa, e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo. (Pablo Neruda)

Paixão leva à loucura, amor traz o bálsamo para perto de nós e é capaz de curar feridas causadas pelo desamor. É nobre a coragem de dizer que ama e que por alguém é ou deseja ser amado. Vemos diariamente muitas situações de egoísmo e de falta de amor ao próximo.

Contudo, apesar de o amor ser capaz de nos trazer cura e bálsamo, ninguém pode se iludir e pensar que não haverá momentos que lágrimas escorrerão pela face daquele que ama. Há momentos que este tão grande sentimento que enche nossos corações de afeto por outra pessoa chega a ser semelhante à dor, mas mesmo assim ainda é bom e aconselhável investimos nele, no verdadeiro amor. Ninguém é ou será feliz se não amar alguém. Este alguém pode ser nossos pais, nossos filhos, nossos amigos, Deus ou aquele alguém tão especial a nós.

É preciso saber que a vida perde a graça e o brilho se não sermos artistas na arte e no desafio diário do amor. É preciso acreditar que somos capazes de fazer alguém feliz e que, com isso, iremos também compor nossa felicidade, sem nos esquecer que jamais transmitiremos algo a alguém se antes isso não estiver debaixo de nossos domínios. Com isso, estou dizendo que o amor precisa ser entendido, compreendido e aceito dentro de cada um de nós, para, depois, conseguirmos cativar o outro e amar ao próximo.

É, ainda, tão necessário sabermos que assim como um motorista que vai com o carro em alta velocidade na contramão escuta buzinas advindas de outros veículos, alertando-o sobre os riscos que poderão levá-lo à morte, assim também é com aquele que busca atrair outras pessoas para perto de si sem antes ter aprendido a amar.

Aprender a amar é aprender a compartilhar bons e maus momentos. É não desistir de lutar, apesar de muitas dificuldades, ao lado de alguém. É olhar para o desmotivado e convencê-lo que ainda há esperança de uma vida melhor. É estar perto quando todos se afastam. É dizer não para o “eu” e sim para o “nós”. Quem verdadeiramente sabe amar sabe que o amor compartilha, reparte e não diminui quando divide.

Como nos versos de Pablo Neruda, há pessoas que, quando se dão conta, estão novamente sozinhas, ainda que em companhia de alguém. Percebem que tudo ao seu lado está exatamente como antes, mas elas próprias já não são mais as mesmas. Muitas estão desencantadas com a proposta do amor e se negaram a continuar na batalha. Ainda desejam ser felizes, mas se renderam às situações mal-resolvidas dentro de si e em relação ao outro. Querem viver um grande amor na família e em companhia dos amigos, mas ainda estão enganadas com as propagandas de um mundo falso e inexistente propostas pela mídia.

Quem estiver disposto a amar precisa entender que por mais que o amor exija dedicação e esforço entre os envolvidos, ainda assim compensa, pois diferente de tudo o que é simples e fácil de se viver e de se ter, o verdadeiro amor não conhece o pouco caso e o desdém, ele exige muito desvelo e força de vontade.

Difícil de se viver ou de se ter? É assim mesmo, pois não há graça e beleza naquilo que é fácil demais.

Na família entre nossos queridos, na escola entre nossos alunos, enfim, o que vale mesmo na vida é o amor.

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas
COMPARTILHE

DeliciusDelicius     DiggDigg     FacebookFacebook     GoogleGoogle     LinkedInLinkedIn     MySpaceMySpace     TwitterTwitter     Windows LiveWindows Live

AVALIE O ARTIGO





INDIQUE ESTE ARTIGO PARA UM AMIGO










0 COMENTÁRIOS
ENVIE SEU COMENTÁRIO

Preencha todos os dados abaixo e clique em Enviar comentário.



(seu e-mail não será divulgado)


Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.