Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br
Versos Tristes que Falam de Amor
Pablo Neruda - De Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada
Posso
escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: "A
noite está estrelada e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os
versos mais tristes esta noite. Eu a quis, e às vezes ela
também me quis...
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços. A beijei
tantas vezes debaixo o céu infinito. Ela me quis,
às vezes eu também a queria. Como não
ter amado os seus grandes olhos fixos?
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que
não a tenho. Sentir que a perdi. Ouvir a noite imensa, mais
imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está
comigo. Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao
longe. Minha alma não se contenta com tê-la
perdido.
Como para aproximá-la meu olhar a procura. Meu
coração a procura, e ela não
está comigo. A mesma noite que faz branquear as mesmas
árvores. Nós, os de então,
já não somos os mesmos
Já não a quero, é verdade, mas quanto
a quis. Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido. De outro.
Será de outro. Como antes dos meus beijos. Sua voz, seu
corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a quero, é verdade, mas talvez
a quero. É tão curto o amor, e é
tão longe o esquecimento. Porque em noites como esta eu a
tive entre os meus braços, minha alma não se
contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa, e estes
sejam os últimos versos que lhe escrevo. (Pablo Neruda)
Paixão leva à loucura, amor traz o
bálsamo para perto de nós e é capaz de
curar feridas causadas pelo desamor. É nobre a coragem de
dizer que ama e que por alguém é ou deseja ser
amado. Vemos diariamente muitas situações de
egoísmo e de falta de amor ao próximo.
Contudo, apesar de o amor ser capaz de nos trazer cura e
bálsamo, ninguém pode se iludir e pensar que
não haverá momentos que lágrimas
escorrerão pela face daquele que ama. Há momentos
que este tão grande sentimento que enche nossos
corações de afeto por outra pessoa chega a ser
semelhante à dor, mas mesmo assim ainda é bom e
aconselhável investimos nele, no verdadeiro amor.
Ninguém é ou será feliz se
não amar alguém. Este alguém pode ser
nossos pais, nossos filhos, nossos amigos, Deus ou aquele
alguém tão especial a nós.
É preciso saber que a vida perde a graça e o
brilho se não sermos artistas na arte e no desafio
diário do amor. É preciso acreditar que somos
capazes de fazer alguém feliz e que, com isso, iremos
também compor nossa felicidade, sem nos esquecer que jamais
transmitiremos algo a alguém se antes isso não
estiver debaixo de nossos domínios. Com isso, estou dizendo
que o amor precisa ser entendido, compreendido e aceito dentro de cada
um de nós, para, depois, conseguirmos cativar o outro e amar
ao próximo.
É, ainda, tão necessário sabermos que
assim como um motorista que vai com o carro em alta velocidade na
contramão escuta buzinas advindas de outros
veículos, alertando-o sobre os riscos que poderão
levá-lo à morte, assim também
é com aquele que busca atrair outras pessoas para perto de
si sem antes ter aprendido a amar.
Aprender a amar é aprender a compartilhar bons e maus
momentos. É não desistir de lutar, apesar de
muitas dificuldades, ao lado de alguém. É olhar
para o desmotivado e convencê-lo que ainda há
esperança de uma vida melhor. É estar perto
quando todos se afastam. É dizer não para o
“eu” e sim para o
“nós”. Quem verdadeiramente sabe amar
sabe que o amor compartilha, reparte e não diminui quando
divide.
Como nos versos de Pablo Neruda, há pessoas que, quando se
dão conta, estão novamente sozinhas, ainda que em
companhia de alguém. Percebem que tudo ao seu lado
está exatamente como antes, mas elas próprias
já não são mais as mesmas. Muitas
estão desencantadas com a proposta do amor e se negaram a
continuar na batalha. Ainda desejam ser felizes, mas se renderam
às situações mal-resolvidas dentro de
si e em relação ao outro. Querem viver um grande
amor na família e em companhia dos amigos, mas ainda
estão enganadas com as propagandas de um mundo falso e
inexistente propostas pela mídia.
Quem estiver disposto a amar precisa entender que por mais que o amor
exija dedicação e esforço entre os
envolvidos, ainda assim compensa, pois diferente de tudo o que
é simples e fácil de se viver e de se ter, o
verdadeiro amor não conhece o pouco caso e o
desdém, ele exige muito desvelo e força de
vontade.
Difícil de se viver ou de se ter? É assim mesmo,
pois não há graça e beleza naquilo que
é fácil demais.
Na família entre nossos queridos, na escola entre nossos
alunos, enfim, o que vale mesmo na vida é o amor.