Inglês Inclusivo - 15/12/2009
Relato sobre a ação inclusiva de um professor de inglês
Hoje em
dia, a Educação Inclusiva tem sido considerada um
dos maiores desafios do sistema
educacional brasileiro. A cada dia que passa, o ensino inclusivo vem
conquistando o seu merecido espaço e respeito em todo o
território nacional.
No entanto, por volta de 10 anos atrás – quando
comecei a dar aulas de inglês – ainda
não havia tido contato com tal assunto e nem pensava em
fazer faculdade na área de Letras (era apenas um aluno de um
curso técnico em Processamento de Dados, que pretendia fazer
faculdade de Engenharia da Computação e que dava
aulas de inglês por gostar muito da língua).
Nessa época, apesar da inexperiência como
professor e de não conhecer nada a respeito da
Educação Inclusiva, tive meu primeiro contato
prático com o assunto quando passei a ter a
presença do aluno Diego na minha sala de aula. Lembro
perfeitamente dessa primeira aula, com toda a turma nervosa por estar
iniciando o primeiro módulo de um curso de inglês,
e eu com o típico frio na barriga de mais um
início de semestre.
Quando o Diego entrou na sala, a turma (que tinha, em média,
13 anos de idade) ficou em silêncio olhando de forma um tanto
quanto assustada para ele, que caminhava de forma
“diferente” e tinha dificuldades para falar e lidar
com sua coordenação motora. Ele havia tido
paralisia cerebral logo após o nascimento.
Essa reação dos alunos se repetiu por mais
algumas semanas e, paralelamente, ouviam-se comentários pela
escola como:
“Não sei o porquê de a mãe colocar um aluno assim para estudar inglês. Ele está perdendo o tempo dele aqui. É óbvio que ele não vai ter um bom rendimento nas aulas”.
Infelizmente,
tais comentários eram ditos pela maior parte das vezes por
professores, que eram as pessoas que mais deveriam
incentivá-lo nesse novo desafio de sua vida.
Para a minha sorte, a mãe do Diego (uma senhora muito
cativante) era coordenadora de uma respeitada escola particular da
cidade e possuía experiência na área do
ensino inclusivo.
Percebendo a minha dificuldade em trabalhar com seu filho, ela se ofereceu para me dar algumas dicas sobre como lidar com esse tipo de aluno e/ou pessoa.
Seu
principal comentário foi: “Não trate
meu filho como uma pessoa problemática ou diferente.
Não tenha dó dele. Trate-o da mesma forma em que
você trata os outros, respeitando seu limites”.
Após essa nossa conversa e minha mudança de
atitude, não demorou muito para perceber o crescimento do
Diego nas aulas e, também, o seu entrosamento com os outros
alunos.
Ele deixou de ser o aluno diferente da turma, passando a ser o mais
divertido, engraçado e querido do grupo. Devido ao sucesso
dessa parceria, passei a ser seu professor também nos
semestres posteriores, após uma
solicitação da sua mãe à
coordenação da escola.
Minha maior satisfação, porém, veio recentemente – sete anos depois de ter parado de dar aulas ao Diego. Dirigindo por uma avenida da cidade, parei o carro em um semáforo e, ao longe, ouvi alguém gritar meu nome.
Quando desliguei o rádio do carro e olhei para o lado, vi o Diego acenando de longe e dizendo que sentia saudades dos tempos em que teve aulas comigo.
Essa sua atitude de gritar meu nome no meio da rua e dizer que tinha saudades das nossas aulas foi algo que me trouxe à memória ótimas lembranças daquele tempo.
Hoje, com o pouco conhecimento que tenho sobre Educação Inclusiva, vi que naquela época felizmente acabei tomando a atitude certa (graças, principalmente, à mãe do Diego) e o resultado do nosso trabalho foi um sucesso.
1 Ana Cristina Sérgio - Taboão da Serra
Você tem razão, Rômulo. Para nós, professores, o carinho e a satisfação estampados no rosto e nas atitudes dos nossos alunos, não tem preço. Parabéns pelo artigo que, mesmo sendo um relato pessoal, retrata o que pode acontecer com qualquer um de nós e nos serve como exemplo.
26/02/2010 15:07:02
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