Planeta Educação

Aprender com as Diferenças

Rômulo de Andrade Faria Tradutor e revisor técnico, foi consultor de línguas do programa Línguas Estrangeiras do Planeta Educação. Graduado em Letras – Português/Inglês – pela Universidade Braz Cubas, de Mogi das Cruzes – SP. Possui mais de 10 anos de experiência como professor de Inglês. Articulista das colunas de Ensino de Línguas, Cinema na Escola e Educação Inclusiva.

Inglês Inclusivo
Relato sobre a ação inclusiva de um professor de inglês

Hoje em dia, a Educação Inclusiva tem sido considerada um dos maiores desafios do sistema educacional brasileiro. A cada dia que passa, o ensino inclusivo vem conquistando o seu merecido espaço e respeito em todo o território nacional.

No entanto, por volta de 10 anos atrás – quando comecei a dar aulas de inglês – ainda não havia tido contato com tal assunto e nem pensava em fazer faculdade na área de Letras (era apenas um aluno de um curso técnico em Processamento de Dados, que pretendia fazer faculdade de Engenharia da Computação e que dava aulas de inglês por gostar muito da língua).

Nessa época, apesar da inexperiência como professor e de não conhecer nada a respeito da Educação Inclusiva, tive meu primeiro contato prático com o assunto quando passei a ter a presença do aluno Diego na minha sala de aula. Lembro perfeitamente dessa primeira aula, com toda a turma nervosa por estar iniciando o primeiro módulo de um curso de inglês, e eu com o típico frio na barriga de mais um início de semestre. 


Quando o Diego entrou na sala, a turma (que tinha, em média, 13 anos de idade) ficou em silêncio olhando de forma um tanto quanto assustada para ele, que caminhava de forma “diferente” e tinha dificuldades para falar e lidar com sua coordenação motora. Ele havia tido paralisia cerebral logo após o nascimento.

Essa reação dos alunos se repetiu por mais algumas semanas e, paralelamente, ouviam-se comentários pela escola como: 

“Não sei o porquê de a mãe colocar um aluno assim para estudar inglês. Ele está perdendo o tempo dele aqui. É óbvio que ele não vai ter um bom rendimento nas aulas”. 

Infelizmente, tais comentários eram ditos pela maior parte das vezes por professores, que eram as pessoas que mais deveriam incentivá-lo nesse novo desafio de sua vida.

Para a minha sorte, a mãe do Diego (uma senhora muito cativante) era coordenadora de uma respeitada escola particular da cidade e possuía experiência na área do ensino inclusivo. 

Percebendo a minha dificuldade em trabalhar com seu filho, ela se ofereceu para me dar algumas dicas sobre como lidar com esse tipo de aluno e/ou pessoa. 

Seu principal comentário foi: “Não trate meu filho como uma pessoa problemática ou diferente. Não tenha dó dele. Trate-o da mesma forma em que você trata os outros, respeitando seu limites”.

Após essa nossa conversa e minha mudança de atitude, não demorou muito para perceber o crescimento do Diego nas aulas e, também, o seu entrosamento com os outros alunos. 


Ele deixou de ser o aluno diferente da turma, passando a ser o mais divertido, engraçado e querido do grupo. Devido ao sucesso dessa parceria, passei a ser seu professor também nos semestres posteriores, após uma solicitação da sua mãe à coordenação da escola.

Minha maior satisfação, porém, veio recentemente – sete anos depois de ter parado de dar aulas ao Diego. Dirigindo por uma avenida da cidade, parei o carro em um semáforo e, ao longe, ouvi alguém gritar meu nome. 

Quando desliguei o rádio do carro e olhei para o lado, vi o Diego acenando de longe e dizendo que sentia saudades dos tempos em que teve aulas comigo.

Essa sua atitude de gritar meu nome no meio da rua e dizer que tinha saudades das nossas aulas foi algo que me trouxe à memória ótimas lembranças daquele tempo. 

Hoje, com o pouco conhecimento que tenho sobre Educação Inclusiva, vi que naquela época felizmente acabei tomando a atitude certa (graças, principalmente, à mãe do Diego) e o resultado do nosso trabalho foi um sucesso.

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