Aprender com as Diferenças
 

Reflexão sobre o estudo do Promotor no caso de pedido de aborto de Anencéfalo - 21/08/2009
Patrícia Karst Caminha

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É precioso refletir profundamente sobre os aspectos da vida humana e ter muito cuidado em julgamentos: não se deve ficar na superficialidade de temas tão caros a toda vida.

A vida segue e nela vamos depurando, melhorando o nosso viver, as nossas relações.

Relações com as coisas, mas muito, muito mais com nossos companheiros de viver.

Pelo menos é o que poderia/deveria ser. Inclusive por direito. Depurar relações e objetos necessários ao nosso viver, mas não "raças".

Ainda é preciso aprender a conviver com quem é considerado diferente (o que varia muito de acordo com o ponto de vista) nas ruas, nas escolas, nos transportes, nos cinemas, nos fóruns...

Estamos por entrar num novo ano e estamos em início de caminho...

Como na questão de inclusão em que, por exemplo, algumas instituições posam de vítimas sendo que outras já entenderam sua grande contribuição e passam a oferecer o suporte adequado - ensino escolar é responsabilidade da escola.

Permito-me achar graça: ensino escolar é na escola, transporte inclusivo é responsabilidade de secretarias/departamentos de transportes, tratamento médico em ambientes próprios da saúde e de acordo com a especificidade, melhoria em ambiente/condições de trabalho e salário discutidos com companheiros em sindicato e/ou foro privilegiado e direto com o chefe...

Acho graça porque, ainda, quando se fala em Inclusão da pessoa com deficiência na escola comum de ensino, querem discutir tudo isso no mesmo momento.

Em vários exemplos, em nome do "avanço", querem concentrar tudo (transporte, saúde, ensino) em departamentos "especiais" com a desculpa de que fica mais fácil...

De que o atendimento será melhor... Mais fácil é toda a sociedade se adequar, é fácil sim, porque a gente vê coisas sendo feitas, que têm um custo e que poderiam ser feitas de outra maneira, com os mesmos custos e esforços. Mas não, esperam alguém reclamar. Aí se fala que as pessoas só reclamam.

É cada um aprender de que o "normal" é termos, por exemplo, guias das calçadas rebaixadas não porque mandaram que fosse assim ou porque é centro de cidade, ou porque é frente de hospital etc., mas porque a cidade toda é de cidadãos que podem ser idosos, gestantes, crianças, pessoas que se locomovem com cadeiras de rodas temporariamente ou permanentemente.

Pessoas praticam a eugenia sim, diariamente, em atitudes e pensamentos, conscientemente ou não - não interessa, praticam. E quando leem o que quer dizer ficam horrorizadas.

Gosto muito quando vejo pessoas, principalmente do meio jurídico, se posicionando com tanta propriedade, com estudo, sem distorções.

Melhor, identificando-as. Vou amar quando observar uma sociedade que acolhe não porque vai sair bonito na foto, mas porque é direito, porque é assim, porque é simplesmente.

Estou morando temporariamente numa cidade da Austrália.

Aqui o café é caro não pra chuchu, porque ainda não vi chuchu aqui pra comprar e se tivesse também seria caro, ainda não encontrei feijão in natura, não tem feijoada, pra comer peixe com cerveja na praia só levando a cerveja, a direção do carro e a mão das ruas são do outro lado, as pessoas são bastante receptivas, mas também tem muita gente sem paciência...

Mas a questão de acessibilidade me deixa com lágrimas nos olhos.

Como já andei em quase toda a cidade, inclusive periferia posso afirmar que todas as esquinas têm guias rebaixadas, todos os faróis são sonoros, todas as estações de trem têm botão para avisos falados, todo o transporte público tem vários acentos e facilidade para entrar, todo edifício tem rampa.

A gente vê frequentemente pessoas como se diz, com paralisia cerebral, em cadeiras de rodas motorizadas em lojas, no shopping, na praia. A praia!

Na praia tem piscina com rampa, mas uma rampa muito ampla, bem feita, não um pré-projeto... Bom, pelo menos eu não tinha visto ainda...

Não afirmo que é perfeito, não somente porque não existe perfeição, mas também porque a gente encontra gente mal-educada, problemas políticos, direitos sendo defendidos... Muita gente boa, como em qualquer país se encontra.

Patrícia Karst Caminha é Professora.

Fonte: http://br.groups.yahoo.com/group/novidadesdodia/message/1473

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