Apagão Educacional - 08/06/2009
O futuro do Brasil depende de uma Educação de Qualidade
“Ainda muito há a aprender”... Este é o título da matéria publicada pela prestigiosa revista inglesa The Economist, no último dia 04 de junho a respeito da educação brasileira. É, o assunto é tão sério e preocupante que já atravessou o Atlântico, o Pacífico, o Índico... E a questão é debatida aqui e também acolá porque vivemos uma realidade globalizada, caracterizada pela conexão e proximidade dos interesses gerais de todos os países. Crise ou prosperidade estão relacionadas à saúde e vitalidade (ou a ausência delas) de todos os países que, interconectados como estão, movimentam a economia mundial.
Atualmente o Brasil, juntamente à Índia, à China e à Rússia constitui o esteio que sustenta os negócios mundiais. É justamente a robustez de suas economias que tem permitido a reconstrução dos Estados Unidos e de ricas nações europeias (como a Inglaterra, a Alemanha, a Espanha, a Itália, a França...) após o baque sensível sofrido ao longo dos últimos meses.
O impacto mundial a partir da crise imobiliária que abateu os Estados Unidos se espalhou rapidamente por outros segmentos da economia daquele país até atingir todo o mundo. No entanto, o controle orçamentário, as políticas cambiais, os juros altos, a expansão do poder de compra do mercado interno, a ampliação de oportunidades de trabalho e as políticas sociais adotadas pelos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) têm permitido uma recuperação mais rápida do que a princípio se imaginava.
As perspectivas para estas nações são, portanto, bastante promissoras se analisarmos a importância e o destaque que passaram a ter no cenário financeiro e econômico mundial recente. Quem poderia imaginar, por exemplo, que empresas como a General Motors dependessem de forma tão desesperadora de filiais como a brasileira para se manter de pé? Ou ainda que conglomerados nacionais, mencionando os caso da Mineradora Vale do Rio Doce ou da Ambev apenas para exemplificar, se tornariam expoentes mundiais e colocassem o Brasil em evidência em disputados segmentos de produção econômica?
No entanto, como bem lembra a matéria da The Economist acerca da educação brasileira, há gargalos que podem, muito bem, travar o avanço econômico e social de nosso país. E, entre eles, certamente a questão educacional está em primeiro lugar. Sofremos o sério risco de um apagão econômico porque já vivemos, neste exato momento, um apagão educacional.
Escolas internacionalmente identificadas a partir de exames mundiais (caso do PISA) como estando entre as piores em matemática, ciências e também leitura e escrita, com índices de aproveitamento equivalentes ao de nações africanas, asiáticas ou latino-americanas que não têm metade do potencial do Brasil ou ainda que, em alguns casos, vivem guerras civis e intensas disputas pelo poder... Este é um dos retratos do caos instalado em nossas escolas e destacado pela publicação inglesa...
Escolas em que os índices de faltas de professores podem atingir até mesmo exorbitantes 30% em alguns dias e que, em média, representam menos 13% de aulas ao longo de todo o ano escolar para estas redes públicas de ensino. Parem para pensar no que isto representa... Se tivermos 200 dias letivos de aulas, este índice de ausências dos professores representa um mês inteiro sem atividades para nossos alunos nas escolas públicas estaduais e também em algumas redes municipais... E só estamos falando de médias... Há situações ainda piores...
Vinte e seis dias de ausências dos professores, em média, significam não apenas horas de trabalho educacional jogadas fora... Representam também descontinuidade nos estudos, ou seja, os alunos perdem o ritmo, o raciocínio engendrado em aulas anteriores, a disposição, o interesse e até mesmo a compreensão do real significado da escola para suas vidas...
Todo mundo sabe que é importante concluir as etapas da educação, mas hoje, no Brasil, isto não ocorre em virtude da compreensão dos benefícios reais provenientes do processo de ensino-aprendizagem. O valor atribuído a esta circunstância da vida dos estudantes (a conclusão das etapas de vida educacional: ensino fundamental, ensino médio, cursos técnicos ou universidade) está atrelado à necessidade de ter diplomas e históricos escolares para ser percebido e ter alguma chance no mercado de trabalho...
A escola como local em que ocorre a formação que permite a compreensão geral do mundo ao nosso redor, a aquisição de saberes a partir de prerrogativas científicas (superando o senso comum), a politização dos indivíduos, a integração social cidadã das pessoas, o despertar do interesse pelas artes, o conhecimento de diferentes culturas e linguagens, o acesso à filosofia e à ética... Esta escola no Brasil, ainda que vários professores da rede pública atuem como verdadeiros Quixotes em luta com moinhos de vento, está muito distante de existir...
The Economist destaca ainda questões importantes que temos trazido a tona desde o surgimento deste Editorial no Planeta Educação, como a deficiente formação dos professores, os elevados índices de reprovação nas escolas públicas brasileiras e ainda a constante ingerência dos sindicatos de professores na luta pelos direitos de seus representados. A ação dos sindicatos não é reprovável desde que esta batalha não fira a maior de todas as prerrogativas dos educadores, ou seja, a de assegurar educação de qualidade para os estudantes do país.
No entanto, a atuação dos sindicatos, pautada em legislação superada e antiquada (que prevê, entre outras coisas, ausências bonificadas, estabilidade no emprego ainda que os serviços prestados sejam de qualidade duvidosa - o que pode ser comprovado não apenas pelos exames internacionais, mas também pelos nacionais, como o IDEB, por exemplo), apregoa a não aplicação de exames que mensurem o preparo destes profissionais, cria barreiras à utilização de novas técnicas e materiais didáticos ou ainda se manifesta contrária a cursos de atualização dos profissionais da educação, e acaba colocando em último plano o mais importante, ou seja, a formação do aluno...
É certo que avanços têm ocorrido em virtude de políticas públicas para a área da educação que preconizam, propõe e tentam realizar mudanças importantes implementadas em outras nações ou mesmo em algumas regiões ou escolas do próprio Brasil. Os sistemas de avaliação das redes e escolas nacionais estão promovendo uma varredura na educação brasileira ao permitir que sejam criados referenciais e dados para análise, comparação e compreensão da realidade das salas de aula no país. Políticas sociais de incentivo à matrícula e permanência nas escolas também. Salários base para a categoria e bonificações constituem, igualmente, esforço significativo, se bem que ainda insuficiente, para melhorar a condição da categoria. São ações importantes que, inclusive, também entram na pauta da reportagem da revista The Economist.
Também é certo que não há mais tempo a perder se o país pretende ficar preparado para estar na vanguarda social, política e econômica nos próximos anos e décadas. Neste sentido é de vital importância realizar aquilo que tem sido apregoado e que se tornou bandeira de luta permanente do ex-ministro e atual senador, Christovam Buarque, ou seja, uma Revolução na Educação Brasileira.
Esta é minha esperança... Mas pelo andar da carruagem e por tudo que tenho visto e vivido, está muito longe de acontecer... Espero morder minha língua quanto a estas palavras com que termino o presente Editorial e que verdadeiro milagre venha a ocorrer na educação nacional... Caso contrário, os ventos positivos que sopram ao nosso favor nos dias de hoje e que devem continuar ainda por algum tempo irão virar contra...
1 Maria Cristina Galli Nacli - Macatuba sp
Parabéns Prof José Luis pelo excelente artigo. Realmente o país passa por um declínio, seja na política ou na educacação. O que vemos em quase todos os setores é alarmante. As escolas não são mais as mesmas, o aluno as frequenta sem interesse e vontade de progredir, e para o professor tornase difícil suscitar interesse. Devemos acreditar que nem tudo esta perdido e que ainda resta algumas pessoas que poderão decidir o futuro da Nacão, com consciência e dignidade.
14/06/2009 15:56:53
2 Lucas Augusto Monteiro de Castro - PirangaMG
Não é de hoje que países do 3º mundo fornecem recursos para sustentação e estabilidade dos países desenvolvidos. Este movimento nos remete ao Brasil colônia, quando as riquezas eram sugadas por via do pacto colonial. Desde então, o Brasil conta com um sistema educacional que é o sustentáculo da extorsão e aglutinação das riquezas. O resultado do caos na educação brasileira é fruto da concentração histórica na distribuição da renda nacional. Vivemos a era do salvese quem puder e da guerra civil urbana, com seus contornos típicos e sua carnificina anual superior em muito o processo civil iraquiano. Quem tem algum recurso, procura matricular os filhos em escolas que preparam melhor para as diferentes áreas do mundo do trabalho. Como a maioria destas escolas é cara e requer investimento por parte das famílias, temos a elite se perpetuando e a renda se concentrando. Para quem tem alguma dúvida, basta dar uma olhada no índice GINI e ver a posição brasileira com relação ao cenário internacional no que diz respeito à concentração de riquezas. O Brasil ainda se coloca perante ao mundo como fornecedor da força de trabalho barata e da matéria prima de baixo custo, importando tecnologia e capital do conhecimento. Durante nossa história, o capital intelectual não recebeu e não recebe o devido apoio para que o país desenvolva sua matriz estrutural de produção. O que falta ao Brasil é investir pesado na estrutura educacional. Costumo acompanhar o discurso do Senador Cristovam Buarque. Em seu léxico, o nobre professor mostra a importância da formação continuada na docência, mas jamais aponta os professores ou sindicatos como responsáveis pelo caos no sistema público de ensino no país. Sua argumentação principal direcionase para a política de controle orçamentária neoliberal, não permitindo as inversões de capital financeiro para produzir o capital do conhecimento. Não me espanto que um orgão como o The Economist aponte sua metralhadora para os professores e sindicatos. Será que seu editorial se preocupou em mensurar os cortes lineares nas verbas estruturais para as secretarias de educação durante a era FHC e na era Lula? Volto a lembrar neste breve desabafo: o principal objetivo do gestor público em educação no Brasil de hoje é minimizar o custo por aluno. A maioria dos professores que busca uma formação continuada conta apenas com recursos do próprio bolso. Em Minas Gerais, por exemplo, contamos com cerca de 4 mil escolas na rede estadual. O sindicato dos professores é inócuo e inoperante, pois não tem atuação e nem representatividade na grande maioria das escolas, principalmente do interior. A estabilidade profissional, assim como os demais direitos sociais da categoria, representam prerrogativas da Constituição Federal para os aprovados em concurso público. O concurso público é objeto lícito de defesa de qualquer categoria e sindicato de servidores. Não se alcança o desenvolvimento das forças produtivas de uma nação cortando os direitos sociais. Recentemente o governo de Minas, através da Lei 100, promoveu a efetivação de mais de 40 mil professores sem concurso público. Uma verdadeira afronta contitucional! Além do objetivo eleitoral, a redução no custo da folha de pagamento é grande. A maioria destes professores já leciona há anos e é incapaz de alcançar índice mínimo para aprovação em concurso público nas suas respectivas disciplinas. Um dos principais argumentos do governo de Minas foi o grande rodízio de professores que havia nas escolas. Com a Lei 100 e a efetivação, o vínculo do professor com a escola estaria garantido. Estes professores efetivados por Lei formam uma espécie híbrida de trabalhadores em educação, impedindo a realização de qualquer concurso público no Estado. Tal fato impede que professores mais bem preparados tenham acesso aos postos de educação. Para estes funcionários e para a grande maioria dos professores concursados e preparados, além do salário base de fome, restam: a falta do piso salarial nacional básico, poucos direitos sociais, carência de amparo para formação continuada, ausência de assistência médica adequada e, para finalizar, o não cumprimento do plano de carreira. Isto tudo sem contar o processo de nucleação ou fusão de escolas, superlotação de turmas e falta quase total de recursos materiais. Esta é a verdadeira causa do rodízio e do abandono. Não estamos longe da falta de professores no Brasil. É de conhecimento público a ausência de interesse dos jovens em seguir a carreira do magistério! Qual será a causa? Convido ao Prof. João Luís para visitar a porta das escolas públicas do município que resido, onde será constatado os editais de convocação solicitando professores para vagas aparentes. Com a escassez de professores, quero ver quem o The Economist vai responsabilizar. Vamos apontar soluções e não culpados!!! Um abraço.
11/06/2009 18:40:45
3 Elian Bantim - Coelho NetoMA
Prof. João Luís,
É com muito pesar que concordo com o último parágrafo deste editorial.
Não quero, neste breve comentário, remar contra os bons ventos que podem soprar a favor da educação, mas é necessário ressaltar que a educação brasileira está num estado caótico. Muito me entristece. Apesar de tudo devemos pensar positivamente, como bem diz o provérbio: a esperança é a última que morre. Vamos torcer para encontrarmos uma luz no fim do túnel e assim vislumbrarmos novos rumos para a educação brasileira. Parabéns pelo artigo.
08/06/2009 22:50:10
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