Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Apagão Educacional
O futuro do Brasil depende de uma Educação de Qualidade

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“Ainda muito há a aprender”... Este é o título da matéria publicada pela prestigiosa revista inglesa The Economist, no último dia 04 de junho a respeito da educação brasileira. É, o assunto é tão sério e preocupante que já atravessou o Atlântico, o Pacífico, o Índico... E a questão é debatida aqui e também acolá porque vivemos uma realidade globalizada, caracterizada pela conexão e proximidade dos interesses gerais de todos os países. Crise ou prosperidade estão relacionadas à saúde e vitalidade (ou a ausência delas) de todos os países que, interconectados como estão, movimentam a economia mundial.

Atualmente o Brasil, juntamente à Índia, à China e à Rússia constitui o esteio que sustenta os negócios mundiais. É justamente a robustez de suas economias que tem permitido a reconstrução dos Estados Unidos e de ricas nações europeias (como a Inglaterra, a Alemanha, a Espanha, a Itália, a França...) após o baque sensível sofrido ao longo dos últimos meses.

O impacto mundial a partir da crise imobiliária que abateu os Estados Unidos se espalhou rapidamente por outros segmentos da economia daquele país até atingir todo o mundo. No entanto, o controle orçamentário, as políticas cambiais, os juros altos, a expansão do poder de compra do mercado interno, a ampliação de oportunidades de trabalho e as políticas sociais adotadas pelos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) têm permitido uma recuperação mais rápida do que a princípio se imaginava.

As perspectivas para estas nações são, portanto, bastante promissoras se analisarmos a importância e o destaque que passaram a ter no cenário financeiro e econômico mundial recente. Quem poderia imaginar, por exemplo, que empresas como a General Motors dependessem de forma tão desesperadora de filiais como a brasileira para se manter de pé? Ou ainda que conglomerados nacionais, mencionando os caso da Mineradora Vale do Rio Doce ou da Ambev apenas para exemplificar, se tornariam expoentes mundiais e colocassem o Brasil em evidência em disputados segmentos de produção econômica?

No entanto, como bem lembra a matéria da The Economist acerca da educação brasileira, há gargalos que podem, muito bem, travar o avanço econômico e social de nosso país. E, entre eles, certamente a questão educacional está em primeiro lugar. Sofremos o sério risco de um apagão econômico porque já vivemos, neste exato momento, um apagão educacional.

Escolas internacionalmente identificadas a partir de exames mundiais (caso do PISA) como estando entre as piores em matemática, ciências e também leitura e escrita, com índices de aproveitamento equivalentes ao de nações africanas, asiáticas ou latino-americanas que não têm metade do potencial do Brasil ou ainda que, em alguns casos, vivem guerras civis e intensas disputas pelo poder... Este é um dos retratos do caos instalado em nossas escolas e destacado pela publicação inglesa...

Escolas em que os índices de faltas de professores podem atingir até mesmo exorbitantes 30% em alguns dias e que, em média, representam menos 13% de aulas ao longo de todo o ano escolar para estas redes públicas de ensino. Parem para pensar no que isto representa... Se tivermos 200 dias letivos de aulas, este índice de ausências dos professores representa um mês inteiro sem atividades para nossos alunos nas escolas públicas estaduais e também em algumas redes municipais... E só estamos falando de médias... Há situações ainda piores...

Vinte e seis dias de ausências dos professores, em média, significam não apenas horas de trabalho educacional jogadas fora... Representam também descontinuidade nos estudos, ou seja, os alunos perdem o ritmo, o raciocínio engendrado em aulas anteriores, a disposição, o interesse e até mesmo a compreensão do real significado da escola para suas vidas...

Todo mundo sabe que é importante concluir as etapas da educação, mas hoje, no Brasil, isto não ocorre em virtude da compreensão dos benefícios reais provenientes do processo de ensino-aprendizagem. O valor atribuído a esta circunstância da vida dos estudantes (a conclusão das etapas de vida educacional: ensino fundamental, ensino médio, cursos técnicos ou universidade) está atrelado à necessidade de ter diplomas e históricos escolares para ser percebido e ter alguma chance no mercado de trabalho...

A escola como local em que ocorre a formação que permite a compreensão geral do mundo ao nosso redor, a aquisição de saberes a partir de prerrogativas científicas (superando o senso comum), a politização dos indivíduos, a integração social cidadã das pessoas, o despertar do interesse pelas artes, o conhecimento de diferentes culturas e linguagens, o acesso à filosofia e à ética... Esta escola no Brasil, ainda que vários professores da rede pública atuem como verdadeiros Quixotes em luta com moinhos de vento, está muito distante de existir...

The Economist destaca ainda questões importantes que temos trazido a tona desde o surgimento deste Editorial no Planeta Educação, como a deficiente formação dos professores, os elevados índices de reprovação nas escolas públicas brasileiras e ainda a constante ingerência dos sindicatos de professores na luta pelos direitos de seus representados. A ação dos sindicatos não é reprovável desde que esta batalha não fira a maior de todas as prerrogativas dos educadores, ou seja, a de assegurar educação de qualidade para os estudantes do país.

No entanto, a atuação dos sindicatos, pautada em legislação superada e antiquada (que prevê, entre outras coisas, ausências bonificadas, estabilidade no emprego ainda que os serviços prestados sejam de qualidade duvidosa - o que pode ser comprovado não apenas pelos exames internacionais, mas também pelos nacionais, como o IDEB, por exemplo), apregoa a não aplicação de exames que mensurem o preparo destes profissionais, cria barreiras à utilização de novas técnicas e materiais didáticos ou ainda se manifesta contrária a cursos de atualização dos profissionais da educação, e acaba colocando em último plano o mais importante, ou seja, a formação do aluno...

É certo que avanços têm ocorrido em virtude de políticas públicas para a área da educação que preconizam, propõe e tentam realizar mudanças importantes implementadas em outras nações ou mesmo em algumas regiões ou escolas do próprio Brasil. Os sistemas de avaliação das redes e escolas nacionais estão promovendo uma varredura na educação brasileira ao permitir que sejam criados referenciais e dados para análise, comparação e compreensão da realidade das salas de aula no país. Políticas sociais de incentivo à matrícula e permanência nas escolas também. Salários base para a categoria e bonificações constituem, igualmente, esforço significativo, se bem que ainda insuficiente, para melhorar a condição da categoria. São ações importantes que, inclusive, também entram na pauta da reportagem da revista The Economist.

Também é certo que não há mais tempo a perder se o país pretende ficar preparado para estar na vanguarda social, política e econômica nos próximos anos e décadas. Neste sentido é de vital importância realizar aquilo que tem sido apregoado e que se tornou bandeira de luta permanente do ex-ministro e atual senador, Christovam Buarque, ou seja, uma Revolução na Educação Brasileira.

Esta é minha esperança... Mas pelo andar da carruagem e por tudo que tenho visto e vivido, está muito longe de acontecer... Espero morder minha língua quanto a estas palavras com que termino o presente Editorial e que verdadeiro milagre venha a ocorrer na educação nacional... Caso contrário, os ventos positivos que sopram ao nosso favor nos dias de hoje e que devem continuar ainda por algum tempo irão virar contra...

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